Diário do Alentejo

“A vontade de construir um futuro em que o ambiente é basilar”

30 de junho 2023 - 10:30
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A Rota Vicentina – Associação para a Promoção do Turismo de Natureza na Costa Alentejana e Vicentina, fundada em 2013, foi criada com o propósito de gerir a rede de trilhos e potenciar a vocação daquele território para uma dinâmica turística sustentável e com capacidade regenerativa.

 

Com cerca de 100 associados fundadores, conta hoje com mais de 200, maioritariamente, empresas locais, mas também pessoas individuais, entidades públicas e cerca de 40 operadores turísticos de 11 países diferentes.

 

A propósito da comemoração dos seus 10 anos, o “Diário do Alentejo” falou com Marta Cabral, presidente da Associação Rota Vicentina.

 

Texto José Serrano

 

Como resume o trilho que a Associação Rota Vicentina tem vindo a percorrer?

É consistente, apesar das profundas mudanças no território e no setor. A origem foi uma rede de trilhos que conectava fisicamente o território de norte a sul, costa e interior, e a estratégia mantém-se. A presença tornou-se mais densa, na malha de trilhos, na rede de associados e oferta turística e também no âmbito de atuação, que procura envolver, de forma cada vez mais consistente, a comunidade e o seu modo de vida, a economia local.

 

Como tem evoluído a procura, por parte do público nacional e internacional, das atividades ao ar livre que a associação desenvolve?

Em 10 anos, a procura pela Rota Vicentina deixou de ser apenas de um grupo fiel à caminhada e passou a apelar a todos os que pretendem usar o seu tempo livre para praticar atividades em ambientes rurais, com espaço, em silêncio e em consciência. As bicicletas têm uma procura cada vez maior, tal como o surf, a canoagem e todas as atividades de natureza em geral. Destacaria também as atividades mais ligadas à cultura local, que revelam cada vez mais adesão.

 

De que forma tem a Rota Vicentina contribuído para o desenvolvimento social e económico junto das comunidades do território?

Esse desafio passa, muito, pelas oportunidades de negócio e emprego que esta dinâmica turística traz, ao longo do ano, quer na oferta turística, quer nos serviços complementares, nos produtos locais mais identitários. Mas há uma dimensão sociocultural, de envolvimento das comunidades nas dinâmicas que a associação tem sustentado, a partir de iniciativas diversas, que nos parece muito importante, como sejam a Semana ID ou o vídeo promocional que lançámos recentemente. O sentido de “comunidade” em torno do futuro (turístico) do território parece-me ser um contributo de grande valor.

 

É a preservação ambiental entendida por todos como um ativo primordial da costa alentejana e vicentina no modelo de desenvolvimento da região?

Por todos não, claramente. Ainda prevalece uma ideia economicista de que as atividades que tragam emprego são boas para o território, independentemente do custo que a comunidade tenha de pagar. Digo comunidade e não “ambiente” porque me parece perigoso separar estas duas dimensões. As pessoas que escolheram esta terra para viver fazem-no, muito, por essa combinação entre paisagem e “ambiente”, aqui com o duplo sentido de biodiversidade (e água!) e ambiente social. As pessoas procuram qualidade de vida – uma equação complexa que não se esgota num ordenado. A boa notícia é que estas pessoas são muitas e têm muito para dar, estão atentas e mais unidas. Em alguns casos não chega, os desafios são enormes, mas sentimos que há um sentimento partilhado de esperança e vontade de construir um futuro promissor, em que o ambiente, em todas as suas dimensões, é estrutural, basilar!

 

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