Diário do Alentejo

Beja pode ser “solução de curto prazo” para complementar aeroporto de Lisboa

14 de abril 2023 - 11:30
Comissão técnica independente visitou Base Aérea N.º11 e aeroporto a 27 de março
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

A comissão técnica independente (CTI) para a localização do novo aeroporto de Lisboa deslocou-se a Beja, no passado dia 27 de março. Do programa constou uma visita à Base Aérea Nº11, ao aeroporto e, de seguida, uma reunião com a plataforma cidadã SIM! O Aeroporto de Beja é parte da solução. Recentemente, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, reafirmou que a infraestrutura alentejana “tem um potencial de exploração muito grande”. Por outro lado, Rosário Partidário, presidente da CTI, no fim de semana, disse que “a curto prazo”, a solução a encontrar “não pode envolver a construção de infraestruturas”, abrindo a porta à pista alentejana.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

A CTI para o novo aeroporto de Lisboa esteve em Beja, no passado dia 27 de março, visitou a Base Aérea N.º11, o aeroporto e reuniu com a plataforma cidadã no Beja Parque Hotel. Manuel Valadas classificou a conversa com os membros da CTI como “positiva”.

 

“No quadro atual, em que começam a aparecer aeroportos a la carte, muitos falam daquilo que não existe. O novo aeroporto vai levar oito ou nove anos a construir e só Beja está em condições de avançar”, disse o porta-voz da plataforma ao “Diário do Alentejo”, acrescentando que Rosário Partidário mostrou simpatia pela solução alentejana, “pelo menos, como complementar a Faro”, no futuro.

 

No fim de semana, numa entrevista à “SIC”, Rosário Partidário lembrou que “há que encontrar uma solução de curto prazo e, naturalmente, essa solução não pode envolver a construção de infraestruturas. Tem de ser outro tipo de solução que estamos a analisar” e acrescentou que “pode ser apenas uma localização, podem ser duas ou três, com períodos temporários diferentes”.

 

Recorde-se que, na passada semana, Monte Real surgiu como mais uma hipótese de localização, somando-se assim às cinco originais propostas pelo Governo (Alcochete; Montijo + Portela; Portela + Montijo; Portela + Santarém; e Santarém) e a mais quatro acrescentadas pela CTI (Alcochete + Portela; Beja; Alverca + Portela; e Monte Real).

 

Até dia 20 ainda podem surgir mais propostas, mas dia 27, diz Rosário Partidário, será efetuada uma primeira seleção para serem avaliadas com mais profundidade”. Os relatórios com as conclusões têm de estar fechados até novembro, dando-se depois início à fase de discussões públicas.

 

Em dezembro passado, a também professora do Instituto Superior Técnico, quando questionada se faria sentido um aeroporto de Lisboa afastado da cidade, disse que “a distância física não é o fator mais relevante.

 

“O mais relevante são sempre as acessibilidades em tempo e em alternativas para chegar à cidade a partir do aeroporto. Obviamente que não é desejável que seja muito longe, mas a distância em tempo é, digamos, o principal aspeto e isso depende da oferta que existe, dos modos de transporte e das soluções de deslocação”, realçou, acrescentando que qualquer das hipóteses “implica repensar acessibilidades”.

 

REPROGRAMAÇÃO DO PRR

Manuel Valadas revela que durante a reunião entre a plataforma cidadã e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o assunto das acessibilidades esteve em cima da mesa, no sentido de acelerar a eletrificação da Linha do Alentejo e a construção da variante ferroviária até ao aeroporto, e que o ministro os desafiou a serem “criativos” na procura de financiamento, lembrando que iria haver uma reprogramação dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que poderia ser a solução.

 

O porta-voz da plataforma cidadã revelou, ainda, que enviaram uma carta a Ceia da Silva, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região (CCDR) do Alentejo, a solicitar que “desenvolva contactos para que esta obra seja inscrita no quadro de apoios” que reabriu na passada sexta-feira.

 

Na calha está também uma reunião, para breve, com a ministra da Coesão Territorial, para a sensibilizar para o mesmo objetivo. Aliás, Ana Abrunhosa, durante uma visita efetuada na semana passada às obras do Hospital Central do Alentejo, em Évora, lembrou que “é conhecida há muito tempo por defender a ideia de que o aeroporto de Beja tem um potencial de exploração muito grande”.

 

Recorde-se que recentemente a ministra da Coesão e o ministro das Infraestruturas estiveram no aeroporto de Beja, sem a presença da comunicação social. Questionada pela “Lusa” sobre o assunto, referiu que “a visita foi organizada por um conjunto de empresários portugueses, que associaram [à mesma] empresários chineses e o embaixador” da China.

 

A comitiva deslocou-se a “explorações agrícolas” com “produção de energia e projetos apoiados com fundos europeus e, depois, propiciou-se a visita ao aeroporto de Beja, mas numa perspetiva de se perceber para as empresas o potencial que o aeroporto tem em termos de plataforma logística”.

 

“É um aeroporto que não tem slots, ou seja, é mais fácil o movimento de aviões e, portanto, foi uma visita de trabalho como normalmente fazemos”, resumiu Ana Abrunhosa”.

 

A ministra explicou que o Alentejo “é talvez das regiões do mundo onde a produção de energia a partir do Sol tem melhores condições e hoje o transporte de energia é ainda caro.

 

Para “as empresas que usam muita energia nos seus processos de produção, enquanto não encontrarmos uma solução de armazenamento de energia e de transporte de energia, é óbvio que estes territórios que produzem energia são atrativos para as empresas se implantarem e a existência de um aeroporto que possa ter e tem condições para também ter uma plataforma logística é importante”, defendeu.

 

PARTICIPAR É PRECISO

No site que a CTI abriu à participação de todos os cidadãos, a hipótese Beja é aquela que mais mobiliza os internautas, com mais de 2600 opiniões, muito à frente de todas as outras soluções. No top de comentários a favor pode ler-se, por exemplo, que “esta solução parece a mais interessante pois aproveita uma infraestrutura já existente e dinamiza toda uma região que precisa de crescimento sustentado.

 

Beja também pode dar apoio ao aeroporto de Faro. Seria também benéfico para toda a região a construção de uma ferrovia capaz e moderna, para começar a ligar todos os distritos, com linhas modernas e rápidas”. Em sentido contrário o argumento generalizado é a distância da capital.

 

Ainda a decorrer está a recolha de assinaturas para que o assunto seja discutido pelo plenário da Assembleia da República. Já foram recolhidas 4000 das 7500 necessárias e a plataforma cidadã apela a que “os alentejanos se mobilizem” para que este número seja alcançado rapidamente.

 

A COMISSÃO

A comissão dinamizadora da plataforma cidadã SIM! O Aeroporto de Beja é parte da solução sugeriu, na passada quarta-feira, uma “reunião urgente” entre as comissões de coordenação e desenvolvimento regional do Alentejo e Algarve e respetivas comunidades intermunicipais.

 

O objetivo é o de consertar posições e intervir junto do Governo “no sentido deste incluir os trabalhos de renovação e eletrificação do troço ferroviário Beja-Ourique/Funcheira no quadro da reprogramação do PRR em discussão até ao próximo dia 21 de abril”.

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