Fátima Santos tem 61 anos e é natural de Odemira. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses, pela Universidade Nova de Lisboa, mestre em Estudos Lusófonos, pela Universidade de Évora, e concluiu a parte curricular do doutoramento em Liderança Educacional, pela Universidade Aberta. É formadora de didática específica de Português, coautora de manuais escolares e de livros de apoio ao estudo e autora de livros de poesia e de contos infantis. É professora de Português, na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, há 36 anos.
Recentemente, apresentou o seu livro Seara Poética num encontro literário, promovido pela Associação Cultural Fialho de Almeida, comemorativo do escritor, nascido a 7 de maio de 1857, em Vila de Frades.
Texto José Serrano
É esta sua obra poética edificada de afetos, na medida em que nela homenageia diversas personalidades?
Sim, desde o primeiro momento, porque é dedicada aos meus pais e aos escritores que mais me marcaram, de Eça de Queirós – o meu maior mestre no desenvolvimento do meu sentido crítico e na arte de escrever – a Natália Correia, cuja obra reflete a coragem e a determinação que nortearam a sua vida. O prefácio é de um ex-aluno meu, porque continuo a acreditar que as aprendizagens se realizam melhor quando são construídas com base nos afetos. Creio que muito melhor do que a inteligência artificial será sempre a inteligência emocional, pois são as lágrimas e as gargalhadas que constroem o nosso sentido de humanidade e a capacidade de gerir as nossas emoções.
Em alguns destes seus poemas reflete sobre a transformação que a paisagem alentejana tem vindo a sofrer. Considera existir o perigo de, nesta metamorfose, o Alentejo, tal como o “sente”, se poder vir a esfumar?
O Alentejo tem sofrido algumas alterações inevitáveis, de acordo com políticas económicas europeias, mas temo que o excesso de ambição conduza à perda de noção da importância do equilíbrio, por desejo de realização de receitas rápidas que poderão ser faturas elevadas para as gerações vindouras. As alterações climáticas são uma evidência, os recursos naturais não são inesgotáveis e, mais uma vez, estamos numa situação de seca grave, antecipando-se em um mês as colheitas dos cereais e lamentando-se a falta de alimento para o gado.
O Alentejo está muito presente neste livro. De que forma a sua condição de alentejana influi no caminho traçado pela sua poesia?
Nasci no Alentejo e quando terminei a licenciatura vim para Beja, onde já passei mais de metade da minha vida e onde tenho vínculos inalienáveis. Por outro lado, os meus pais estavam ligados à vida rural, o que contribuiu para que algumas vivências da infância e da juventude fossem consolidadas nesta cidade genuinamente alentejana, portadora de um passado de história e de estórias. Por isso, as minhas memórias e o meu presente no Alentejo dão muito do rumo dos meus “sentires” e da minha imaginação, na escrita.
Que espigas mais deseja colhidas pelos leitores deste seu livro?
Gostaria que os leitores sentissem, nesta colheita de espigas, momentos de reflexão sobre as nossas raízes, a importância da construção de relações interpessoais com base nos afetos e no respeito mútuo, o desejo de criarem e de escreverem. E, sobretudo, que conseguisse sensibilizar para a importância do nosso legado para as gerações futuras – que nos poderão vir a acusar de egoísmo e negligência pela forma como lhes deixámos o planeta, a casa que todos habitamos.