Diário do Alentejo

Banco Alimentar Contra a Fome de Beja em risco de fechar portas em dezembro

25 de outubro 2024 - 09:30
Estrutura de apoio precisa de novas instalações, após não renovação de contrato de arrendamento Foto| Ricardo Zambujo

Se até ao final do ano o Banco Alimentar Contra a Fome de Beja não encontrar novas instalações será obrigado a fechar portas. A solução poderá passar pela aquisição de um armazém na cidade, mas, para isso, terão de contar com o apoio dos municípios. Anualmente, o banco alimentar distribui pelos concelhos da área Cimbal 140 mil euros em alimentos.

 

Texto | Nélia PedrosaFoto | Ricardo Zambujo

O Banco Alimentar Contra a Fome de Beja está em risco de fechar portas no final do mês de dezembro caso não encontre novas instalações. José Tadeu Freitas, presidente da Associação Recolher e Dar, que acolhe a marca Banco Alimentar Contra a Fome na região, adianta ao “Diário do Alentejo” que o contrato de arrendamento do armazém onde estão instalados, na cidade de Beja, não vai ser renovado no final do ano, porque, segundo informação do proprietário, “o espaço foi vendido a outra entidade”.

O responsável sublinha que “há uns cinco anos” alertou a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), “numa reunião com os presidentes de câmara”, que “o Banco Alimentar de Beja era o único no País que não tinha instalações próprias, que estava num armazém arrendado e que o dono tinha interesse em vender”.

Mais recentemente, no início deste ano, quando foram informados da venda do imóvel, voltaram a contactar a Cimbal, por email, “dando conhecimento a todos os presidentes”.

“Na reunião [há uns cinco anos, na Cimbal] foi-nos dito que iam avaliar [a situação]… e até agora nada. No início do ano, quando recebemos a carta do senhorio, enviámos dois emails para a Cimbal, demonstrando a nossa preocupação e pedindo uma reunião, mas não obtivemos resposta”, reforça.

Tadeu Freitas frisa que foram contactados, unicamente, “pela vereadora da Câmara de Moura, que se mostrou preocupada e que se disponibilizou para ser uma voz ativa na Cimbal a favor do banco alimentar”. Entretanto, no fim de semana passado, no decorrer do 15.º encontro de bancos alimentares contra a fome, que teve lugar em Beja, também o presidente da câmara municipal, Paulo Arsénio, no seu discurso de abertura, “referiu que a Câmara de Beja estava disponível para apoiar, até numa percentagem superior aos outros municípios, tendo em conta que é o concelho com mais habitantes”.

O responsável pelo Banco Alimentar adianta que irão agora reforçar, junto da Cimbal, a necessidade de se encontrar urgentemente uma solução, apresentando “uma proposta concreta”: a aquisição “de um armazém que está à venda”, próximo das instalações atuais.

“O presidente da câmara de Beja [no fim de semana passado] falou inclusivamente nesse armazém, que já tínhamos em mente, e que representa um investimento de cerca de 300 mil euros. Mas, tendo em atenção que nós, anualmente, damos aos concelhos da área Cimbal 140 mil euros em alimentos, este é um investimento ridículo, tendo em conta esse retorno”, considera, frisando que, caso não se encontre uma solução até ao final do ano, “cerca de 2500 pessoas que são apoiadas mensalmente com cabaz alimentar pelo banco alimentar ficarão sem esse apoio” e o problema “passará para as autarquias”.

“No fundo, são as autarquias o principal interessado em que isto não aconteça, porque as competências na área da ação social foram transferidas para as autarquias, já não são competências da Segurança Social, terão de ser elas depois a apoiar essas pessoas, por isso parece-me estranho que existam autarquias que não nos digam nada”.

Tadeu Freitas salienta, contudo, que não é obrigatório que as futuras instalações se situem em Beja, apesar “de ser mais central”. “Para todos [os concelhos da área Cimbal] seria o ideal. As instituições beneficiárias têm de se descolar [ao armazém] e só em Beja temos 12 das 34.

Praticamente um terço das instituições está em Beja”. E conclui: “O banco alimentar de Beja não tem possibilidade de adquirir um espaço, porque não temos dinheiro. Não temos valências que dêem dinheiro como outras instituições. Nós só damos comida, não fazemos mais nada. Se não houver uma solução, no dia 31 de dezembro será o fim”.

De acordo com dados do Banco Alimentar Contra a Fome de Beja, em 2023 “foi possível apoiar mensalmente, na área da Cimbal, 3350 pessoas em alimentos através das instituições beneficiárias”, acrescendo a este número “aquelas que beneficiam pontualmente de alimentos frescos que se encontram nas instituições”. A estrutura conta, atualmente, com perto de duas dezenas de voluntários “fixos”, que “ajudam a fazer os cabazes” mensais.

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