Texto Aníbal Fernandes
Os objetivos que presidiram ao nascimento da Associação de Jovens Agricultores de Moura (AJAM) são algo diferentes dos de hoje, mas há um que permanece firme: a defesa do mundo rural e a luta contra a desertificação.
António Miguel Rosado, atual presidente da direcção da AJAM, não foi um dos fundadores, mas sabe quais as razões que motivaram o seu aparecimento. “Com a entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE) sentiu-se a necessidade de criar uma infraestrutura que apoiasse os jovens agricultores quer no acesso aos fundos, quer no apoio à instalação de novas explorações”.
Era uma nova realidade que se materializava em coisas como “projetos, incentivos e apoios à produção”, e a associação serviu para descodificar aquilo que a burocracia europeia e nacional tornava complicado. O apoio técnico e a defesa de boas práticas agrícolas, bem como a formação profissional, faziam parte do cardápio, sem nunca largar de vista a “defesa do mundo rural”.
Mas eis que, no final do século passado, apareceu a Rede Natura 2000 – uma contrapartida que Portugal teve de aceitar em nome da defesa da biodiversidade –, que veio atrapalhar a vida aos agricultores da região.
“A definição dos mapas não teve grande critério científico e ficou definido que nessas áreas não se podia fazer nada”, critica António Miguel Rosado. Até aos dias de hoje, e para complicar as coisas, “não existe um plano diretor da Rede Natura 2000”. “Há uns anos fizeram-se duas tentativas para realizar o plano, mas não foi possível concretizá-lo. Antes da pandemia de covid-19 o Governo veio, de forma subtil, tentar impor um plano, mas fizemos tanto barulho que aquilo parou”, explica o presidente da AJAM.
“Com tantos e bons solos, como os de Safara e Santo Amador – que são melhores do que os de Beja –, somos obrigados a permanecer no século XVIII e a presenciar o processo de desertificação” desta região, lamenta, avisando que, com a entrada de novos países para a agora União Europeia, cada vez será mais difícil aceder a apoios que, de facto, ajudem os agricultores a chegar ao século XXI.
“Temos de encontrar saídas” para usufruir do regadio e das tecnologias de ponta e não manter a situação atual com duas realidades distintas: uma para quem tem acesso ao Alqueva e, outra, para quem está tolhido pela Rede Natura 2000, que “não trouxe nada de positivo para a economia local”. Se nada se fizer, diz António Miguel Rosado, o futuro será “o abandono das terras [de sequeiro] e a ausência de desenvolvimento económico”.A construção do Bloco de Rega irá “aumentar a potencialidade do regadio, mas em Barrancos, Santo Aleixo, Safara e na freguesia da Póvoa de São Miguel”, a situação manter-se-á por causa das regras europeias que não permitem que se faça agricultura em condições.