Diário do Alentejo

Beja e Mértola com 1,4 milhões de euros para digitalização do comércio tradicional

13 de agosto 2023 - 14:00
Municípios viram candidaturas aprovadas ao programa “Bairros Comerciais Digitais”
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Rede 5G, mupis interativos e plataformas de venda são algumas das estratégias do programa “Bairros Comerciais Digitais”, que os municípios de Beja e Mértola vão implementar no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), num investimento elegível de mais de 1,4 milhões de euros.

 

 

Texto Nélia Pedrosa 

 

Beja e Mértola são os dois municípios do distrito que viram aprovadas as suas candidaturas apresentadas ao programa “Bairros Comerciais Digitais”, uma medida do Governo apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que “procura promover a digitalização da economia, através da adoção tecnológica por parte dos operadores económicos e pela digitalização dos seus modelos de negócio, sustentada na modernização dos modelos de gestão territorialmente entendidos”.

 

Beja, cuja candidatura foi elaborada pela câmara municipal, em parceria com a Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja e com a Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral, contará com um valor de investimento elegível de 884 mil euros.

 

Já Mértola, em que a candidatura também é promovida pela câmara, em parceria com a Associação de Empresários do Vale do Guadiana, terá à disposição cerca de 550 mil euros.

 

Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, explica ao “Diário do Alentejo” que a candidatura vai permitir instalar “no centro da cidade de Beja, ruas pedonais e zonas envolventes, rede 5G, mupis interativos, plataformas de venda on line geridas de forma profissional e um conjunto de informação turística e cultural que passará a estar disponível, também, nos mupis, e nos equipamentos informáticos dos visitantes e dos munícipes”. Soluções digitais que, sublinha, servirão “como um complemento”, permitindo, assim, “mais algumas receitas interessantes para muitos dos comércios da zona histórica da cidade”.

 

“Poderão, ou não, ter mais clientes físicos – e gostaríamos que tivessem –, mas poderão aumentar as vendas através destes mecanismos. Por exemplo, [será possível] a entrega de mercadoria fora do horário do expediente do comércio, mediante o seu levantamento através de um sistema de cacifos, ou vender por todo o País, ou a cidadãos de outros países, através da consulta das plataformas dos bairros digitais. Independentemente de haver ou não mais pessoas no espaço físico de cada estabelecimento, a faturação dos comerciantes poderá aumentar. É mais uma possibilidade de poderem fazer mais alguma faturação extra face àquela que atualmente fazem com as lojas nas condições que estão, que são as melhores possíveis, mas que, realmente, é um tipo de comércio que tem vindo a enfrentar dificuldades”.

 

Numa fase posterior, adianta, serão abertas candidaturas também para os comerciantes de todas as áreas abrangidas pelo Bairro Comercial Digital de Beja, “no sentido, sobretudo, de modernizarem e de atualizarem os respetivos terminais de vendas de que dispõem, podendo, depois, ligar-se a estas plataformas que serão criadas digitalmente e permitindo, com isso, o convívio maior e mais intenso das vendas físicas, que serão para manter, naturalmente, com as vendas digitais, que poderão ser reforçadas e melhoradas”. O autarca frisa, ainda, que o Bairro Comercial Digital de Beja “só faz sentido se tiver alguma escala”.

 

“Se for muito pequenino, se não tiver escala, perde um pouco do seu efeito. Quanto maior for o bairro, mais apetecível, naturalmente, também será para os consumidores. Maior será a procura se houver mais oferta e mais diversificação”, reforça, acrescentado que a expectativa é que as intervenções que irão ser feitas pelos promotores da candidatura “sejam suficientemente convincentes, para além de todo um trabalho que tem de se continuar a fazer, para que haja uma adesão de umas largas dezenas de comerciantes”.

 

Paulo Arsénio salienta que a ideia é que as três entidades envolvidas na candidatura possam “apoiar os comerciantes nas suas candidaturas”.

 

Sem assumir “um compromisso definitivo”, o presidente da câmara adianta que “dois anos” será o prazo suficiente para implementar “o bairro comercial digital no centro histórico de Beja e zonas limítrofes”.

 

MEDIDA COMBATE "FALTA DE LITERACIA DIGITAL"

Luís Martins, chefe de gabinete de apoio aos eleitos da Câmara Municipal de Mértola, diz, por sua vez, que a candidatura apresentada, que abrange toda a vila, “consegue dar resposta a algumas necessidades dos comerciantes, elevando também um bocadinho a sua capacidade de dar resposta no que diz respeito ao mundo digital”.

 

Para além disso, adianta em declarações ao “Diário do Alentejo”, outro dos objetivos é a criação “de uma identidade visual dos comerciantes, obviamente trabalhada com eles, para que possam oferecer soluções a quem cá mora e aos visitantes de uma forma diferenciada”.

 

O chefe de gabinete de apoio aos eleitos acrescenta que a candidatura “vai ao encontro de alguma falta de literacia digital não só dos comerciantes, mas também dos utilizadores e do público em geral” e permitirá, por exemplo, “disponibilizar wi-fi em toda a malha urbana, ou seja, em todos os potenciais clientes dos nossos comerciantes”; criar “alguns centros de informação digital, com mupis ou quiosques, espalhados por Mértola de forma a promover os comerciantes”; marketplaces (plataformas de e-commerce que reúnem vários vendedores e marcas num único local da Internet), “para quem queira, onde possam colocar os seus produtos à disposição de forma gratuita, obviamente”; e pequenos websites, “também para quem o desejar”.

 

Luís Martins sublinha que a candidatura “serve para dar o pontapé de saída” dos vários mecanismos colocados à disposição dos comerciantes, sendo que “ainda não se sabe que mecanismos irão funcionar” e se a adesão “será maciça”.

 

O chefe de gabinete adianta que é necessária “uma atenção especial”, tendo em conta que se trata de “algumas questões tecnológicas novas, a que os comerciantes podem não estar tão acostumados”, pelo que “é preciso que haja uma aprendizagem [por parte dos comerciantes], para além de também se valorizar aqueles que já as utilizam, de forma a poderem usufruir destas soluções de uma forma muito mais interessante”.

 

“Basicamente, a nossa função é disponibilizar ferramentas para que os comerciantes as possam utilizar e vamos querer que as utilizem ao máximo e que perdurem no tempo, obviamente, e para é isso que vamos estar a trabalhar ao longo destes anos”, diz ainda, frisando que aquando da elaboração da candidatura foi aplicado um inquérito aos comerciantes “e a aceitação” foi bastante positiva.

 

Comentários