Diário do Alentejo

Beja destaca-se como um dos distrito com piores resultados académicos

13 de maio 2023 - 10:30
Dados disponibilizados recentemente no portal de estatísticas de educação Infoescolas colocam os alunos das escolas do distrito de Beja entre os que apresentam mais dificuldades académicas.
Ilustração | Susa MonteiroIlustração | Susa Monteiro

No secundário, por exemplo, apenas 51 por cento dos alunos beneficiários de ação social escolar conseguiram concluir os estudos em três anos, a percentagem mais baixa a nível nacional. Considerando o conjunto total de alunos do secundário, o distrito de Beja volta a destacar-se pela negativa, com o valor mais baixo – 68 por cento. Observando a evolução ao longo dos anos, verifica-se, no entanto, que, na maioria dos concelhos do distrito, o insucesso tem vindo a diminuir, com destaque para o 2.º e 3.º ciclos de escolaridade.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Apenas 51 por cento dos alunos beneficiários de ação social escolar (ASE) matriculados nas escolas públicas do distrito de Beja conseguiram concluir, em 2020/2021, o ensino secundário (cursos científico-humanísticos) no tempo esperado, três anos.

 

Segundo os dados atualizados do portal de estatísticas de educação Infoescolas, esta é a percentagem mais baixa registada em Portugal continental naquele ano letivo.

 

O distrito destaca-se, igualmente, como sendo o que apresenta o indicador de equidade mais baixo (-17,3), ou seja, “a diferença entre a percentagem de alunos com apoio ASE” e “a percentagem média nacional de percursos de sucesso”, calculada “com os alunos do País” que, ao entrarem no ensino secundário, “demostraram um nível escolar semelhante ao dos alunos da região e frequentavam escolas com a mesma categoria relativamente à percentagem de alunos com apoio ASE”.

 

Em termos de equidade, para além de Beja, só mais quatro distritos, do conjunto de 18, registaram níveis negativos: Lisboa (-6,4), Leiria (-5,8), Setúbal (-2,6) e Santarém (-1,2).

 

Ainda de acordo com os dados disponibilizados por concelho referentes a 2020/21, verifica-se que somente 31 por cento dos alunos carenciados matriculados nas escolas de Beja conseguiram terminar o secundário no tempo previsto. Neste caso, o indicador de equidade desce para -32,9. Comparativamente aos anos letivos anteriores, regista-se uma diminuição significativa em 2020/21 – em 2019/20, 63 por cento dos alunos terminaram o secundário em três anos; em 2018/19 foram 56 por cento.

 

Dos dois agrupamentos de escolas do concelho de Beja, o n.º 1 é o que apresenta a percentagem mais baixa de alunos com ASE a conseguiram concluir o secundário no tempo esperado – 20 por cento, quando a média nacional para alunos semelhantes é de 58 por cento.

 

No agrupamento n.º 2 esse valor sobe para 41 por cento, sendo a média nacional 71.

 

Os dois agrupamentos apresentam indicadores de equidade de -37,8 e de -28,6, respetivamente. Em comparação com os anos letivos anteriores, verifica-se, igualmente, tanto num, como noutro, um decréscimo percentual das taxas de sucesso.

 

Já no concelho de Moura, a percentagem de alunos beneficiários de ASE que concluíram o ensino secundário em três anos fixou-se nos 60 por cento, uma percentagem superior à verificada nos anos letivos anteriores – 55 por cento em 2029/20 e 51 por cento em 2018/2019. Ainda assim, Moura apresentava, em 2020/21, um indicador de equidade de -17,7 por cento.

 

Nos restantes 12 concelhos do distrito, adianta o portal Infoescolas, não é possível calcular a percentagem de alunos com apoio ASE que concluíram os cursos científico-humanísticos no tempo esperado, nem o indicador de equidade, provavelmente, porque “o número de alunos na amostra é muito reduzido”.

 

À semelhança do que acontece com os alunos beneficiários de ASE, o distrito de Beja é o que apresenta, também, a menor percentagem de estudantes do secundário, considerando o seu todo, a conseguir concluir os estudos em três anos – 68 por cento. Por concelho, Ourique destaca-se como sendo o que apresenta o melhor resultado no referido ano letivo – 81 por cento –, seguido de Ferreira do Alentejo (77 por cento). Os alunos de Mértola (56 por cento), os de Moura (61 por cento) e os de Beja (67 por cento) são os que têm os piores resultados.

 

No que toca à retenção e abandono escolar no ensino secundário em 2020/21, é de destacar a taxa de 25 por cento no 12.º ano em Ferreira do Alentejo, de 21 por cento, também no 12.º ano, em Ourique e 19 por cento no 10.º ano em Mértola.

 

Nos cursos profissionais, de acordo com os mesmos dados referentes a 2020/21, a percentagem de alunos beneficiários de ação social escolar matriculados nas escolas do distrito de Beja que conseguiram concluir o ensino profissional em três anos ou menos é de 63, um valor também inferior ao verificado nos anos letivos 2019/18 (67 por cento) e 2018/19 (68 por cento).

 

Considerando o total de alunos matriculados nos cursos profissionais nos estabelecimentos de ensino do distrito, 69 por cento conseguiram terminar no tempo previsto, valor igual à média nacional para alunos com idênticas características. Contrariamente ao verificado nos alunos carenciados, esta percentagem tem vindo a aumentar, ainda que não muito significativamente (64 por cento em 2019/29 e 62 por cento em 2018/19).

 

Por concelho, de acordo com os dados disponibilizados, Castro Verde (88 por cento), Serpa (80 por cento), Odemira (77 por cento) e Cuba (75 por cento) apresentam as taxas de conclusão no tempo esperado mais elevadas, e que são superiores, nos três casos, à percentagem média nacional para alunos semelhantes.

 

Nos estabelecimentos de ensino dos concelhos de Alvito, Moura, Ourique e Vidigueira as taxas situam-se entre os 65 e os 70 por cento, também superiores à média nacional.

 

Apenas Beja e Mértola, com 55 e 60 por cento, respetivamente, apresentam valores inferiores à média.

 

Em Beja, o concelho com a taxa de conclusão mais baixa, só 33 por cento dos alunos do Agrupamento de Escolas n.º 1 conseguiram terminar o ensino profissional em três ou menos anos (a média nacional é de 80 por cento).

 

No caso do Agrupamento de Escolas n.º 2, foram 52 por cento, quando a média nacional se situa nos 71.

 

2.º CICLO APRESENTA OS MELHORES RESULTADOS A NÍVEL DISTRITAL

No primeiro ciclo, Beja volta a destacar-se, em 2020/21, pela negativa, como o distrito com a taxa de chumbo e insucesso mais elevado – 7,6 por cento –, seguido de Portalegre (cinco por centro) e de Faro (quatro). Segundo o portal Infoescolas, 85 por cento dos alunos matriculados nos estabelecimentos de ensino do distrito conseguiram concluir o referido ciclo em quatro anos. Nos alunos beneficiários de ação social escolar esse valor desce para 74 por cento, situando-se o indicador de equidade em -7,8.

 

Ainda no que diz respeito aos alunos carenciados que conseguiram concluir o 1.º ciclo no tempo previsto, Vidigueira destaca-se pela negativa, com uma taxa de sucesso de 56 por cento – muito inferior à média nacional para alunos semelhantes (73); seguido de Moura, com 61 (média nacional de 76); de Aljustrel, com 67 (média nacional de 84); de Beja, com 68 (média nacional de 81); e de Ferreira do Alentejo, com 69 (média nacional de 86), situando-se os índices de equidade, nestes cinco concelhos, entre -15,6 e -17,7 pontos percentuais.

 

Cuba e Odemira, pelo contrário, apresentam os melhores resultados, com 94 e 93 por cento, respetivamente, valores superiores à média.

 

Considerando o universo de alunos do 1.º ciclo do distrito, salienta-se, ainda, Almodôvar, com 100 por cento a conseguiram concluir os estudos no tempo esperado, sete pontos percentuais acima da média nacional. Em segundo lugar surgem os alunos de Castro Verde, Cuba e Odemira, com 93 por cento.

 

O valor mais baixo foi registado em Moura, com 72 por cento, abaixo da média (85 por cento).

 

De acordo com o portal de estatísticas de educação, em 2020/21 o 2.º ciclo é o que apresenta os melhores resultados a nível distrital, apesar de Beja voltar a ser uma das regiões com piores desempenhos médios (5,5 por cento), a par dos distritos de Lisboa, Portalegre e Setúbal.

 

Ainda assim, 93 por cento do total de alunos e 90 por cento dos carenciados conseguiram terminar o ciclo em dois anos.

 

Saliente-se, ainda, as taxas de sucesso dos alunos matriculados nos concelhos de Barrancos e Castro Verde, com 100 por cento a concluíram no tempo esperado.

 

Os restantes concelhos apresentam taxas entre os 90 e os 98 por cento, a maioria, no entanto, abaixo da média nacional.

 

Também no que concerne aos alunos com apoio ASE, Ourique apresenta uma taxa de conclusão no tempo previsto de 100 por cento (10 pontos acima da média), sendo seguido de Ferreira do Alentejo, com 96, de Serpa, com 93, de Cuba, com 92, e de Odemira, com 90. As escolas de Aljustrel, Beja, Moura e Vidigueira apresentam taxas na casa dos 80 por cento.

 

NO 3.º CICLO, APENAS PORTALEGRE TEM PIORES RESULTADOS DO QUE BEJA

No 3.º ciclo, Beja surge com o segundo pior resultado no que diz respeito à taxa de retenção e abandono, com 6,7 por cento, só ultrapassado por Portalegre (7,3 por cento).

 

Por concelho, as taxas médias de reprovação e abandono mais elevadas em 2020/21 foram registadas nas escolas dos concelhos de Serpa (12,3 por cento) e de Cuba (10,3 por cento). Por ano, os destaques, pela negativa, vão para os 7.º anos nos concelhos de Cuba, Alvito e Serpa, com taxas de retenção e abandono escolar de 18, 19 e 24 por cento, respetivamente.

 

Relativamente à taxa de conclusão no tempo esperado, 84 por cento dos alunos matriculados nas escolas do distrito concluíram o ciclo em três anos, a percentagem mais baixa a nível nacional.

 

No caso dos alunos com ASE, esse valor desce para 73 por cento, também o mais baixo de Portugal continental, correspondendo a um indicador de equidade de -7,3.

 

Nos alunos carenciados, e de acordo com os dados disponibilizados pelo portal, os piores resultados foram registados nas escolas dos concelhos de Aljustrel, com 42 por cento dos alunos a conseguirem terminar nos três anos (indicador de equidade de -32,7); Vidigueira, com 61 por cento (indicador de equidade de -21,4); Serpa, com 63 por cento (indicador de equidade de -21); Beja, com 63 por cento (indicador de equidade de -13,9); e Moura, com 67 (indicador de equidade de -10,1).

 

Pelo contrário, Odemira e Ferreira do Alentejo apresentam as taxas de sucesso mais elevadas, com 88 por cento dos alunos carenciados a terminarem o ciclo no tempo esperado, um valor acima da média nacional.

 

Para os restantes concelhos, não são apresentados dados relativos aos alunos beneficiários de ação social escolar, pelas razões já mencionadas.

 

Considerando o total de alunos matriculados no 3.º ciclo por concelho, Vidigueira e Aljustrel surgem com as taxas mais baixas de conclusão no tempo previsto, 69 e 71 por cento, abaixo da média nacional para alunos com idênticas características.

 

Os restantes 12 concelhos apresentam valores acima dos 76 por cento, sendo de destacar as taxas de conclusão de Cuba (97 por cento), Almodôvar (94 por cento), Alvito, Castro Verde e Odemira (90 por cento), todas superiores à média nacional para alunos semelhantes.

 

Observando a evolução ao longo dos anos, verifica-se, no entanto, que, na maioria dos 14 concelhos do distrito de Beja, o insucesso tem vindo a diminuir, com destaque para o 2.º e 3.º ciclos de escolaridade.

 

O “Diário do Alentejo” tentou obter um comentário junto das direções de alguns dos agrupamentos de escolas do distrito de Beja, nomeadamente, aqueles em que os alunos apresentam mais dificuldades académicas, como os de Aljustrel, Beja ou Mértola, mas tal não foi possível até ao fecho da presente edição.

 

ESCOLAS PROFISSIONAIS

Analisando os dados de 2020/21 relativos às oito escolas profissionais públicas e privadas existentes no distrito de Beja, verifica-se que 80 por cento dos alunos da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa conseguiram concluir o ensino profissional em três anos ou menos, uma percentagem acima da média nacional para alunos semelhantes.

 

Em segundo lugar surge a Escola Profissional de Cuba, com 75 por cento (sete pontos acima da média), e, em terceiro, a Escola Profissional de Odemira, com 70 por cento (três pontos acima da média), e a Escola Profissional de Alvito, também com 70 por cento, o mesmo valor da média.

 

Seguem-se as escolas profissionais Bento de Jesus Caraça – delegação de Beja, com 69 por cento (três pontos acima da média); Fialho de Almeida, em Vidigueira, também com 69 por cento, mas só um ponto superior à média; e, por fim, a profissional de Moura, com 59 por cento (com seis pontos acima da média). Segundo o portal, no caso da Escola Profissional Alsud, em Mértola, não é possível calcular o indicador de conclusão em três anos ou menos dos alunos da escola no ano letivo 2020/21, provavelmente, porque o número de alunos “na amostra é muito reduzido”.

 

"ÓNUS NÃO CABE APENAS ÀS ESCOLAS/AGRUPAMENTOS, AOS DOCENTES"

 

Bárbara Esparteiro, professora especialista em Educação Básica, Formação e Desenvolvimento Profissional do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), embora frise que a sua opinião “é baseada apenas nos dados disponibilizados pelo Infoescolas e no conhecimento adquirido e refletido ao longo do tempo, numa profissão próxima e dentro das escolas do distrito”, considera que “esta matéria carece de reflexão profunda e que seja mobilizadora das competentes forças vivas locais, regionais e nacionais dispostas a agir, de forma contextualizada e integrada nas diferentes variáveis intrínsecas e extrínsecas que interferem no sistema”.

 

A docente do Departamento de Educação, Ciências Sociais e do Comportamento do IPBeja sublinha que a partir de 2021 foi introduzido um novo indicador no âmbito do Infoescolas, o indicador de equidade, “que permite aferir os níveis de sucesso educativo dos alunos de condições socioeconómicas mais vulneráveis (beneficiários do programa de ação social escolar), em cada agrupamento de escolas ou escola não agrupada, município e distrito, em comparação com os resultados médios dos alunos com um contexto socioeconómico e um percurso escolar semelhantes, a nível nacional”, sendo que “(…), é possível observar em que medida os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas têm conseguido promover o sucesso escolar dos alunos de meios mais vulneráveis, contribuindo assim para a concretização do princípio da igualdade de oportunidades que orienta o sistema educativo”.

 

E “à luz do novo indicador”, reforça, Beja é destacado pela negativa, “estando colocado na cauda, com o valor negativo de -17,3, o mais baixo a nível nacional”.

 

À semelhança do indicador de equidade, adianta, “a estatística permite-nos, também, numa primeira análise, que se quer, a seu tempo, aprofundada, percecionar que a percentagem de alunos que reprova ou deixa de estudar é mais elevada a sul do que no centro e norte do País”.

 

Bárbara Esparteiro diz que a situação “é deveras preocupante”, mas que “o ónus não cabe apenas às escolas/agrupamentos, aos docentes…”. E questiona: “O que fazer?”.

 

“Como se constata, os números são muito preocupantes, de suma importância e urgência para a região e daí a necessidade da sua melhor divulgação. Urge que, na região, se promovam debates/discussões sustentadas sobre a temática, que envolvam diferentes atores, desde as escolas/agrupamentos do ensino básico e secundário, Instituto Politécnico de Beja/Escola Superior de Educação, municípios, representantes locais e nacionais ao nível da educação, do trabalho e da solidariedade e que, a par de estudos mais aprofundados, paralelamente, se caminhe a ação...”, conclui.

 

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