O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio foi assinalado em Beja, no passado domingo, 10 de setembro, no Jardim do Bacalhau, com a estreia de uma moda interpretada pelos Cantadores do Desassossego. A iniciativa foi patrocinada pela Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental e dela poderá resultar a gravação do tema e a sua divulgação a nível nacional.
TEXTO ANÍBAL FERNANDES
A taxa de suicídio em Portugal – à semelhança do que se passa na Europa – tem vindo a descer, embora muito lentamente. No entanto, no Alentejo, os registos apontam para valores duas a três vezes mais altos do que a nível nacional.
Ana Matos Pires, diretora do Departamento de Saúde Mental do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, e que integra a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, diz que “não se pode afirmar que a descida ligeira dos números resulta de um ou outro fator em particular”. No entanto, o “aumento da cobertura dos cuidados de saúde mental e o diagnóstico precoce de perturbações depressivas graves”, parece contribuir, decisivamente, para esse resultado.
A Campanha Nacional de Pre-venção do Suicídio – que é permanente – tem como objetivo “mudar atitudes em relação ao suicídio e à doença mental, aumentar a literacia em saúde mental e lutar contra o estigma e incentivar ao pedido de ajuda às pessoas em risco para reduzir o número de suicídios em Portugal”.
Foi nesse sentido que surgiu o desafio da ARIS da Planície – Associação para a Promoção da Saúde Mental, e de Ana Matos Pires aos Cantadores do Desassossego para a criação de uma moda com esta temática, o que foi de imediato aceite.
Parado frente ao abismo/Nin-guém me pode ajudar. Estes são dois dos versos escritos por Rui Teixeira – posteriormente musicados por António Doutor – e que, segundo o autor foram inspirados na sua “experiência pessoal e profissional”, enquanto militar na Base Aérea de Beja.
Rui Teixeira explica com humor que “a hora tardia a que o convite foi feito no restaurante a Pipa, não permitiu dizer que não”. O que é certo é que os Cantadores meteram as mãos e as vozes à obra e o tema foi apresentado, no passado domingo, no Jardim do Bacalhau, em Beja.
O autor da letra diz que “quando se investiga as causas” que levam a pôr termo à vida, as “razões parecem-nos fúteis, mas para essas pessoas não eram”. Tais atos, para além da consequência fatal que encerram, “têm efeitos graves junto das pessoas próximas, famílias e amigos”, uma realidade que é retratada no poema: Pára e olha à tua volta/Tens amigos tens irmãos/Pais e filhos, camaradas/Que lhes quebra o coração.
O tema que já se encontra “afinado” ainda é suscetível de ser melhorado, antes da gravação e da produção de um vídeo que deverá ter divulgação nacional patrocinada pela Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental.
DELICADO E COMPLEXO Não é fácil falar de suicídio, é um tema “delicado e complexo”. Na imprensa, por exemplo, é de regra não noticiar estes acontecimentos. A maioria dos suicidas são homens de uma certa idade, mas o fenómeno não escolhe idade, género ou classe social. A cada 40 segundos suicida-se uma pessoa em qualquer parte do mundo. Em Portugal os números apontam para três pessoas a cada dia que passa. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, referentes a 2021, a taxa média nacional é de cerca de nove suicídios por cada 100 mil habitantes, no entanto, no Sul do País – Alentejo e Algarve – os números são muito superiores, atingindo os 16.