António Cartageno, 76 anos, natural de São Mamede de Ribatua, Alijó
Fez os estudos de Filosofia e Teologia no Seminário dos Olivais. Foi ordenado presbítero na igreja do Carmo de Beja, em 1972. De 1987 a 1994 estudou no Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma, onde fez os mestrados em Canto Gregoriano e em Composição Sacra. É autor de numerosas composições litúrgicas. Trabalhou na recolha do canto popular religioso do Baixo Alentejo. Fundou e dirige o Coro do Carmo de Beja. É o responsável do Departamento de Música do Secretariado Diocesano de Liturgia de Beja. O Papa Francisco atribui-lhe o título de monsenhor capelão de Sua Santidade.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou, recentemente, monsenhor António Cartageno, pároco da igreja do Carmo, em Beja, com “O Grande-Colar da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada”, agraciação justificada pelo “mérito de uma vida ao serviço da comunidade nas circunstâncias mais difíceis, ano após ano, década após década”.
Com que sentimento recebeu a notícia deste reconhecimento presidencial?Antes de mais, com surpresa absoluta, no entanto, com muita alegria, naturalmente. E com gratidão, porque o Presidente da República, ao condecorar um cidadão, reconhecer-lhe-á algum mérito… Ao mesmo tempo, sinto-me comovido, por aquilo que sinto nos cidadãos que me cumprimentam e me felicitam. Há um sentimento de alegria coletivo, vejo que é assim, porque as pessoas sentem-se confortadas com este reconhecimento que é também feito à região. Deixe-me dizer assim: esta condecoração não é só minha, é deste povo do Alentejo, que eu sirvo. Eu sou de Trás--os-Montes, mas eu estou aqui. É aqui que eu vivo, é aqui que trabalho.
A justificação desta condecoração está assente no seu trabalho enquanto pastor da diocese de Beja, mas também no seu labor enquanto músico…Sobretudo, nesse labor, acho eu… Porque qualquer padre faz o seu dever junto das suas populações – a liturgia, a assistência religiosa e sociocaritativa. A minha parte é, também, essa, mas está mais especializada na música. E, nomeadamente, no canto popular religioso do Baixo Alentejo, a que ajudei a dar visibilidade, em conjunto com o padre Aparício. O que fizemos foi um trabalho, iniciado em 1978, quase pioneiro em Portugal. Porque já outros tinham feito levantamentos musicais da região, mas nós fizemos o levantamento, publicámos e recuperámos para a liturgia. Não se ouviam cânticos populares religiosos na liturgia até aí. Só em tempos idos. E nós trouxemo-los novamente para o coração e para a voz dos crentes, e isso foi novo. Em Beja todas as semanas se canta qualquer coisa do canto popular religioso do Baixo Alentejo nas eucaristias. E nas procissões e nas festas de Natal. Voltou-se a cantar aquilo que estava esquecido, e isso enche-me de alegria.
Considera que a música, a sua aprendizagem e ensino, pode ser um importante valor na persecução da concórdia entre as pessoas?A música é uma linguagem universal que todos entendem, onde todos se encontram, porque não tem fronteiras. A música congrega pessoas e derruba barreiras. Portugal é um país muito pobre nesse campo. A música, no País, é um parente pobre das outras disciplinas na escola. Foi feito um estudo, na Alemanha, que chegou à conclusão que as crianças que cantam têm melhor aproveitamento escolar e adoecem mais dificilmente do que as que não cantam. Portanto, a música tem muita importância para a educação das crianças, da sua sensibilidade, e para criar um lastro que depois se vai refletir em todo o aproveitamento escolar nas outras disciplinas. A música é pacificadora.José Serrano