Diário do Alentejo

Tem início a era “gonçalvista”

19 de julho 2024 - 08:00
50 anos de Abril

Saído da sombra – muito poucos o conheceriam apesar de ser o presidente da comissão coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) –, Vasco Gonçalves iria liderar o segundo governo provisório.

Segundo o “Diário do Alentejo” na capa da edição de segunda-feira, dia 15 de julho, esta “nomeação [anunciada] parece ter sido bem recebida pelos dirigentes dos partidos que participavam (e vão, decerto, continuar) no Governo do 25 de Abril, sucedendo-se as afirmações de optimismo quanto ao futuro do processo de democratização em curso”.

António de Spínola, o presidente da República em exercício, anunciava que a formação do governo apenas seria conhecida dias depois e, como se veria, com o reforço da componente militar.

Um dia depois, o PCP mostrava o seu contentamento com a mudança e apoiava a “designação de um destacado oficial do Movimento das Forças Armadas, o coronel Vasco Gonçalves, para primeiro-ministro”, anunciava que continuava “pronto a participar num governo de coligação” e pronunciava-se “favoravelmente à entrada no Governo de outros oficiais do Movimento das Forças Armadas”.

Na manhã de quinta-feira, no Palácio de Belém, Spínola conferia posse aos novos ministros, “pondo assim termo aos dias de expectativa que vinham a viver-se após a crise determinada pela demissão de Palma Carlos”.

“Na breve alocução que proferiu, antes de ser anunciado o elenco, o general António de Spínola frisou que a coligação de partidos se mantém e que irá funcionar o mesmo espírito colegial nas decisões, adiantando que o Governo surge com reforçada autoridade resultante de passar a ser presidido pelo homem que foi o cérebro do Movimento das Forças Armadas e, por conseguinte, o primeiro responsável pela elaboração do respectivo programa e necessariamente o seu mais fiel executor”.

No elenco governativo notava-se a ausência de Francisco Sá Carneiro, que se tinha demitido do anterior governo em solidariedade com o primeiro-ministro Palma Carlos.

No entanto, o PPD continuava representado por Magalhães Mota, tal como Álvaro Cunhal (PCP) e os majores Vítor Alves e Melo Antunes como ministros sem pasta. Mário Soares (PS) ficou nos Negócios Estrangeiros, Salgado Zenha na Justiça, Silva Lopes nas Finanças e Maria de Lurdes Pintassilgo nos Assuntos Sociais, a primeira mulher a chegar ao governo enquanto ministra e que, mais lá para a frente, haveria de liderar o executivo durante 100 dias.

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Na edição de sexta-feira, nas centrais, a ocupar quatro colunas e com letras garrafais, lia-se: “PS propõe expropriação de terras não cultivadas”.

Num comunicado com 22 pontos, os socialistas defendiam “que sem institucionalizar a intervenção do Estado não será possível iniciar o processo de reforma do sector agrícola” e propunha, entre outras coisas, a “utilização da terra por forma a garantir-se a sua conservação e o aumento da sua produtividade, segundo critérios de uso mais intensivo e impedindo-se a manutenção de áreas incultas e as especulações fundiárias; participação dos trabalhadores do sector rural no desenvolvimento político, social e económico do País, através de uma repartição equitativa do rendimento das terras e águas, cujas formas de propriedade deverão evoluir progressivamente até que sejam completamente nacionalizados os grandes latifúndios e organizadas cooperativamente as pequenas explorações único meio de se alcançar uma verdadeira justiça social”.

 

Aníbal Fernandes

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