Texto | Aníbal Fernandes
E, de repente, na edição de 20 de setembro de 1974, na última página, é impressa uma notícia curta que anunciava uma manifestação de uma suposta “maioria silenciosa”: “Está a ser organizada por uma comissão nacional uma manifestação da ‘maioria silenciosa’ para fazer sentir a sua voz junto do Presidente da República, general António de Spínola, no sentido de o apoiar firmemente na execução do Programa do M.F.A. ‘entendido de boa-fé, como via para a democracia personalista, pluralista e livre que o País esperava e desejava ardentemente’”.
O “Diário do Alentejo” nada acrescentava que pudesse contextualizar este anúncio. No entanto, quatro dias depois, na edição de terça-feira (o jornal não se publicava ao domingo), o assunto merecia destaque no editorial.
Escrevia, então, o articulista: “Segundo o teor de uma circular largamente divulgada nestes últimos dias, uma ‘comissão nacional’ (?) está (ou estava) a preparar uma manifestação da ‘maioria silenciosa’ (!) ao Presidente da República, general António de Spínola”, nos termos explicitados na primeira notícia e que “o País esperava e desejava ardentemente”.
“Não aos extremismos, sim à firmeza e fidelidade ao programa do M.F.A.” era o lema inscrito nos milhares de cartazes e panfletos que tinham inundado o País nos dias anteriores.
A coberto de um suposto apoio ao M.F.A., alguns membros dos setores mais conservadores da sociedade portuguesa – com Kaúlza de Arriaga e Galvão de Melo na retaguarda – convocavam para 28 de setembro aquilo que seria a primeira tentativa de travar o processo político em curso.Na “Nota do Dia” da edição de dia 24, o “Diário do Alentejo” referia que a “Imprensa da capital” revelava que a “maioria silenciosa” não passaria de “uma minoria (no entanto perigosa) que pretende disfarçar a sua ideologia de direita com uma tomada de posição centrista, o que, logo à partida, consentiria o ataque cerrado ao comunismo e socialismo”.
Para o PS, tratar-se-ia de uma “tentativa de manifestação reaccionária, evocando abusivamente o nome do Chefe de Estado e o Movimento das Forças Armadas que não poderão estar aliados a essa tentativa e com certeza não a subscrevem”; PCP “as forças reaccionárias estão a tentar agrupar-se para impressionarem a opinião pública, sendo o anunciado apoio ao general Spínola e ao programa do M.F.A. uma mera fachada”.
Não tardou, também, que a esquerda militar reagisse e, no dia 27, Otelo Saraiva de Carvalho e Firmino Miguel, com conhecimento de Costa Gomes, montam uma operação que tem como alvo ex-membros da Legião Portuguesa e outros quadros do Estado Novo.O golpe não teria sucesso, mas o final da história será contado para a semana.