Projeto Geracante, criado em Moura, em 2023
O projeto musical Geracante resulta da parceria entre a Orquestra Geração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Grupo Coral Infantil da Escola da Porta Nova, em Moura, que comemora 25 anos de atividade e conta com 55 músicos infantis e juvenis e 30 cantores infantis de cante alentejano. A iniciativa, que une as vozes dos jovens mourenses aos instrumentos dos jovens lisboetas, conta com o apoio da Câmara Municipal de Moura e do Agrupamento de Escolas de Moura.
Depois de dois concertos, no início do mês, em Lisboa, na igreja de São Roque e no Panteão Nacional, o Grupo Coral Infantil da Escola da Porta Nova, no âmbito do projeto Geracante, regressou a Moura, recentemente, onde atuou em conjunto com a Orquestra Geração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O “Diário do Alentejo” falou com José Mira, ensaiador do grupo mourense.
Qual a importância deste encontro entre o cante alentejano, tradicionalmente a capella, e uma orquestra sinfónica?
Este encontro tem sido, sem dúvida, uma experiência, que vai já na segunda edição, muito positiva. É um marco histórico para cantadores, professores, auxiliares e pais. Bom será, faço votos para que assim seja, que este projeto, Geracante, continue por muitos anos. É um pouco difícil exprimir por palavras o que é este “casamento” entre o cante alentejano e a orquestra sinfónica. Para isso é preciso ouvir ao vivo esta aliança, ontem impensável, hoje uma realidade.
Como descreve a importância da partilha de vivências para o enriquecimento musical e pessoal dos participantes?
A fusão entre a Orquestra Geração e o Grupo Coral Infantil da Escola da Porta Nova-Moura foi uma experiência única. Primeiro, o preparar as modas. Depois, a orquestração, um trabalho notável dos maestros da orquestra. A seguir, os ensaios, o saber ler a música, esperar a entrada do maestro, surgir com o coro ou o alto. Todos estes são momentos inesquecíveis e enriquecedores. Uma nota curiosa: os próprios músicos da Orquestra Geração já cantam as nossas modas com muitos poemas da nossa autoria. Isto espelha bem a vivência dos participantes e todo o enriquecimento gerado entre o cante alentejano e a música clássica.
Sublinha a longevidade do Grupo Coral Infantil da Escola da Porta Nova a importância do ensino musical nas escolas, nomeadamente, do cante alentejano, para a divulgação da tradição musical da região, Património Cultural Imaterial da Humanidade?
Este é, claramente, um trabalho de muita “carolice”, a custo zero. Um trabalho que todos os anos é renovado – “perdem-se” as vozes do quarto ano e começa-se, novamente, no primeiro. Uma coisa é certa: as sementes proporcionam frutos que marcam a passagem da tradição do nosso cante alentejano. O ensino do cante nas escolas é fundamental para passar o testemunho que os nossos antepassados nos legaram, permitindo, assim, manter vivo a tradição musical. Há algumas arestas a limar, nomeadamente, no que diz respeito às condições de quem ensina.
Qual a probabilidade de se poder vir a escutar o projeto Gerante em disco?
A vontade de gravar este trabalho, imortalizando este projeto, surge todos os anos. Na minha mente e na de todos aqueles que fazem parte deste projeto nunca deixará de estar presente.
José Serrano