Diário do Alentejo

Dispersão de espécie invasora de mosquito na região “é expectável”

14 de maio 2023 - 10:00
Até ao momento foram apenas detetados 11 ovos no concelho de Mértola
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A delegada de saúde coordenadora substituta do Baixo Alentejo diz que, atualmente, ainda não é possível saber qual a fase de ocupação da espécie invasora mosquito-tigre-asiático na região, dado que apenas foram detetados 11 ovos no concelho de Mértola. E considera que o mais importante, de momento, é reforçar a monitorização, o que já está a ser feito.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Até ao momento foram detetados 11 ovos da espécie invasora Aedes Albopictus (mosquito-tigre-asiático) no Baixo Alentejo, mais concretamente no concelho de Mértola, no final do ano passado.

 

Estes foram os primeiros encontrados no Alentejo, no âmbito do programa nacional Revive – Rede de Vigilância de Vetores, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e que tem como objetivo “não só vigiar as espécies de mosquitos presentes no País e a sua abundância, como também os agentes de doença possíveis de serem transmitidos”.

 

Só no “fim da época de colheitas” do programa de vigilância do Revive, diz, ao “Diário do Alentejo”, Sara Duarte, delegada de saúde coordenadora substituta do Baixo Alentejo, é que será possível saber “mais sobre a situação do mosquito Aedes Albopictus na região do Alentejo, se já está instalado e qual a dispersão do mesmo”.

 

Contudo, sublinha a responsável, “a experiência de outros sítios diz-nos que onde o mosquito é detetado ele acaba por se adaptar e instalar”.

 

Em relação aos primeiros ovos detetados no Baixo Alentejo, Sara Duarte afirma que “era expectável esta chegada, pois o mosquito já está instalado e estabelecido em regiões limítrofes, nomeadamente, no Algarve e em Espanha”. 

 

No entanto, salienta, o mosquito “só por si não é sinónimo de doença”. Para ocorrer doença, “é necessário que a fêmea deste tipo de mosquito pique uma pessoa infetada e depois essa mesma fêmea pique novas pessoas”, explica.

 

Uma vez que Portugal “não tem as doenças dos quais este mosquito é vetor, o risco de transmissão da doença, apesar de não ser zero, é ainda considerado reduzido”.

 

Porém, frisa, “é muito importante” manter as atividades do programa Revive “e reforçar a malha de deteção e implementar as medidas de prevenção e controlo necessárias por forma a reduzir o risco, sendo que parte destas medidas podem ser adotadas por qualquer cidadão”.

 

Segundo a especialista, o Aedes Albopictus foi detetado pela primeira vez em Portugal, na região Norte do País, em 2017, e está instalado e amplamente distribuído na região do Algarve desde 2018.

 

É uma espécie originária do Sudeste Asiático e, “apesar de não ser o vetor primário de dengue, chikungunya e zika, tem capacidade vetorial para a transmissão destes agentes ao homem”.

 

Os 11 ovos de Aedes Albopictus “foram encontrados numa das 70 ovitraps”, armadilhas para o mosquito na forma imatura (ovos, larvas e pupas), que a Unidade de Saúde Pública (USP) da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) tem distribuídas pela região, sendo que muitas destas, sublinha a delegada de saúde, “são vandalizadas, mesmo estando todas identificadas e com o contacto da USP, que pode e deve ser utilizado para esclarecimento de dúvidas”.

 

A rede de vigilância entomológica dirigida ao Aedes Albopictus teve início no Baixo Alentejo em 2016, “quando o mesmo foi detetado no sul de Espanha”, e é realizada anualmente “em todos os concelhos do Baixo Alentejo segundo o preconizado”. Sara Duarte salienta que “mosquito não tem barreiras” e reforça “que a sua dispersão é expectável, daí a importância do programa nacional Revive”.

 

De acordo com a responsável, a USP integra a rede desde 2008, ano coincidente com a sua criação, e desde 2017 tem vindo a estabelecer protocolos de cooperação do Revive com as câmaras municipais, “tendo, no ano de 2022, assinado o protocolo de cooperação 2022-2026 com os 13 municípios do Baixo Alentejo”.

 

Os interlocutores dos municípios, em conjunto com os técnicos de saúde ambiental, adianta a delegada de saúde, “realizam as colheitas de mosquitos adultos e imaturos, sendo as amostras enviadas posteriormente para o Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que procede à identificação das espécies e à pesquisa de agentes infeciosos”.

 

Sara Duarte esclarece que “os mosquitos são introduzidos de forma passiva, isto é, não é o mosquito que voa entre regiões ou países, os mosquitos são transportados em autocaravanas, carros, malas, pneus, plantas, etc., motivo pelo qual, com o aumento das viagens, tanto de pessoas como de mercadorias, assim como as alterações de práticas na agricultura, a movimentação de animais e plantas e as alterações climáticas, têm permitido a introdução, dispersão e estabelecimento do Aedes Albopictus por toda a Europa na última década”.

 

Segundo a responsável, este mosquito “gosta de pequenos criadouros”, pelo que aconselha os cidadãos “a verificarem regularmente a existência de potenciais criadouros no jardim, quintal, em varandas e outros espaços exteriores, principalmente, após a ocorrência de um período de chuva, de modo a proceder à sua limpeza ou eliminação”.

 

Adicionalmente, diz, “os criadouros podem ser pratos de vasos de plantas, pequenas tampas de garrafas, os locais onde inserimos os chapéus de sol numa esplanada, os pneus fora de uso, entre outros. Depois de dias de chuva estes pequenos criadouros devem ser eliminados, e muitos deles evitados”, sedo que, por exemplo, “um prato [de vaso] que está virado ao contrário não acumula água parada”.

 

"PICO, PICO, SAPICO - EVITA A CARRAÇA E O MOSQUITO!"

Os técnicos de saúde ambiental têm vindo a dinamizar, também, no âmbito do Programa Nacional de Saúde Escolar, nos estabelecimentos de educação e ensino da área de abrangência da Ulsba, o projeto “Pico, Pico, Sarapico – Evita a carraça e o mosquito!”, que foi desenvolvido“com o objetivo de sensibilizar a comunidade escolar para as medidas preventivas contra a picada de mosquitos e também de carraças, de forma a evitar doenças transmitidas por estes tipos de vetores”.

 

FÊMEA PODE COLOCAR ENTRE 50 A 300 OVOS POR POSTURA

Sara Duarte esclarece que os mosquitos adultos “alimentam-se de néctares da vegetação e só as fêmeas é que picam, porque necessitam de sangue para realizar a postura dos ovos”.

 

Uma fêmea de mosquitos “pode colocar entre 50 a 300 ovos por postura, necessitando apenas de uma pequena quantidade de água ou de um local húmido, designado por criadouro, que, posteriormente, será inundado”.

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