Diário do Alentejo

“Fialho de Almeida não ocupa, ainda, o lugar que merece”

05 de outubro 2024 - 08:00
A necessidade de se colocar a sua obra, “injustamente esquecida, no mapa da atualidade”
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Odete Jubilado

Professora associada de literatura comparada no departamento de Linguística e Literaturas da Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora. É mestre em Literatura Comparada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Évora, onde leciona desde 1992. É diretora do doutoramento em Literatura desde 2022. Tem lecionado, investigado e publicado na área científica e disciplinar da literatura comparada.

 

Da autoria de Odete Jubilado e Sandra Braz foi recentemente publicado o livro Fialho de Almeida e a Literatura Comparada/ /Leituras Cruzadas, obra resultante de uma parceria com a Universidade de Évora e a Associação Portuguesa de Literatura Comparada e apoiada financeiramente pela Câmara Municipal de Cuba.

Texto | José Serrano

O que nos desvenda, fundamentalmente, esta obra?Neste livro, o leitor poderá encontrar um leque de leituras cruzadas sobre Fialho de Almeida que privilegiam a vertente comparatista na sua amplitude, materializando-se num volume organizado em três secções: “Testemunhos”, “Ensaios” e “Tradução”. O livro reúne quatro testemunhos, que evocam a presença do escritor, seis ensaios centrados sobre as diferentes vertentes da sua escrita, estabelecendo convergências e confrontos com obras de outros escritores e outros domínios do saber. Também inclui um ensaio sobre tradução e duas traduções inéditas do conto de Fialho de Almeida “O Ninho d’ Águia” para as línguas francesa e inglesa.

 

O que pode desvendar, acerca da obra de Fialho de Almeida, a literatura comparada?A literatura comparada, enquanto área científica e disciplinar autónoma e distinta da literatura tout court, é capaz de oferecer, através de uma leitura dialogante, novas perspetivas enriquecedoras sobre a obra do autor. Deste modo, o leitor vai (re)lendo a sua obra sob a lente da literatura comparada que potencia o encontro de diferentes autores, tradições e cronologias literárias, bem como de diversas abordagens de carácter interdisciplinar. A literatura comparada oferece, assim, ao leitor fialhiano, uma viagem, partindo de tempos e de espaços muito diversos, para um novo lugar de (re)encontro com a obra do escritor.

 

Está prevista a apresentação desta obra em França e Espanha. Há razões específicas para a internacionalização desta obra?Na biblioteca fialhiana está plasmada a influência de França, através da língua e da literatura francesas na sua obra, mas, também, a influência de Espanha, através do iberismo de Fialho de Almeida, o que levou a este desafio de internacionalização da obra.

Considera que o reconhecimento que Portugal tem de Fialho de Almeida é consentâneo com a importância da sua obra?Penso que vários estudiosos da sua obra, como Jacinto do Prado Coelho, Cecília Teixeira de Oliveira, Cláudio Basto, Maria de Lourdes Belchior, António Cândido Franco, Isabel Cristina Mateus, José Costa Ideias, entre outros, trilharam já alguns dos caminhos a percorrer. Mas Fialho de Almeida e a sua obra não ocupam, ainda, o lugar que merecem no panorama literário nacional e internacional. Sublinhe-se a escassez de traduções da sua obra e o facto de só agora estar a ser reeditada em Portugal, pela Câmara de Cuba.

 

O que mais gostaria que este livro conseguisse almejar?Recolocar a obra de Fialho de Almeida, injustamente esquecida, no mapa da atualidade nacional e internacional, através da literatura comparada.

 

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