Diário do Alentejo

Cuba, Moura e Odemira distinguidas por apoiarem cuidadores informais

02 de abril 2023 - 13:00
Acompanhamento psicológico, sessões de informação e criação de respostas de descanso para quem cuida são algumas das ações desenvolvidas
Ilustração Susa Monteiro/ArquivoIlustração Susa Monteiro/Arquivo

Cuba, Moura e Odemira estão entre as 42 autarquias que foram galardoadas com o selo de mérito do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, na segunda edição da rede de Autarquias que Cuidam dos Cuidadores Informais (Racci).

 

Texto Nélia Pedrosa

 

As câmaras municipais de Cuba, Moura e Odemira foram as três autarquias do distrito de Beja distinguidas recentemente com o selo de mérito do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais pela implementação de boas práticas e medidas de apoio em benefício dos cuidadores informais.

 

No total foram 54 as propostas apresentadas no âmbito da segunda edição da Rede de Autarquias que Cuidam dos Cuidadores Informais (Racci), um projeto do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, com o apoio institucional da Merck, tendo sido reconhecidas 42, quase o dobro das distinguidas na edição de 2021.

 

Lurdes Balola, vereadora na Câmara de Moura, afirma que “é preocupação” do município “cuidar de quem cuida” e que “é importante valorizar e reconhecer o papel do cuidador formal e informal ao nível da coesão social, saúde e bem-estar da comunidade, assim como promover a valorização dos cuidadores em diferentes áreas temáticas”.

 

A autarca acrescenta que se deve, “também, incentivar a comunicação entre os cuidadores formais e informais, proporcionando partilha de experiências, prestar apoio psicológico individual e/ou em grupo e estimular a criação de respostas de descanso para os cuidadores informais”.

 

O projeto “Apoio ao cuidador” da Câmara de Moura arrancou em 2020, embora, devido à pandemia de covid-19, “tivesse ficado apenas com o apoio psicológico via telefone”.

 

Em maio de 2022 tiveram início as sessões mensais de apoio, com uma equipa que integra técnicas da autarquia – assistente social, animadora sociocultural e psicóloga – e que é acompanhada pelas equipas do Centro de Saúde de Moura e de gerontopsiquiatria do hospital de Beja (Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo).

 

Cada sessão, explica a vereadora, tem um tema diferente – “alimentação, higiene, emoções, comunicação, cuidados básicos e segurança, entre outros” –, de forma a dar “ferramentas de conhecimento aos cuidadores”. São, ainda, efetuados “encaminhamentos para a segurança social e articulação de situações com a área da saúde”.

 

Desde o início do ano já foram acompanhados 11 cuidadores, mais um do que em 2022 e mais sete do que em 2021. Acompanhamentos, em quase três meses deste ano, foram sete – durante 2022 tinham sido 14 e, em 2021, 10.

 

Lurdes Balola justifica o aumento do número de cuidadores e de atendimentos com o facto “de a medida começar a ter visibilidade na comunidade”.

 

Frisa, no entanto, que “existem vários cuidadores” no concelho “que não recorrem ao apoio, uma vez que não têm com quem deixar a pessoa doente”. “As pessoas ainda têm alguma dificuldade em participar nestes grupos”, diz.

 

Os cuidadores acompanhados atualmente “são do sexo feminino, têm uma média de idade à volta dos 55 anos e são filhas dos doentes”.

 

PROJETO EM ODEMIRA JÁ ABRANGEU MAIS DE 120 CUIDADORES

O município de Odemira, que já tinha sido reconhecido na edição do ano passado, “congratula-se com esta distinção”, considerando que “vem reconhecer o trabalho desenvolvido em prol dos cuidadores informais do concelho, no âmbito do projeto Cui(DAR)+, uma vez que continua a ser uma aposta da intervenção social desenvolvida” pelo município “quer com os cuidadores informais, quer com as pessoas cuidadas”, diz, por sua vez, a vereadora Isabel Palma Raposo, reforçando que a apresentação da candidatura demonstra “a preocupação que o município tem com a intervenção junto desta população e o impacto que o projeto teve no território, uma vez que a meta contratualizada em sede de candidatura foi superada em 338 por cento”.

 

O projeto Cui(DAR)+, lembra, surgiu no âmbito de uma candidatura da Taipa – Organização Cooperativa para o Desenvolvimento Integrado ao instrumento de financiamento “Parcerias para o impacto” do Portugal Inovação Social (Fundo para a Inovação Social), que contou com a parceria do município de Odemira enquanto investidor social.

 

Assim, entre novembro de 2018 e outubro de 2021 o projeto foi financiado pelo Portugal Inovação Social, garantindo a câmara 30 por cento do valor total (75 487,12 euros). 

 

Desde novembro de 2021, e até final deste ano, o município assumiu a totalidade dos custos, através de um protocolo estabelecido com a Taipa, que continua a implementar o projeto no terreno, com a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano e com o Centro Distrital de Beja do Instituto da Segurança Social, “uma vez que entendeu que o projeto teve impacto na melhoria da qualidade de vida dos cuidadores informais e das pessoas dependentes no concelho”.

 

A vereadora sublinha que o Cui(DAR)+ permitiu a criação “de serviços de resposta às necessidades desta população, como, por exemplo, a criação do gabinete itinerante de apoio à pessoa cuidadora, revelando-se da maior importância para dar resposta a uma necessidade crescente do apoio prestado pelo projeto”.

 

De acordo com dados avançados pela Taipa, o gabinete de apoio à pessoa cuidadora recebeu, em 2022, 24 novas adesões, tendo sido acompanhados, no total, nesse mesmo ano, 81 cuidadores e efetuados 1288 atendimentos.

 

Este acompanhamento decorreu, sobretudo, em regime presencial de itinerância, “uma vez que o território de Odemira, além de extenso em área, é caracterizado pela dispersão dos centros urbanos populacionais e, sendo os beneficiários do projeto maioritariamente população idosa, os constrangimentos das deslocações têm justificado a descentralização desta resposta, evitado também que as pessoas cuidadas fiquem sem a supervisão” dos cuidadores, explica a associação.

 

Em 2023, até ao final da semana passada, o gabinete registou quatro novas adesões, totalizando, assim, 124 cuidadores abrangidos desde a sua criação, e efetuou 390 atendimentos, contabilizando, no total, 4923.

 

Segundo os mesmos dados, 80 por cento dos cuidadores acompanhados desde o início da resposta até dezembro de 2022 eram mulheres, tinham uma idade média de 63 anos e eram maioritariamente cônjuges (34 por cento) ou filhos (46 por cento) da pessoa cuidada.

 

CUBA QUER CRIAR "COMUNIDADE AMIGA DA DEMÊNCIA"

Em Cuba, a apresentação da candidatura foi motivada por uma iniciativa que a câmara, em conjunto com a Make it Better – Associação para a Inovação e Economia Social, com sede na vila, mantém em curso desde meados de 2022 “e através da qual se procuram gerar condições propícias à constituição e consolidação de uma verdadeira ‘Comunidade Amiga da Demência’”, um modelo piloto de base comunitária, que conta com a cooperação de várias entidades do concelho, nomeadamente, do setor da saúde, ação social, proteção civil, bem-estar, desenvolvimento local e educação, entre outras, explica a vereadora Sandra Heleno Serrano.

 

“Uma vez que a demência está fortemente associada à idade, fazendo do envelhecimento populacional o principal fator para a sua crescente prevalência, o concelho, tal como muitos outros em Portugal e por todo o Sul da Europa, vai vendo crescer o número de pessoas afetadas pela doença e, consequentemente, o número de pessoas que por via de laços de proximidade (familiares, mas não só) vão assumindo o cuidado informal dessas pessoas”, sublinha a autarca, frisando que, com a atribuição do selo, a autarquia viu “reconhecido o seu esforço e a estratégia que está neste momento a desenvolver no contexto da demência e, particularmente, no que respeita à forma como essa estratégia procura, de forma inovadora no contexto nacional, suportar e capacitar os cuidadores informais de pessoas afetadas pela doença”.

 

A vereadora reforça que o projeto que está a ser desenvolvido visa “contribuir para melhorar o bem-estar dos cuidadores informais de pessoas com demência, bem como, em consequência, das pessoas cuidadas, melhorando e reforçando competências e capacidades, ativando uma rede local para a promoção da inclusão dos grupos visados, informando e sensibilizando toda a comunidade para a prevenção e para o cuidado da doença, desenvolvendo respostas e práticas de suporte a estes grupos, e promovendo de forma integrada a criação de uma comunidade mais inclusiva e ‘amigável’”.

 

As respostas previstas no âmbito da “Comunidade Amiga da Demência” incluirão, entre outras, segundo avança Sandra Heleno Serrano, um “banco” de tutores, a capacitação das instituições, públicas e privadas da comunidade (comércio, serviços, escolas, espaços públicos e restaurantes, entre outros), o desenho de uma aplicação móvel (App) e uma plataforma web que oferecerá de forma fácil informação e recursos úteis para cuidadores.

 

Neste momento foram já formados quatro tutores, que se encarregarão de criar uma rede de apoio aos cuidadores, sendo que mais quatro serão formados numa ação que irá decorrer em maio.

 

“Esperamos, no médio prazo, garantir as condições necessárias para a geração de uma verdadeira ‘Comunidade Amiga da Demência’, mais participada, acessível e envolvendo todas as partes (organizações públicas, privadas e sociedade civil) na inclusão dos públicos afetados”, reforça a autarca, adiantado que se estima que em Cuba “existam, no mínimo, 100 pessoas a prestar cuidado informal, uma estimativa muito conservadora quando considerada a estimativa do Instituto de Segurança Social, cerca de 10 por cento da população”.

 

A autarquia conta, no entanto, “poder conhecer com mais detalhe estes dados, uma vez consolidados os diferentes pilares em que assenta a ‘Comunidade Amiga da Demência’ em desenvolvimento”, conclui.

 

MAIORIA SENTE FALTA DE APOIO EMOCIONAL/PSICOLÓGICO

De acordo com o inquérito feito pelo Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, os cuidadores informais sentem falta de apoio emocional/psicológico (64,6 por cento), apoios relacionados com o Estado (59,1 por cento), apoios financeiros (51,8 por cento) e a necessidade de receber formação específica em algum aspeto do processo de cuidar (41,2 por cento).

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