Diário do Alentejo

Faltam médicos e enfermeiros no hospital distrital de Beja

20 de setembro 2024 - 08:00
50 anos de Abril

Fará, no próximo dia 25 de outubro, 54 anos que o Hospital José Joaquim Fernandes foi inaugurado com a presença de Américo Deus Thomaz, à data Presidente da República. Faltavam ainda cerca de quatro anos para que, a 25 de Abril de 1974, o almirante e o seu governo, chefiado por Marcello Caetano, fosse apeado do poder e Portugal entrasse num período de transformação social e política rumo à democracia.Este equipamento – hoje inserido no Serviço Nacional de Saúde e gerido pela Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo – nasceu graças a uma doação de 14 mil contos (70 mil euros), de Carolina Almodôvar Fernandes, em 1963, com a condição de que o hospital recebesse o nome do seu falecido marido, José Joaquim Fernandes.

Num texto publicado no “Jornal de Notícias”, aquando da comemoração do 50.º aniversário, o jornalista Teixeira Correia revela que o prazo para a construção do edifício era de três anos e, “porque os custos eram de 16 mil contos, segundo um estudo da Comissão de Construções Hospitalares, o Estado responsabilizou-se pela verba restante”, no entanto, o hospital apenas “abriu portas sete anos depois”.

Nestas cinco décadas, o hospital passou por várias vicissitudes, problemas, necessidades (e melhorias), mas – pelo que à frente veremos – já o seu início foi atribulado, com destaque para a falta de recursos humanos.

Na edição de 13 de setembro de 1974, sexta-feira, a quatro colunas, nas páginas centrais, o “Diário do Alentejo” titulava: “Hospital de Beja carecido de médicos e enfermeiros”. Nada que seja novo.

No corpo do texto dava-se notícia do relatório de atividades referente ao primeiro semestre de 1973, mas o articulista queixava-se da “falta de indicadores de qualidade de assistência prestada e até de quantidade efectiva, real, no trabalho assistencial fornecido à população que constitui a clientela do hospital”.

E acrescentava que “sem referência ao tipo de patologia que constitui a nossa característica, à interacção do hospital com a comunidade em que está inserido, sem uma análise, ainda que superficial, das características sociais, económicas e geográficas dessa comunidade, sem uma menção aos efectivos de pessoal em relação às necessidades, o avaliar o que se fez só à luz de demoras médicas, percentagens de ocupação, mortalidade, etc., pode levar a conclusões menos justas”.

Quanto aos “meios humanos”, o relatório apontava a falta de 50 por cento – médicos e enfermeiros – para o preenchimento do quadro. “No pessoal médico acentua-se, em relação às vagas do quadro, a falta de médico analista, a existência de apenas um radiologista e o funcionamento precário do serviço de anestesia, que ‘neste momento não tem um só elemento de carreira’, (há um especialista contratado aguardando há longo tempo o concurso e um adjunto). Vários serviços veriam, certamente, a sua eficiência e produtividade aumentadas com a extensão aos hospitais distritais do internato de especialidade, anseio velho e repetidamente manifestado no Hospital Distrital de Beja. Quanto a enfermagem, continua a verificar-se a incapacidade de Beja para reter este pessoal, agravada pela concorrência livre e desenfreada que as clínicas de Lisboa e os hospitais do País movem ao hospital distrital. Por outro lado, constata-se a inexistência duma política de fixação de pessoal, a qual, a vir a efectivar-se, poderia contrariar o êxodo, hoje sistemático, da enfermagem dos hospitais da província”.

 

Aníbal Fernandes

Comentários