Toda a gente concordará que a guerra colonial esteve na base da revolta dos militares de Abril. A questão da independência dos territórios africanos administrados por Portugal era, pois, um assunto que, mais tarde, ou mais cedo, haveria de saltar para as capas dos jornais.
Na edição de 30 de julho de 1974, o “Diário do Alentejo” (“DA”) fazia manchete com “Colónias independentes – A História de Portugal volta a página”. “O momento histórico por que o País, os territórios africanos e o mundo ansiavam (‘a paz na África portuguesa, finalmente alcançada na justiça e na liberdade’) foi, efectivamente, determinado pelo discurso do Presidente da República, general António de Spínola, ao anunciar o imediato reconhecimento do direito à independência de Guiné-Bissau, Angola e Moçambique”, lia-se na capa.
“Se há hora grande na vida e na história de um Povo, esta é, sem dúvida, a do seu reencontro com a vocação, a fisionomia e a honra de ser e de estar no Mundo que lhe são próprias”, explicou Spínola, confessando “a mais viva emoção que dirijo ao Povo Português de aquém e além-mar, na mais perfeita coerência com a nossa tradição histórica e com o ideário que nos preside e nela se inspirou, a declaração formal de haver chegado o momento de reconhecer às populações dos nossos territórios ultramarinos o direito de tomarem em suas mãos os próprios destinos, concretizando-se, desse modo, o desenvolvimento da política de autenticidade que sempre defendemos”.
Na mesma edição – e na mesma página – anunciava-se uma manifestação em Beja, no dia seguinte, convocada pelo PCP, num comunicado em que, para além de mostrar apoio à decisão do Presidente da República, se regozijava: “A guerra colonial vai acabar! Viva a paz! Viva a independência dos povos das colónias!”.
Nos dias que se seguiram várias notícias sobre o tema foram saindo no “DA”, como, por exemplo, a posição do Movimento de Esquerda Socialista (MES), que rotulava os acontecimentos de “importância histórica” que levaram ao “reconhecimento do direito à independência dos povos das colónias, nomeadamente da Guiné, Angola e Moçambique”, e se noticiava que “nos mais diversos pontos do País manifestações de congratulação pelo anúncio governamental de imediato reconhecimento do direito à independência dos povos das colónias portuguesas de África”.
Mas nem tudo eram boas notícias. Alguns dos movimentos independentistas pareciam ainda não acreditar nos anúncios do governo português: “Os dirigentes do movimento nacionalista angolano FNLA [Frente Nacional de Libertação de Angola] anunciaram não desistir da luta armada enquanto se não concretizar o prometido direito à independência do povo de Angola”.
Por outro lado, “o representante da Guiné-Bissau nas Nações Unidas [que já tinha declarado unilateralmente independência a 24 de setembro de 1973, em Lugajole, Madina de Boé] dirigiu uma comunicação escrita ao secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim, apresentando um pedido oficial de admissão do seu país na organização internacional”.
Texto | Aníbal Fernandes