Diário do Alentejo

Água “já não corre no rio Mira”

09 de abril 2023 - 11:00
Ativistas do Juntos Pelo Sudoeste e SOS Rio Mira denunciam situação de “agonia”
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O rio Mira encontra-se sem caudal no percurso que vai da barragem de Santa Clara até à foz, em Vila Nova de Milfontes. A denúncia partiu dos movimentos ambientalistas da região que apontam o dedo ao “agronegócio” e à falta de regulamentação por parte das autoridades. Hélder Guerreiro garante que água não irá faltar nas torneiras “nos próximos três anos”.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O nível de armazenamento de água na bacia hidrográfica do Mira é de 36,8 por cento, muito abaixo da média da última década, que é de 79,7 por cento.

 

A propósito do Dia Mundial da Água – que se assinalou a 22 de março – os movimentos de cidadãos Juntos pelo Sudoeste e SOS Rio Mira lançaram mais um “alerta” para o estado ecológico daquele habitat, para a “escassez de água para o abastecimento do concelho de Odemira” e do Perímetro de Rega do Mira (PRM).

 

No entanto, Hélder Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, em declarações ao “Diário do Alentejo”, garantiu que o município está empenhado, em conjunto “com as várias entidades envolvidas” – Associação Portuguesa do Ambiente (APA), Direção Regional de Agricultura (DRA), Associação de Beneficiários do Mira (ABM) –, em firmar um “pacto da água” que garanta a “gestão sustentável” deste recurso.

 

“A ideia é, de acordo com a precipitação e a utilização da água, assegurar o abastecimento público para os próximos três anos”, diz o autarca, admitindo que em caso de rotura do armazenamento a rega possa vir a ficar em causa.

 

A autarquia também já se reuniu com os movimentos de cidadãos da região e vai continuar os contactos com as entidades oficiais referidas para a conclusão de um acordo para o uso da água.

 

ESTUFAS TRIPLICAM

De acordo com dados recolhidos pelo movimento Juntos pelo Sudoeste (JPS) a que tivemos acesso, entre 2013 e 2021 a área de culturas cobertas na região quase triplicou, passando de 438 para 1576 hectares. Por outro lado, na década entre 2011 e 2020, a precipitação apenas em quatro anos atingiu a média (ver quadro). No entanto, referem os ambientalistas, “apesar da variação da pluviosidade anual ser positiva nalguns anos e negativa noutros, a variação do volume disponível anualmente teve sempre tendência negativa”.

 

Em 2011 o volume de água disponível na albufeira era de 487,7 hectómetros cúbicos e 10 anos depois era cerca de metade (244,4 hectómetros cúbicos). Quanto ao nível, passou, no mesmo período, de 130,1 (6 de maio de 2011 foi a última vez que se atingiu o nível de pleno armazenamento) para 114,7, em 30 de abril de 2021.

 

Em comunicado, os movimentos de cidadãos JPS e SOS Rio Mira apontam o dedo ao “agronegócio”, acusando os proprietários agrícolas de não “respeitarem os limites do território, assim como os seus recursos, pessoas e valores naturais”, mas, também, criticando “quem deveria regular, fiscalizar e repor um equilíbrio há muito perdido”.

 

Os ambientalistas dizem que o facto de a “agricultura industrial” representar “mais de 60 por cento da atividade económica local” é responsável por ter “aniquilado quase tudo à sua volta, fazendo parecer que não existe em Odemira lugar para mais nada”, esquecendo a outra face da moeda que é “o passivo ambiental e social” que daí resulta.

 

VALOR DA PRECIPITAÇÃO *

  • 2011 -15,0;
  • 2012 -27,9;
  • 2013 6,5;
  • 2014 24,5;
  • 2015 -32,0;
  • 2016 12,4;
  • 2017 -38,8
  • 2018 6,8;
  • 2019 -14,3;
  • 2021 -16,3;

*em percentagem

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