“ReMind” pretende sensibilizar, informar, capacitar e criar uma “rede local” de apoio às pessoas com demência e aos seus cuidadores informais para reduzir o impacto negativo da doença na comunidade.
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
Os resultados dos últimos censos, de 2021, revelaram que no distrito de Beja a percentagem de crianças/jovens, entre os zero e os 14 anos, desceu em todo o território e, consequentemente, o número de idosos, por cada 100 jovens, aumentou (3465 idosos para 1400 jovens).
Com ele, cresceram também os casos de demência associados ao envelhecimento da população. Embora não existam dados reais, uma vez que grande parte das situações não chega a ser reportada ao Serviço Nacional de Saúde, estima-se que em todo o território nacional sejam “200 mil os doentes”, sendo as zonas de interior as mais afetadas.
Em Cuba, a associação Make It Better, sediada no concelho, começou neste ano a desenvolver um projeto-piloto que visa sensibilizar, informar e capacitar a população, em especial, os cuidadores informais e as instituições, para a convivência com a doença, assim como consolidar “uma rede local” que promova “um conjunto de novos serviços de apoio à vida dos cuidadores e das pessoas com demência, como bancos de voluntariado, linhas de apoio on line e uma aplicação móvel para apoiar os cuidadores”.
“No fundo, inspiramo-nos no caso do Reino Unido, onde a dementia froendly community já é uma realidade, inclusive integrada nos planos nacionais de apoio à saúde mental, e adaptámos a este contexto mais pequeno de Cuba. Percebemos que neste concelho os impactos são notórios e, auscultando a comunidade local, que existem muitos mais casos [de demência] que não estão identificados nos sistemas, [ou seja], são pessoas que estão em casa e que o cuidado é dado particularmente por familiares (filhos e cônjuges) e, muitas vezes, por vizinhos”, começa por explicar ao “Diário do Alentejo” o presidente da associação, José Nunes.
A intenção, além de dotar a comunidade cubense de ferramentas para interagir com os próprios doentes, é de criar “uma comunidade amigável da doença em que um conjunto de serviços e de articulações em rede entre instituições locais estão ativados para garantir que a vida das pessoas com demência e dos seus cuidadores tenha melhor qualidade e condições”, uma vez que, aquando do diagnóstico, o quotidiano social, profissional e financeiro fica condicionado, principalmente, o daqueles que cuidam.
“Se tivermos uma população, que por si já é envelhecida, afetada pelas questões da demência e, consequentemente, os seus cuidadores, que nem sempre são pessoas idosas, os níveis das taxas de empregabilidade, de pobreza e de qualidade de vida em termos sociais, como a capacidade de ir ao cinema ou de ter um momento de lazer e relaxamento, são afetados e interferem na qualidade geral da comunidade. Obviamente, que se sente mais individualmente, mas, no conjunto, o impacto é também muito grande, porque, numa escala maior, o comércio, a restauração, as atividades turísticas e culturais ressentir-se-ão. Portanto, é uma bola de neve que procuramos evitar”, esclarece.
Até ao momento, e tendo em conta que o projeto está numa fase inicial, o “ReMind” realizou uma primeira ação de formação de formadores para, brevemente, começar a trabalhar com um grupo de cuidadores informais e apresentou-se, na sexta-feira passada, a oito entidades locais e regionais, entre elas a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, as santas casas de misericórdia de Cuba e de Vila Alva, os Bombeiros Voluntários de Cuba e a Cercibeja.
Embora esteja ainda numa fase experimental, o projeto prevê também a publicação de um manual “com um conjunto de recursos que possam ser úteis a outras comunidades e geografias para que estas o repliquem ou se baseiem nele, se quiserem, noutros territórios”.
MISERICÓRDIAS DE CUBA E VILA ALVA COM ALTO ÍNDICE DE DIAGNÓSTICOS DE DEMÊNCIA
Durante a última sessão de esclarecimento, os representantes das misericórdias de Cuba e Vila Alva identificaram que, de momento, nas suas instituições, a maioria dos utentes, para além dos problemas físicos decorrentes da idade, tem um diagnóstico de demência, por vezes, em estado avançado.
Na Santa Casa da Misericórdia de Vila Alva entre 40 a 45 por cento dos utentes têm demência e, nos últimos tempos, “cerca de 60 por cento” das pessoas que a procuram já têm também esse diagnóstico.
Por sua vez, na Santa Casa da Misericórdia de Cuba, dos 80 utentes, 77 têm “um estado de demência que perturba e interfere na liberdade do outro”, o que representa 95 por cento dos utentes residentes.
“TERTÚLIA REMIND” NA SEGUNDA-FEIRA PARA CUIDADORES INFORMAIS
Na próxima segunda-feira, dia 31, a associação Make It Better promove na sua sede, no edifício da antiga escola primária no bairro Novo da Bica, a “Tertúlia ReMind”, para “cuidadores informais que tenham a seu cargo pessoas com demência”.
A sessão, agendada para as 17:30 horas, visa “partilhar informação útil, dicas práticas e estratégias de cuidado relevantes no seu dia a dia”. E
sta será “o ponto de partida para um conjunto de sessões de apoio a cuidadores” que decorrerão, de forma recorrente na vila de Cuba, “de acordo com as preferências e necessidades destes grupos”.