Diário do Alentejo

“Uma história que tem a força de muita gente”

22 de junho 2024 - 08:00
Ceifeiros de Cuba, a comemorarem 91 anos, lançam novo disco

Grupo Coral e Etnográfico Os Ceifeiros de Cuba, criado em 1933

 

O Grupo Coral e Etnográfico Os Ceifeiros de Cuba terá sido criado no primeiro dia da Feira Anual de Cuba de 1933, por insistência do proprietário da taberna do mestre António Luís Fialho, tendo, inclusive, sido essa a sua primeira atuação oficial. Nove décadas e um ano depois, o mesmo balcão de mármore de outrora continua a ser palco do cante alentejano que se faz soar na taberna, troado pelos 24 cantadores, com idades entre os 12 aos 86 anos, que hoje compõem o grupo, símbolo e identidade de toda uma comunidade.

 

O Grupo Coral e Etnográfico os Ceifeiros de Cuba, no âmbito do programa da segunda edição do festival Ceifeirando, evento que reúne o cante alentejano e o folclore nacional, durante os dias 21 e 22, na vila, lança hoje, 21, o seu mais recente trabalho, intitulado “Entre gerações”. O “Diário do Alentejo” conversou com Jil Galinha, mestre ensaiador do coletivo da cantadores.

 

Como nos apresenta esta obra discográfica? 

Passados mais de 20 anos desde a última gravação de um CD, esta obra é uma expressão de compromisso de um grupo de homens dedicados a servir a sua terra e as suas gentes. O nome escolhido para este trabalho – “Entre gerações” – remete para a nossa certeza de que o legado que nos foi deixado continuará firme no futuro. Este trabalho é constituído, em grande parte, por modas já gravadas em outros momentos da história do grupo. Penso, por isso, que o sentimento de nostalgia deverá estar bastante presente em quem o ouvir, principalmente, naqueles que nos seguem desde sempre.

 

Exalta este trabalho o sentimento de orgulho pela perpetuação da tradição?

O segredo destes 91 anos passa pelo orgulho que temos em ser Ceifeiros de Cuba, pela fidelidade, ao longo da nossa história, a nós próprios, e pela capacidade das gerações passadas em conseguir criar raízes profundas num dos grandes símbolos da nossa terra. Cabe-nos, agora, a nós, a perpetuação desta tradição.

 

Os Ceifeiros de Cuba apresentam no seu coletivo elementos dos 12 aos 86 anos. Qual a importância deste convívio cultural entre gerações para a continuidade da paixão ao cante na vila?

Os Ceifeiros de Cuba são hoje um grupo revitalizado devido à sua dinâmica e ao seu espírito de camaradagem. Esta tão grande discrepância de idades só nos ajuda a comprovar que temos o futuro assegurado. Podermos assistir à convivência e cumplicidade entre duas pessoas com mais de 60 anos de diferença é incrível. Esta passagem de testemunho vai para além do cante – é, também, uma aprendizagem e experiência  social. Só quem as vive sabe realmente o que é fazer parte de um grupo assim.

 

Estão, de alguma forma, “presentes” neste novo disco as vozes de todos os cantadores que ao longo destes 91 anos integraram o grupo?

Se há missão que me honra é a de carregar uma história que tem a força de muita gente. As histórias de cada um dos cantadores vão sendo transmitidas por outros, de geração em geração. Nada é em vão e as coisas não acontecem por acaso. Este CD é uma homenagem a todos aqueles que contribuíram para esta história tão bonita com 91 anos. O que mais queremos é que os cubenses e todos aqueles que gostam de nós se sintam orgulhosos do nosso trabalho.

 

José Serrano

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