Diário do Alentejo

“Este projeto arqueológico, de cariz científico, pretende contribuir para o desenvolvimento da pequena aldeia de Mesquita e também da sua envolvência”

29 de junho 2024 - 08:00
Três Perguntas a Maria de Fátima Palma, arqueóloga e coordenadora científica do projeto Iacam – Intervenção arqueológica nas Cercas das Alcarias, Mesquita, Mértola

A propósito do término recente da quarta campanha de escavações na aldeia da Mesquita, concelho de Mértola, no âmbito do projeto Iacam - Intervenção arqueológica nas Cercas das Alcarias, que a Universidade de Granada e o Campo Arqueológico de Mértola têm vindo a desenvolver, o “Diário do Alentejo” conversou com a arqueóloga e coordenadora do mesmo, Maria de Fátima Palma, sobre os resultados desta nova intervenção, a perceção de que a aldeia mertolense é cada vez mais fonte de vestígios e de informação relevante de um passado longínquo e a importância que a presença da equipa académica tem tido junto da comunidade da Mesquita.

 

No âmbito do projeto Iacam, que a Universidade de Granada e o Campo Arqueológico de Mértola têm vindo a desenvolver, terminaram, recentemente, os trabalhos arqueológicos da quarta campanha de escavações na aldeia da Mesquita, no concelho de Mértola. Quais os resultados desta nova intervenção?

Esta campanha permitiu acrescentar novos e importantes dados às intervenções anteriormente realizadas. Na escavação podemos distinguir, para já, três fases cronologicamente diferentes. A mais antiga, uma necrópole com sepulturas com ritual cristão, datada do século X; uma grande casa de época medieval islâmica, onde foi possível identificar o pátio central, quatro compartimentos – cozinha, despensa, salão pequeno e salão grande, com uma cronologia do século XII e inícios do século XIII; a fase mais recente, uma necrópole do século XVI foi identificada diante e na lateral da ermida de Nossa Senhora das Neves.

 

Sendo um local recorrente de trabalho arqueológico – este é o quarto ano consecutivo –, podemos deduzir que a aldeia da Mesquita possui vestígios e informação relevante de um passado longínquo?

Todo o território de Mértola apresenta um relevante passado longínquo, com diferentes ocupações e cronologias. Os trabalhos de prospeção arqueológica realizados pela equipa do Campo Arqueológico de Mértola, nos últimos 45 anos, assim o têm vindo a demostrar. A zona da aldeia de Mesquita não difere e apresenta uma grande concentração de vestígios que datam desde a pré-história recente ao período moderno, com especial incidência no povoamento romano e islâmico.

 

Para além do aspeto meramente arqueológico, qual a importância que considera ter a presença, durante o tempo de escavações, da equipa académica na aldeia, junto da comunidade da Mesquita?

A interação entre a equipa de investigação – portugueses e espanhóis – e a comunidade de Mesquita, cada vez com mais estrangeiros a viverem na aldeia, é uma mais-valia para ambas as partes, pois há uma troca de conhecimentos, de vivências, de experiências e de histórias que ocorrem em momentos de lazer, durante as refeições e à tarde na Sociedade Recreativa Mesquitense, o ponto de encontro de toda a aldeia. Este projeto arqueológico, de cariz científico, pretende contribuir para o desenvolvimento da pequena aldeia de Mesquita e também da sua envolvência, gerando dinâmicas de arqueologia social e de laços identitários, os quais pretendem criar valor e enriquecer as dinâmicas locais, através da arqueologia e da pesquisa histórica, combinada com uma forte interdisciplinaridade.

José Serrano

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