Diário do Alentejo

“Concedo que com 'Leva-me' se acrescenta a partilha e o diálogo”

30 de abril 2023 - 14:00
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Martinho Marques tem 73 anos e é natural de Albernoa, concelho de Beja. Frequentou o Liceu de Beja e o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, em Lisboa. Licenciou-se em Ensino da Matemática, pela Universidade Aberta, e foi professor da disciplina durante mais de 30 anos. Foi técnico de operações de meteorologia na Força Aérea Portuguesa. Publicou mais de duas dezenas de livros, abrangendo vários géneros, em que a poesia terá predominado até nos que são “em prosa”.

 

Recentemente apresentou, na Biblioteca Municipal de Beja, o livro Leva-me à luz antes que o sol se ponha, que conta com fotografias de António Cunha.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta esta sua obra poética recém-nascida?Contém 37 poemas que me foram aparecendo desde maio de 2022. Uns foram trazendo os outros, porque o coçar, o comer… e, já agora, o escrever… o pior é começar. Parei quando comecei a ver que passava cada vez mais tempo entre o aparecimento de um e o do seguinte. E entendi que o António Cunha me podia acompanhar com as suas imagens, ampliando a beleza do livro.

 

Todos os títulos dos 37 poemas começam por “Leva-me”. É esta palavra o fio condutor?Poderá ser, mas não houve qualquer intenção de guiar nenhum leitor em direção nenhuma. Nem pensei desvendar fosse o que fosse. Antes de mais, como em outros, interessou-me trabalhá-los até poder gostar deles. Nesse sentido, não é descabido dizer que escrevo para mim. Mas, porque não entendo que sou único, acho muito natural que muitos outros os sintam de maneira semelhante à minha. O “Leva-me” com que começam todos os seus títulos talvez seja indicador do reconhecimento de que careço de auxílio e companhia, admitindo que haja, nalguns casos, quem entenda que o vocativo é uma entidade transcendente. Que pouco me preocupa, porque afinal me transcende.

 

Há intencionalidade poética de elevar a beleza da partilha?Eu não dei por ter havido essa intencionalidade. Mas concedo que com Leva-me se acrescenta a partilha e o diálogo, por vezes com a entidade a que respeita o poema.

 

Esta simbiose entre poesia e imagem é um exemplo da necessidade da partilha artística?Deve ser, embora haja livros meus sem imagens interiores. Mas as frequentes parcerias artísticas que tem havido com o António Cunha e com o António Paizana não têm só a ver com a minha admiração pela sua obra e com o gosto de a ela me associar, advêm também de eu ser amigo deles. Se partilhamos e juntamos o que fazemos deve ser porque também a amizade é partilhada.

 

O que gostaria que este livro levasse a quem o acolher?O que lá está e que eu gostaria muito que pouco se afastasse do que eu queria que lá estivesse. O que neles se transmite (com muita diversidade) e a linguagem usada, com as suas sonoridades... que eu não queria que servissem apenas para a minha diversão.

 

Um poema desta sua obra…Leva-me à sombra.

Tira-me à fogueira

do verão supremo com que o sol trucida.

Dá-me uma copa larga de azinheira/e a sossegada sesta de seguida.

Se os olhos com chapéu tiver tapado

e fino for o feno da almofada,

da sesta acordarei revigorado/para a segunda parte da jornada 

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