A propósito da iniciativa “Dias da Saúde Mental”, que decorre em vários espaços da cidade de Beja até dia 31 e que une várias entidades, a exemplo a Santa Casa da Misericórdia de Beja (SCM Beja), a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo e a Câmara Municipal de Beja, o “Diário do Alentejo” conversou com a responsável do gabinete social da SCM Beja, Francisca Guerreiro, sobre quais os objetivos que se pretendem atingir com este projeto, o estado da informação e dos recursos adequados no sentido de se promover o equilíbrio psicológico das populações na região, assim como quais os fatores mais preocupantes, diagnosticados no território, suscetíveis de poderem vir a contribuir para o incremento de problemas de saúde mental.
Texto | José Serrano
Decorre até 31, em vários espaços da cidade de Beja, os “Dias da Saúde Mental”, uma iniciativa conjunta de várias entidades, a exemplo da SCM Beja, da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo e da Câmara de Beja. Quais os principais objetivos que se pretendem ver atingidos?
Os “Dias da Saúde Mental” 2023 pretendem contribuir para a redução do estigma existente, promovendo uma sociedade mais inclusiva e aberta à discussão sobre a temática; promover a inclusão de pessoas com problemas de saúde mental na comunidade; fornecer informações de forma a capacitar a população para a reflexão dos desafios enfrentados por pessoas com problemas de saúde mental e identificação de sinais precoces; criar oportunidades para a partilha de experiências e criação de redes de suporte; fortalecer a colaboração entre os parceiros envolvidos.
Este evento tem como lema “A Saúde Mental é um Direito Humano Universal”. Extrapolando essa premissa para o universo da região, considera que existem informações suficientes e recursos adequados no sentido de se promover o equilíbrio psicológico das populações?
Temos, na região, entidades envolvidas a trabalhar, diariamente, para que o concelho possa ter uma população mais saudável. No entanto, as respostas devem estar cada vez mais integradas e em articulação para se responder com mais eficácia. É indiscutível que a população, em geral, enfrenta desafios consideráveis em relação ao equilíbrio emocional. A pandemia deixou marcas profundas, agravadas com a complexa situação social e económica, que coloca muitas famílias em situação financeira precária. É fundamental reconhecer que a estabilidade, seja ela emocional, social ou económica, desempenha um papel importante na promoção do bem-estar e saúde mental. As entidades envolvidas nesta iniciativa, juntamente com outras do concelho, estão atentas à situação e a tomar medidas para lidar com esses desafios.
Quais os fatores mais preocupantes, diagnosticados no território, suscetíveis de poderem vir a contribuir para o incremento de problemas de saúde mental?
Não tendo dados fidedignos, os fatores que me ocorrem, com os conhecimentos que tenho da região, são as sequelas psicológicas provocadas pela pandemia; a sobrecarga dos cuidadores informais; o isolamento social; o estigma em torno das doenças mentais, que pode contribuir para que as pessoas não procurem ajuda, por medo de discriminação ou julgamento; as condições precárias de habitação; o aumento do custo de vida e a instabilidade financeira; o acesso limitado a cuidados de saúde mental; as pressões sociais, como as expectativas elevadas no trabalho ou na vida familiar; a exposição a situações de violência; o abuso de álcool, muito significativo na nossa região, bem como outras adições. Tendo em conta os fatores de risco, saliento a importância de se realizarem intervenções de prevenção, fundamental para que possamos viver num concelho com um alto nível de saúde mental.