A propósito do recente estudo “Olivicultura: O motor da (r)evolução agrícola nacional”, desenvolvido pela Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, o “Diário do Alentejo” conversou com a diretora executiva da associação, Susana Sassetti, sobre o que tem contribuído para que o Alentejo, ano após ano, continue a afirmar-se como a região produtora nacional de azeite mais importante, as boas práticas adotadas e a influência nos preços do produto quando se estima que Portugal, dentro de dois anos, se torne o terceiro maior país produtor do mundo.
Texto | Nélia Pedrosa
De acordo com estudo “Olivicultura: O motor da (r)evolução agrícola nacional”, desenvolvido para a Olivum, o Alentejo confirma-se, ano após ano, como a mais importante região produtora nacional de azeite. O que tem contribuído para isso?
O Alentejo representa cerca de 55 por cento da totalidade da área de olival nacional e é a região que regista maiores índices de produção a nível nacional, com destaque para a região de Alqueva, que beneficia de disponibilidade hídrica e excelentes condições edafoclimáticas para a cultura do olival, tornando possível instalar os métodos de produção mais modernos do mundo que permitem alcançar altos níveis de produtividade. Contudo, não é apenas o Alentejo que tem registado aumentos ao nível da produção e qualidade do azeite, mas, sim, o setor como um todo, algo que se deve à forte aposta na modernização, bem como num grande investimento tecnológico que se tem registado ao longo das últimas décadas, que resultam numa maior capacidade de produção de azeitona e extração de azeite de alta qualidade. Estes desenvolvimentos impulsionaram uma série de mudanças estruturais, como a instalação de olivais mais eficientes ou a transformação dos lagares com tecnologia de ponta.
Revela ainda que a adoção de boas práticas não se limita ao aumento da produção e qualidade do azeite nacional, mas tem também impacto significativo na sustentabilidade...
A introdução de novas técnicas de produção e a modernização dos olivais e lagares com recurso a tecnologia de ponta desempenham um papel crucial na otimização e sustentabilidade do setor. Já existem hoje, em diversos lagares portugueses, sistemas de automação, sensorização e controlo de processos. O mesmo se passa no campo, onde é possível analisar todos os parâmetros necessários na produção agronómica da oliveira, o que possibilita ter um menor impacto ambiental sem colocar em causa a produtividade. Face ao crescimento do setor, da importância do azeite no Alentejo, e ciente da necessidade de garantir a sua sustentabilidade, a Olivum lançou, em 2022, o Programa de Sustentabilidade do Azeite do Alentejo, em parceria com a Universidade de Évora, que visa a promoção e reconhecimento de práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia de valor do azeite.
Estima-se, igualmente, que Portugal será o terceiro maior país produtor do mundo dentro de dois anos. Que influência terá isso nos preços?
Portugal tem vindo a registar um crescimento muito expressivo em termos de produção e afirma-se como o maior produtor de azeite de alta qualidade mundial. Possui três dos cinco lagares mais tecnologicamente avançados do mundo. Caso os preços fossem determinados exclusivamente pela produção nacional, tenderiam a diminuir devido aos avanços tecnológicos; no entanto, o preço é definido pela oferta e pela procura e Portugal acompanha os valores. O facto de Espanha, o maior produtor mundial, vir a registar quebras de produção nos últimos anos, associado ao facto de 2022 ter sido um ano de contrassafra na bacia do Mediterrâneo, resulta em que não haja azeite no mercado e, consequentemente, que o seu preço aumente.