Diário do Alentejo

Cuba cria rede para cuidadores de doentes com demência

03 de março 2024 - 08:00
Cuidadores informais “estão sujeitos a uma pressão enorme”, afirma presidente da associação responsável pelo projeto-piloto “Remind”
Ilustração| Susa Monteiro/ArquivoIlustração| Susa Monteiro/Arquivo

O projeto-piloto “Remind”, implementado em Cuba desde 2023, já permitiu capacitar 121 cuidadores de pessoas com demência. Da iniciativa promovida pela Make it Better, em parceria com a câmara municipal, resultaram, ainda, a criação da Rede Local para a Inclusão e Cuidado da Demência, assim como um portal e uma aplicação móvel.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

O lançamento de um portal (https://remind-carers.eu/), “onde está disponível toda a informação necessária no sentido de apoiar os cuidadores” de pessoas com demência; a criação de uma nova aplicação (App) móvel, “muita alinhada com os conteúdos do portal, que serve o mesmo propósito, mas aproximando e facilitando um pouco mais o acesso à informação”; a capacitação de 121 cuidadores, através de várias sessões realizadas ao longo do último ano; a formalização da Rede Local para a Inclusão e Cuidado da Demência, “constituída por entidades públicas e privadas e representantes da sociedade civil”, são os “resultados de relevo” da implementação, no concelho de Cuba, do projeto-piloto “Remind – Reforçar Capacidades para Cuidar da Demência”, da responsabilidade da Make it Better – Associação para a Inovação e Economia Social, em parceria com a câmara municipal. Os resultados foram apresentados no final da semana passada no decorrer do seminário “Demência e Comunidades Inclusivas”, que teve lugar naquela vila.

José Nunes, presidente da associação sediada em Cuba, relembra ao “Diário do Alentejo” que o projeto-piloto, no terreno desde 2023, surgiu “da deteção”, por parte da Make it Better, “do impacto negativo nos cuidadores informais que esse cuidado intensivo de pessoas com demência lhes trazia” e “das dificuldades em terem informação útil acessível para saber como lidar, eventualmente, em diferentes casos do dia a dia”. “A iniciativa procura criar um modelo mais inclusivo de apoio à demência e, particularmente, às pessoas que são afetadas – e que não são apenas as que têm a doença, mas também, e sobretudo, quem apoia essas pessoas, a que chamamos de cuidadores informais.

Portanto, o projeto foi desenvolvido, sobretudo, para criar uma série de mecanismos de base local, de proximidade, que possam apoiar todas as pessoas afetadas. No fundo, há aqui um propósito social grande”, reforça o responsável, frisando que os cuidadores informais “estão sujeitos a uma pressão enorme, seja do ponto de vista pessoal, social, etc., inclusive, em alguns casos limite, têm de abandonar a atividade profissional para acompanharem, 24 horas, literalmente, as pessoas de quem cuidam”.

 

Resultados do projeto-piloto deverão ser disseminados Apesar do trabalho já desenvolvido, e que permitiu uma “maior consciencialização” para a temática da demência, “que está muito associada ao estigma da loucura”, José Nunes reconhece que “ainda há um longo caminho a percorrer”.

“É muito difícil, sobretudo, neste campo da alteração de mentalidades e de alinhamento com novas práticas, que isso seja uma coisa imediata.

Ainda assim, esta semente foi lançada e parece que está a germinar como gostaríamos”. Apresentados os resultados, adianta, o objetivo agora “é que esta informação e estas aprendizagens” possam ser disseminadas, “chegando a outros concelhos e outras comunidades que tenham interesse em fazê-lo”.

A Rede Local para a Inclusão e Cuidado da Demência de Cuba, que integra não só entidades do concelho, mas também da região, será coordenada pela câmara municipal, no entanto, adianta a vereadora Sandra Serrano, assentará “num processo de coordenação aberta, garantindo que os respetivos processos de gestão, de planeamento e de tomada de decisão sejam efetuados de forma transparente e inclusiva, envolvendo todas as entidades subscritoras, em alinhamento com as competências, interesse e disponibilidade de cada uma”.

A autarca frisa, ainda, que a rede “tem um papel preponderante em todo este processo, porque o que se pretende é promover um ‘ecossistema’ institucional de base comunitária e de proximidade, através de uma colaboração efetiva, onde se facilite a articulação de esforços, de partilha de competências e de conhecimentos, bem como na disponibilização de recursos (materiais, humanos, técnicos ou outros), que garantam um apoio, uma capacitação e uma oferta de respostas efetivas no âmbito da demência”.

O projeto-piloto “Remind” foi, entretanto, distinguido, pelo segundo ano consecutivo, com o selo de mérito do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais pela implementação de boas práticas e medidas de apoio em benefício dos cuidadores informais. Segundo Sandra Serrano, é “um privilégio poder ter respostas mais efetivas para quem diariamente é afetado pelos impactos produzidos pela demência, seja na pessoa doente, seja, particularmente, nas pessoas que delas cuidam”.

A autarca adianta que estão agendadas para Cuba, até julho, outras sessões mensais de apoio a cuidadores informais, que serão abertas à participação de cuidadores não só do concelho de Cuba, mas também de Alvito e Vidigueira.

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