Diário do Alentejo

“Atribuo a mais alta importância à salvaguarda dos centros históricos”

05 de março 2023 - 16:00
Foto | DRFoto | DR

Ana Paula Amendoeira é natural de Reguengos de Monsaraz e historiadora, licenciada pela Universidade de Lisboa, com especializações em Recuperação de Património, pela Universidade de Évora, e em Património Mundial da Unesco, pela Paris IV Sorbonne. É membro do grupo de trabalho da Unesco para a Lista Indicativa do Património Mundial Português, do comité executivo internacional do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios para o património mundial e do comité científico do programa “Joint Programme Iniciative on Cultural Heritage and Global Change”, da União Europeia. É também diretora Regional de Cultura do Alentejo.

 

Recentemente foi distinguida pela Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico com o prémio nacional “Memória e Identidade” 2023.

 

Texto José Serrano

 

Qual a importância que atribui a este reconhecimento?

A importância é a do reconhecimento do nosso trabalho, mas, sobretudo, a responsabilidade acrescida para tentar fazer mais e melhor pela nossa região. Agradeço a todos os que diariamente contribuem para fazermos o nosso trabalho com sentido de serviço público, a toda a equipa da DRCAlentejo, aos municípios e a todos os parceiros que connosco trabalham, em toda a região.

 

Impõe-lhe, assim, este prémio, anteriormente outorgado a personalidades como Álvaro Siza Vieira, Júlio Pomar ou José Saramago, uma responsabilidade acrescida?

Sem qualquer dúvida, essa é a maior responsabilidade, visto que me sinto um anão a caminhar aos ombros de gigantes, para usar a conhecida e muito acertada expressão que, neste caso, se aplica inteiramente.

 

Como classifica a importância da preservação dos centros históricos para o acréscimo de bem-estar às populações que neles vivem?

Atribuo a mais alta importância. O Alentejo tem, nessa matéria, um valor incalculável, que todos temos responsabilidade de salvaguardar. O trabalho em parceria com os municípios é essencial. Os instrumentos de gestão territorial são importantíssimos para assegurar uma transparência e equidade na gestão e salvaguarda das aldeias, vilas e cidades do Alentejo, com uma qualidade urbanística, construtiva, estética e monumental assinalável, na maioria.

 

Considera que essa importância é inequivocamente percecionada pelos responsáveis autárquicos da região?

Creio que todos estamos cientes da importância do património. Mas há sempre um trabalho de sensibilização que deve ser feito, ininterruptamente. Temos que continuar o trabalho de aprofundar o valor do património e a forma como pode contribuir para o nosso futuro. O conhecimento associado ao património e ao saber tradicional é dos mais fortes contributos para enfrentarmos as alterações climáticas. Os nossos centros históricos, tal como estão pensados e adaptados ao clima, são exemplos maiores que devem ser referência nessa e em outras matérias. Temos que aprender a tratá-los não apenas como recursos a usar sem parcimónia. São muito mais do que isso.

 

A valorização dos centros históricos é ubíqua no Alentejo, nas suas várias regiões?

A DRCAlentejo procura ter equidade na atenção que dá a toda a região. Procuramos que os instrumentos de gestão territorial sejam os mais adequados para a salvaguarda dos centros históricos, em todos os concelhos. Nem sempre conseguimos, porque lutamos com muitas dificuldades e exiguidade de recursos, mas não temos qualquer espécie de hierarquia. A nossa riqueza é a qualidade de toda região.

Comentários