Diário do Alentejo

Fixação de médicos no interior também “exige investimento em equipamentos”

08 de julho 2023 - 11:00
Governantes visitaram concelhos da área de influência da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, no âmbito da iniciativa “Saúde Aberta”
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Manuel Pizarro, ministro da Saúde, em visita ao distrito de Beja, reconheceu a dificuldade em fixar médicos na região, mas disse confiar “que o investimento numa nova infraestrutura e no reequipamento do hospital [de Beja] também vão ajudar a atrair jovens profissionais”.

 

O governante, que se fez acompanhar pela secretária de Estado da Promoção da Saúde e do secretário de Estado da Saúde, frisou que o serviço de Psiquiatria do hospital de Beja, que atualmente conta com “uma adequada dotação de recursos humanos”, é um bom exemplo de como é possível atrair e fixar profissionais. 

 

Texto Nélia Pedrosa

 

O ministro da Saúde admitiu, na segunda-feira, que o Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, necessita, “sem dúvida nenhuma”, de “uma intervenção de ampliação, mas também de reconfiguração de uma parte dos seus espaços”, e disse que o Governo se compromete, “durante 2023”, a estabelecer “um programa funcional para aquilo que deve ser” o novo edifício, cujo último projeto já data de 2009.

 

Em declarações aos jornalistas no final da iniciativa “Saúde Aberta”, que decorreu na segunda-feira no distrito de Beja, Manuel Pizarro sublinhou que a fixação de médicos no interior “também exige a realização de investimento em infraestruturas e equipamentos”, porque, “havendo competição por um bem escasso, que são os jovens especialistas nas diferentes áreas da medicina, evidentemente que as pessoas acabam por ser atraídas pelos espaços onde há melhores condições de trabalho e isso também passa por instalações e equipamentos”, cabendo, depois, “a cada um dos setores, nos hospitais e nos centros de saúde, procurar, em concreto, atrair e fixar jovens profissionais”.

 

E no caso do hospital de Beja, frisou, “existe um exemplo” em como essa atração e fixação é possível: “Há uma década havia um problema dramático na especialidade de Psiquiatria no Baixo Alentejo e hoje temos aqui um serviço pujante, com uma adequada dotação de recursos humanos. Às vezes temos de fazer o investimento certo e encontrar as lideranças certas para alterar a realidade”, disse, reforçando que “a ampliação e reconfiguração do hospital” merecem “uma fortíssima atenção, mas, claro, a principal atenção há de ser sempre a tentativa e o esforço organizado de tentar captar novos profissionais, nomeadamente, médicos, para o Baixo Alentejo”.

 

O governante lembrou, ainda, que, para além da Psiquiatria, existem outros serviços do hospital de Beja, como a Ortopedia, que estão em “situações mais confortáveis” do que “num passado recente”, contudo, existem outras, como a Obstetrícia e a Pediatria, “em que há dificuldades”.

 

“Temos de encontrar as devidas soluções, mas confio que o investimento numa nova infraestrutura e no reequipamento do hospital também irão ajudar a atrair jovens profissionais”, reforçou.

 

Manuel Pizarro recordou, também, que no decorrer da iniciativa “Saúde Aberta” foram assumidos “múltiplos outros investimentos” em equipamentos, “um pouco por todo o distrito”, nomeadamente, a obra do novo Centro de Saúde de Vila Nova de São Bento, no concelho de Serpa, para além de ter sido lançada a “nova obra do centro de Ourique”. 

 

Não existe “substituto para o Serviço Nacional de Saúde” Antes das declarações à comunicação social, numa reunião realizada no hospital de Beja com os profissionais da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), o ministro afirmou que “não se pode desistir” de tentar atrair e fixar “novos profissionais de saúde para o Alentejo e, para o Baixo Alentejo, em particular”, porque não existe “substituto para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

 

“Não estou a imaginar um grupo privado a fazer grandes unidades de saúde – e só para falar de terras onde fui [no âmbito da ‘Saúde Aberta’] – em Moura ou em Barrancos. Ora, essas pessoas têm o mesmo direito que todos os portugueses a terem cuidados de saúde, e se não for o SNS ninguém o vai fazer. A nossa obrigação é construirmos essas respostas à dimensão das comunidades onde estamos”, disse, referindo que a criação de unidades de saúde familiar pode ser “uma resposta capaz de cativar profissionais para zonas do País, como o distrito de Beja”.

 

O presidente do conselho de administração da Ulsba, por sua vez, sublinhou que assegurar a prestação de cuidados a 64 extensões e 14 centros de saúde e um hospital, com os recursos humanos atuais, “é complicado”.

 

José Carlos Queimado salientou que nos cuidados de saúde primários da Ulsba existem, “de momento, 50 médicos de família e 19 prestadores de serviço”, e que dois terços “têm mais de 60 anos”, o que é preocupante.

 

“Temos de encontrar estratégias de trazer pessoas, porque, neste quadro, as coisas não são fáceis. Na parte hospitalar só temos, com mais de 60 anos, 40 por cento dos médicos. Ainda são muitos, mas a situação é menos dramática do que nos cuidados de saúde primários”, acrescentou, lembrando que os últimos concursos para medicina geral e familiar, no âmbito da Ulsba, ficaram desertos.

 

O responsável referiu, ainda, no que ao hospital diz respeito, que é aguardada, também, “com grande expectativa”, por parte dos profissionais, a segunda fase da infraestrutura, frisando que “os projetos, os estudos”, existentes necessitam “de ser revistos, atualizados”.

 

E sublinhou, ainda, como “boas notícias”, investimentos que já estão a decorrer em algumas áreas, nomeadamente, “um novo bloco de partos, uma nova área de exames e o serviço de ressonância magnética”.

 

A iniciativa “Saúde Aberta” nos 13 concelhos da área de influência da Ulsba que, para além do ministro da Saúde, contou com as presenças da secretária de Estado da Promoção da Saúde e do secretário de Estado da Saúde, teve como objetivo “proporcionar o contacto com utentes, profissionais e autarcas”.

 

CINCO MILHÕES PARA CENTROS DE SAÚDE DE OURIQUE E CASTRO VERDE

Como já referido, as obras de construção do novo Centro de Saúde de Ourique, que representam um investimento avaliado em mais de três milhões de euros e que deve estar concretizado até final de 2024, arrancaram na segunda-feira, numa cerimónia que contou com a presença do secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre. A empreitada é promovida pela Ulsba e “permitirá criar condições de exceção e de grande qualidade para servir esta população”, frisou o governante, citado pela “Lusa”.

 

Já o presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, sublinhou que o investimento vai possibilitar que “uma população envelhecida tenha os cuidados de saúde que merece, que as famílias tenham acesso à saúde e que os jovens tenham a segurança que em Ourique existe, verdadeiramente, futuro”.

 

Durante a cerimónia, o secretário de Estado da Saúde anunciou ainda que a extensão de saúde na freguesia de Panóias, no concelho de Ourique, também vai ser requalificada.

 

Em Castro Verde, Ricardo Mestre anunciou que as obras de requalificação do centro de saúde local vão custar “cerca de dois milhões de euros” e estarão concluídas dentro de dois anos.

 

O projeto, igualmente a desenvolver pela Ulsba, vai permitir “uma requalificação muito profunda” do centro de saúde e respetivo serviço de urgência básica (SUB), disse.

 

O secretário de Estado da Saúde justificou o investimento com o facto de, a par da resposta que o centro de saúde dá “numa primeira instância” à população do concelho, contar com um SUB que, nos primeiros seis meses de 2023, “atendeu 12 000 pessoas”.

 

O governante realçou, ainda, que o SUB de Castro Verde dá resposta à população de vários municípios alentejanos, assim como “a quem flutua nas vias rodoviárias que circundam o concelho e às minas [de Neves-Corvo e Aljustrel]”, por isso, “do ponto de vista das instalações e dos equipamentos”, é necessário ajustar a resposta à realidade.

 

O presidente da Câmara de Castro Verde, António José Brito, congratulou-se com o anúncio de requalificação do centro de saúde, lembrando que era uma exigência da autarquia “desde há cinco anos”.

 

LUÍS COENTROS É O NOVO DIRETOR CLÍNICO PARA CUIDADOS PRIMÁRIOS DA ULSBA

O Governo nomeou o médico Luís Coentro para novo diretor clínico para os cuidados primários da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), com um mandato de três anos. A nomeação de Luís Coentro, que assumiu funções na segunda-feira, dia 3, foi aprovada por despacho pelos ministros da Saúde, Manuel Pizarro, e das Finanças, Fernando Medina.

 

“O diretor clínico foi proposto pela direção executiva do Serviço Nacional de Saúde, integrando o conselho de administração da unidade, nomeado a 6 de abril e presidido por José Carlos Queimado”, avançou o gabinete do ministro da Saúde em comunicado.

 

Luís Coentro concluiu a especialidade em Medicina Geral e Familiar em 2004 e fez todo o seu percurso profissional como médico de família nos Cuidados de Saúde Primários do Baixo Alentejo, onde coordenava, até então, a Unidade de Saúde Familiar (USF) Alfa Beja.

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