Diário do Alentejo

Criminalidade violenta e grave aumentou 42,9 por cento no distrito de Beja

07 de abril 2023 - 10:30
Condução sob efeito de álcool, ofensa à integridade física e violência doméstica são os crimes mais participados
Ilustração | Susa MonteiroIlustração | Susa Monteiro

De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna de 2022, divulgado na semana passada, a criminalidade geral, no distrito de Beja, aumentou 19,4 por cento e a violenta e grave 42,9 por cento, em relação a 2021. Comparativamente a 2019, último ano pré-pandemia de covid-19, registou-se uma subida de 25,5 por cento na criminalidade geral e 10,09 por cento na violenta e grave. Quer num caso, quer noutro, os aumentos são superiores às médias nacionais.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

A criminalidade violenta e grave no distrito de Beja aumentou 42,9 por cento em 2022 em relação ao ano anterior, muito acima da média nacional – 14,4 por cento –, segundo os dados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2022, divulgado na semana passada.

 

De acordo com o documento, que se baseia nos dados disponibilizados pelas forças e serviços de segurança, o distrito de Beja registou, no ano passado, 120 participações relativas a crimes violentos e graves, mais 36 do que em 2021. Em termos percentuais, a nível nacional, incluindo as regiões autónomas, Beja é o terceiro distrito com a maior subida, a seguir à Madeira (52 por cento) e a Évora (46,2 por cento).

 

Comparando com 2019, último ano pré-pandemia de covid-19, registaram-se mais 11 participações, o que corresponde a um aumento de 10,09 por cento. A nível nacional, porém, verifica-se que em 2022, comparativamente a 2019, a criminalidade grave diminuiu sete por cento.

 

O secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Paulo Vizeu Pinheiro, explicou, em conferência de imprensa realizada após o relatório ter sido analisado no Conselho Superior de Segurança Interna, que, para fazer a análise da criminalidade registada pelas forças e serviços de segurança em 2022, é “necessário existir uma comparação com 2019”, uma vez que 2020 e 2021 foram influenciados por medidas restritivas devido à pandemia da covid-19. Apesar disso, o RASI 2022 mantém a estrutura de comparação anual, precisou.

 

No que concerne à criminalidade geral, o distrito de Beja registou, em 2022, um aumento de 19,4 por cento face a 2021, tendo passado de 4321 participações para 5160. Esta subida é, também, superior à média nacional – 14,1 por cento. Beja é o sexto distrito com maior aumento em 2022.

 

Em comparação com 2019, registaram-se mais 1049 participações, o que corresponde a uma subida de 25,5 por cento, uma vez mais, muito acima da média nacional, que se situou nos 2,5 por cento. Sublinhe-se que em 2019 o distrito de Beja tinha registado uma diminuição de 2,6 por cento relativamente a 2018, apresentando menos 110 participações.

 

Analisando os dados da criminalidade desde 2013, verifica-se que 2022 é o ano com o valor mais elevado – as já mencionadas 5160 participações – da última década. O mesmo se verifica em relação à criminalidade violenta, com 120 participações.

 

No RASI é referido, ainda, que “no que respeita à criminalidade, importa destacar a violência doméstica, a qual continua a ser merecedora de uma especial atenção por parte das forças de segurança”. O crime de violência doméstica contra cônjuge ou análogo é “aquele que observa o maior número de registos entre toda a criminalidade participada (26 073)” a nível nacional, sublinha o relatório.

 

No caso do distrito de Beja, em 2022, registaram-se 421 ocorrências, mais 83 do que em 2021, o que representa uma subida de 24,6 por cento, quando a média nacional se situa nos 15 por cento. Beja é, uma vez mais, um dos distritos que apresenta uma das maiores variações percentuais entre 2021 e 2022 no que diz respeito à violência doméstica, só ultrapassado por Santarém e Portalegre.

 

Comparativamente a 2019, verificaram-se mais 111 ocorrências, o que corresponde a um aumento de 35,8 por cento. À semelhança da criminalidade geral, também a violência doméstica apresentou, em 2019, um decréscimo de ocorrências em relação a 2018 (-4,9 por cento, -16 participações).

 

CONDUÇÃO SOB EFEITO DE ÁLCOOL, OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Dos 15 crimes que, em conjunto, representam aproximadamente 68 por cento do total da criminalidade participada no distrito de Beja em 2022, o crime de condução de veículo com taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l lidera a tabela com 430 participações, logo seguido de ofensa à integridade física voluntária simples (421).

 

Em terceiro lugar surge a violência doméstica contra cônjuge ou análogo (376), seguida de condução sem habilitação legal (309), outro dano (301), ameaça e coação (284), outras burlas (253) e burla informática e nas comunicações (214).

 

Com menos de 180 notificações aparecem os crimes de incêndio de fogo posto (177), outros furtos (167), furto em veículo motorizado (166), difamação, calúnia e injúria (130), furto de oportunidade de objeto não guardado (107), tráfico de estupefacientes (97) e furto em residência com arrombamento, escalamento ou chave falsas (86).

 

Em comparação com 2021, os crimes que registaram maior aumento foram burla informática e nas comunicações (+63,4 por cento), furto em residência com arrombamento, escalamento ou chaves falsas (+45,8 por cento), condução sem habilitação legal (45,1 por cento) e tráfico de estupefacientes (36,6 por cento). O crime de fogo posto foi o único que registou um decréscimo (-24,7 por cento).

 

Em 2019, último ano pré-pandemia, o fogo posto, ofensa à integridade física, condução de veículo com taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l, outro dano e violência doméstica contra cônjuge ou análogo foram os crimes mais participados.  

 

Já na criminalidade violenta, destacam-se, como os crimes mais participados em 2022, a resistência e coação sobre funcionário (32 participações), extorsão (24), ofensa à integridade física voluntária grave (20) e roubo na via pública exceto por esticão (18). A maior variação percentual comparativamente a 2021 verificou-se na extorsão (+100 por cento), seguido de ofensa à integridade física voluntária grave (+66,7 por cento) e resistência e coação sobre funcionário (+39,1 por cento).

 

Em 2019, a resistência e coação sobre funcionário também ocupava o topo da tabela, sendo seguida, no entanto, do roubo por esticão e do roubo na via pública exceto por esticão.

 

Também o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, citado pela “Lusa”, sublinhou, antes de ser dado a conhecer o Relatório Anual de Segurança Interna, que “o ano de 2022 foi um ano especificamente exigente, porque foi o ano do desconfinamento pós-pandemia, com efeitos na saúde pública que são conhecidos.

 

Também é o ano em que se inicia a guerra, que também tem trazido ameaças e riscos que são sentidos na vida das comunidades”.

 

Apesar de todas as exigências decorrentes da pandemia e do quadro de guerra na Ucrânia, José Luís Carneiro evidenciou que estes números demonstram que “a sociedade portuguesa continua a ser uma sociedade pacífica, coesa e segura”.

 

Contactado pelo “Diário do Alentejo”, o Comando Distrital da PSP de Beja disse não ser possível tecer um comentário sobre os dados apresentados no RASI 2022, uma vez que “são dados agregados por concelho e por distrito” e “a área sob a responsabilidade da PSP, nomeadamente, as cidades de Beja e Moura, limitam-se aos perímetros urbanos das mesmas, pelo que mesmo os dados por concelho não refletem a realidade da área sob a nossa responsabilidade”.

 

O “DA” questionou, igualmente, o Comando Territorial de Beja da GNR, mas não obteve resposta até ao fecho da presente edição.

 

BEJA E ODEMIRA COM MAIOR NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES

Das 5160 participações registadas em 2022, 1184 dizem respeito ao concelho de Beja (22,9 por cento) e 1014 ao de Odemira (19,7 por cento). Seguem-se os concelhos de Moura (445 participações; 8,6 por cento), Serpa (418; 8,1 por cento), Ferreira do Alentejo (376; 7,3 por cento), Aljustrel (270; 5,2 por cento), Almodôvar (209; 4,1 por cento), Castro Verde (201; 3,9 por cento), Cuba (188; 3,6 por cento), Ourique (162; 3,1 por cento), Mértola (140; 2,7 por cento), Alvito (128; 2,5 por cento) e Barrancos (101; 2,0 por cento).

 

Em 2019 os três primeiros lugares eram ocupados pelos mesmos concelhos que em 2022 apresentavam o maior número de participações – Beja (1057), Odemira (773) e Serpa (385). Moura ocupava a quarta posição (295) e Ferreira do Alentejo (288), Aljustrel (200) Vidigueira (191) e Almodôvar (184) mantinham-se nos atuais lugares.

 

Ourique aparecia em nono (158), seguido de Mértola (142), Castro Verde (139), Alvito (99), Cuba (92) e Barrancos (29). Todos os concelhos, à exceção de Mértola, registaram um aumento de participações entre 2019 e 2022, destacando-se Barrancos (+248,3 por cento), Cuba (+104,3 por cento), Moura (+50,8 por cento), Castro Verde (+44,6 por cento), Aljustrel (+35 por cento) e Odemira (+31,2 por cento).

 

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