Diário do Alentejo

“O cante alentejano continuará a evoluir”

08 de junho 2024 - 12:00
EnCante, grupo mourense de música tradicional lança o seu primeiro trabalho

EnCante, criado em 2023, em Moura 

 

O grupo EnCante resulta da união de quatro músicos com formação em diversas áreas musicais, mas todos eles com forte ligação à música tradicional do Alentejo. Após a seleção de diversos temas do cancioneiro tradicional alentejano, o grupo começou a realizar espetáculos um pouco por todo o Sul do País.

 

O grupo EnCante, composto pelos mourenses Jorge Sales, Joaquim Simões, Francisco Sales e António Engrola, lançou recentemente o seu primeiro single, que apresenta os temas “Pelo toque da viola” e “Linda jovem era pastora”.

 

As duas músicas apresentadas neste single são emblemáticas do cancioneiro da região. Significa isto que este vosso trabalho é uma homenagem à música mais tradicional do Alentejo?

Sim. O nosso trabalho é uma homenagem à música tradicional do Alentejo, com o cante alentejano como influência de base. É nosso intuito “transformar” modas alentejanas, dando-lhe o nosso cunho pessoal. Também não descartamos a hipótese de podermos criar algumas modas originais. Vamos trabalhando, no futuro se verá…

 

Acompanham as vozes com outros tantos instrumentos: a viola campaniça, o acordeão, o baixo e a guitarra. Consideram que esta abordagem musical se pode incluir no cante tradicional ou é, por outro lado, uma outra linguagem musical, mais contemporânea?

O cante tradicional é realizado apenas pelas vozes. Nós realizamos o cante tradicional com as vozes, mas criamos uma roupagem com os instrumentos, para que as modas fiquem mais elaboradas. Também cantamos algumas modas só a vozes. O cante alentejano tem evoluído e sempre continuará a evoluir, de acordo com as versões que se elaboram. Por vezes umas são melhores conseguidas do que outras.

 

Como classificam a importância dos grupos instrumentais populares da região na preservação do cante coral alentejano, inscrito, pela Unesco, como Património Cultural Imaterial da Humanidade?

Os grupos instrumentais têm um papel importante na preservação do cante. Cabe aos grupos pegar nas modas, fazer adaptações e moldá-las. A nossa maior preocupação é não estragar as mesmas. Temos de perceber o cariz da moda e aquilo que podemos fazer com os instrumentos. Mas, mesmo na música instrumental, a base são as vozes – coro, ponto e alto. E isso, com um excelente conjunto de quatro vozes, o nosso grupo consegue.

 

O reconhecimento pela Unesco perfaz neste ano uma década. Consideram que este tem sido um período benéfico para a valorização deste património musical?

Sem dúvida. O reconhecimento do cante abriu novas portas e uma outra forma de o ver, por parte dos músicos e pela comunidade, em geral. Fruto disso são as fusões e parcerias que se têm criado. O cante alentejano está vivo, recomenda-se e o reconhecimento pela Unesco foi, sem dúvida, um elemento facilitador.

 

Indicia o lançamento deste single uma antecipação do que pode ser a apresentação de um disco do EnCante, com mais temas, ainda neste ano?

Vamos “saborear” estes dois temas e aproveitar o lançamento para divulgar o nosso trabalho. Felizmente, executamos um conjunto de modas bastante amplo e diverso e, certamente, que poderíamos entrar em estúdio para gravar um disco. Penso que, neste ano, essa não será, para nós, uma prioridade. Certamente, lançaremos mais duas ou três modas e, no futuro, logo pensaremos em lançar um trabalho completo.

José Serrano

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