Diário do Alentejo

Associação de Agricultores de Moura comemora 40.º aniversário

23 de junho 2024 - 08:00
Presidente da associação diz que Rede Natura 2000 impede desenvolvimento económicoFoto| Ricardo Zambujo

Texto Aníbal Fernandes

 

Os objetivos que presidiram ao nascimento da Associação de Jovens Agricultores de Moura (AJAM) são algo diferentes dos de hoje, mas há um que permanece firme: a defesa do mundo rural e a luta contra a desertificação.

António Miguel Rosado, atual presidente da direcção da AJAM, não foi um dos fundadores, mas sabe quais as razões que motivaram o seu aparecimento. “Com a entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE) sentiu-se a necessidade de criar uma infraestrutura que apoiasse os jovens agricultores quer no acesso aos fundos, quer no apoio à instalação de novas explorações”.

Era uma nova realidade que se materializava em coisas como “projetos, incentivos e apoios à produção”, e a associação serviu para descodificar aquilo que a burocracia europeia e nacional tornava complicado. O apoio técnico e a defesa de boas práticas agrícolas, bem como a formação profissional, faziam parte do cardápio, sem nunca largar de vista a “defesa do mundo rural”.

Mas eis que, no final do século passado, apareceu a Rede Natura 2000 – uma contrapartida que Portugal teve de aceitar em nome da defesa da biodiversidade –, que veio atrapalhar a vida aos agricultores da região.

“A definição dos mapas não teve grande critério científico e ficou definido que nessas áreas não se podia fazer nada”, critica António Miguel Rosado. Até aos dias de hoje, e para complicar as coisas, “não existe um plano diretor da Rede Natura 2000”. “Há uns anos fizeram-se duas tentativas para realizar o plano, mas não foi possível concretizá-lo. Antes da pandemia de covid-19 o Governo veio, de forma subtil, tentar impor um plano, mas fizemos tanto barulho que aquilo parou”, explica o presidente da AJAM.

“Com tantos e bons solos, como os de Safara e Santo Amador – que são melhores do que os de Beja –, somos obrigados a permanecer no século XVIII e a presenciar o processo de desertificação” desta região, lamenta, avisando que, com a entrada de novos países para a agora União Europeia, cada vez será mais difícil aceder a apoios que, de facto, ajudem os agricultores a chegar ao século XXI.

“Temos de encontrar saídas” para usufruir do regadio e das tecnologias de ponta e não manter a situação atual com duas realidades distintas: uma para quem tem acesso ao Alqueva e, outra, para quem está tolhido pela Rede Natura 2000, que “não trouxe nada de positivo para a economia local”. Se nada se fizer, diz António Miguel Rosado, o futuro será “o abandono das terras [de sequeiro] e a ausência de desenvolvimento económico”.A construção do Bloco de Rega irá “aumentar a potencialidade do regadio, mas em Barrancos, Santo Aleixo, Safara e na freguesia da Póvoa de São Miguel”, a situação manter-se-á por causa das regras europeias que não permitem que se faça agricultura em condições.

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