Diário do Alentejo

“A esperança está sempre presente na história do povo português”

17 de fevereiro 2024 - 16:00
Mensagem, de Fernando Pessoa, em BD por Susa Monteiro
Foto | José Ferrolho/ArquivoFoto | José Ferrolho/Arquivo

Susa Monteiro, natural de Beja

 

Estudou Realização Plástica do Espetáculo na Escola Superior de Teatro e Cinema e Cinema de Animação no Citen – Centro de Imagem e Técnicas Narrativas. É responsável pela linha gráfica do Festival Internacional de Banda Desenhada (BD) de Beja. Ilustrou capas e livros para editoras espanholas, brasileiras e francesas. Ilustra para o “Expresso”, “Público”, “Diário do Alentejo” e “Visão”. Criou a moeda comemorativa “Unicórnio”, para a Imprensa Nacional Casa da Moeda. Tem exposto o seu trabalho em festivais de BD e galerias, por todo o País e no estrangeiro.

 

Tendo chegado às livrarias no dia 23 de janeiro, o primeiro volume da coleção “Clássicos da Literatura Portuguesa em Banda Desenhada” adapta a obra Mensagem, de Fernando Pessoa, através do argumento de Pedro Moura e das ilustrações de Susa Monteiro.

 

Mensagem é considerada uma das obras-primas da poesia portuguesa, tendo sido o único livro que Fernando Pessoa viu publicado em vida. O convite que lhe foi endereçado para ser autora deste trabalho de adaptação à banda desenhada (BD) significa para si, enquanto artista, algo especial? 

Foi um grande privilégio poder desenhar este livro. A adaptação da obra foi feita pelo Pedro Moura, que tem uma vasta experiência como argumentista e teórico de BD. O seu argumento guiou-me, sabiamente, através do poema. Este é o primeiro álbum de BD que tive o privilégio de desenhar, sendo que até agora tinha apenas desenhado histórias curtas.

 

Pela iconicidade da obra sentiu de forma penosa ou leve o “peso da responsabilidade”, ao longo do percurso deste trabalho?

Há sempre uma grande responsabilidade, em qualquer livro, porque permanece no mercado muito para além do momento em que foi criado. Este álbum vai chegar a um público muito vasto. Vai ser visto por curiosos, mas, também, por peritos na obra de Fernando Pessoa. Dediquei-me, plenamente, ao livro e tentei dar o meu melhor, em cada página.

 

Mensagem, obra que viaja pela história do País, através da sua glória e decadência, expressando a esperança vindoura, foi originalmente publicado em 1934. Encontra similitudes entre a visão do futuro de Portugal de Fernando Pessoa e o País que hoje se nos apresenta, 90 anos depois?

É preciso, obviamente, contextualizar o momento histórico retratado e, também, o período em que o livro foi escrito. Temos um país muito melhor do que quando Mensagem foi escrito. Embora atravessemos um momento desafiante, em termos de habitação, saúde, ensino, etc., somos um país democrático, onde procuramos – pelo menos alguns de nós – a igualdade e a justiça. Mas a desilusão com o dia de hoje e a esperança no futuro estão, a meu ver, sempre presentes na história do povo português.

 

Qual o episódio de Mensagem que mais facilmente se adaptou à linguagem da BD?

As pranchas que mais gostei de desenhar foram as que falam sobre D. Sebastião. Mais pela adaptação que o Pedro Moura criou do que pelos aspetos descritivos dos poemas. O poema que à partida seria mais gráfico e, por isso, mais fácil de desenhar seria o Monstrengo. 

 

Mensagem é uma das obras de leitura obrigatória no 12.º ano de escolaridade. Considera que seria estimulante a Direção--Geral de Educação indicar esta adaptação à BD como documento de apoio ao programa curricular?

Sim, não só porque o texto está completo nesta adaptação, como pode ter a mais-valia de introduzir a linguagem da BD a novos públicos. O mercado da BD em Portugal está mais rico e diversificado e começa a ter uma boa oferta para públicos de todas as idades. Esta coleção é disso um bom exemplo.

 

Texto | José Serrano

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