Diário do Alentejo

Três anos depois de terem sido diagnosticados os primeiros casos de covid-19 no País, situação do Baixo Alentejo “é estável”

11 de março 2023 - 10:00
Fotos | Ricardo ZambujoFotos | Ricardo Zambujo

Se não apareceram novas variantes, a tendência nos próximos meses será “para uma diminuição” do número de infeções por covid-19 “à medida que as temperaturas aumentam e que a humidade diminui”, diz o coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo ao “Diário do Alentejo”. Três anos depois de terem sido diagnosticados os primeiros casos em Portugal, Mário Jorge Santos adianta que o Baixo Alentejo apresenta uma “situação estável”. Com o fim do estado de alerta decretado em setembro do ano passado, o uso de máscara  nos estabelecimentos e serviços de saúde e nas estruturas residenciais para pessoas idosas é a única medida obrigatória que se mantém em vigor.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Três anos volvidos sobre os primeiros casos confirmados de covid-19 em Portugal, a 2 de março de 2020, o coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) diz ao “Diário do Alentejo” que a situação pandémica na região “é estável, que se pode dizer que está controlada”, mas que vai “depender da emergência ou não de novas variantes”.

 

Mário Jorge Santos sublinha que, neste momento, a pandemia “tem um comportamento endémico, com algumas características de sazonalidade, um pouco semelhante às épocas gripais que ocorrem anualmente”, ou seja, “continua a haver casos, que surgem com regularidade, mas não há aumentos de incidência como houve no passado, que eram caracterizados pelas ditas vagas pandémicas”, e é “essa a tendência natural do fenómeno pandémico, caso não haja novas variantes a emergirem”.

 

Grande parte das infeções verificadas atualmente, acrescenta o responsável, “são muito frustres e não justificam sequer a realização da testagem”. No entanto, a Ulsba vai tendo “conhecimento das situações mais agudas, mais graves, que não têm revelado uma gravidade acima do esperado nem características diferentes dos outros vírus respiratórios que também” incomodam os especialistas, “como os vírus da gripe”.

 

“Estamos dentro de um complexo gripal de infeções respiratórias de inverno normal, com um aumento de casos por todas as causas, também motivado pelo envelhecimento da população que se torna mais sensível a esse tipo de vírus, independentemente da sua natureza. Mas aquela situação de caos nas urgências, provocado pela grande acumulação de doentes com covid, necessidade de enfermarias dedicadas [a estes casos], mortalidade e sobrelotação das unidades de cuidados intensivos, neste momento, não se verifica”, reforça.

 

Se não apareceram novas variantes, a tendência nos próximos meses será “para uma diminuição à medida que as temperaturas aumentam e que a humidade também diminui, porque as condições ecológicas para a propagação dos vírus tornam-se menos propensas”, explica o especialista. Por exemplo, diz, “a radiação solar, a exposição ao sol, é um bactericida potente”.

 

“Quer as radiações infravermelhas, quer os raios cósmicos, destroem muitos microrganismos e, portanto, à medida que os dias se tornam mais longos e as temperaturas sobem e o sol emerge, este tipo de infeções que gostam do frio, da humidade e dos dias curtos tem tendência para se tornar menos graves”, esclarece.

 

Apesar disso, Mário Jorge Santos lembra que “a característica de uma pandemia, ao contrário de uma epidemia ou de um surto, é que é à escala global” e que “os países estão em estadios diferentes de evolução da pandemia”, sendo que, por exemplo, “no caso do Extremo Oriente, e da China em particular, ainda há atividade epidémica com aumento de incidência”, pelo que “não pode ser decretado o fim da pandemia”.

 

E “os países onde existe atividade epidémica, precisamente por causa do volume de pessoas e da capacidade de mutação do vírus, acabam por ser sempre uma ameaça ao aparecimento de novas variantes”, adianta.

 

Por isso, as entidades responsáveis irão manter-se atentas “ao fenómeno pandémico em geral, por precaução”. “É sempre possível que surja uma variante para a qual a vacina seja menos eficaz ou com uma capacidade de disseminação superior às sub-variantes da Ómicron atualmente em circulação e que provoque uma nova vaga pandémica, mas com a proteção da vacinação, a expetativa é que mesmo que haja um aumento significativo do número de casos a sua gravidade não acompanhe igualmente esse número”, diz.

 

E sublinha que “há um fator importante que, normalmente, é negligenciado”, que é o facto de esta pandemia “ter resultado da passagem do animal para o homem de um vírus, sendo que esse animal nunca foi claramente identificado”.

 

Por isso, enquanto “não se identificar o hospedeiro natural do vírus, viveremos sempre num período de precaução, uma vez que ele pode ter mutações mais fáceis num hospedeiro original e emergir em novas variantes, transpondo a barreira da espécie, portanto, passando do animal ao homem”, diz.

 

Para além da obrigatoriedade do uso de máscara em estabelecimentos e serviços de saúde e nas unidades residenciais para pessoas idosas, conforme as normas da Direção-Geral da Saúde (DGS) em vigor, Mário Jorge Santos diz que se deve “ter o cuidado, também, de usar máscara sempre que se estiver doente, com sintomas respiratórios, principalmente, se se estiver próximo de pessoas com doenças neoplásicas, diabetes, obesidade, com aquelas situações que se demostraram ser um fator de risco para a gravidade das infeções” não só pelo coronavírus SARS-CoV-2, “mas também das outras infeções respiratórios”. Deve-se, igualmente, manter “alguns procedimentos, como a desinfeção das mãos, porque uma boa higiene é fundamental”.

 

E sempre que possível, “não comparecer no local de trabalho caso estejam doentes”, principalmente, “quando se trabalha na prestação de cuidados e quando se está próximo de pessoas particularmente sensíveis a este tipo de vírus”.

 

“Infelizmente, como as remunerações em Portugal são muito baixas, há pessoas que vão trabalhar doentes. Em alguns países é proibido, porque depois infetam outros e está demonstrado que diminui a produtividade. O ideal para quem pode, de facto, é não ir trabalhar, portanto, recorrer ao médico de família ou se for uma baixa de curta duração usar os instrumentos locais que atualmente existem”.

 

Em relação ao processo de vacinação, o especialista refere que a perspetiva “é que venha a ser uma vacinação anual como acontece com a gripe, provavelmente, com uma atualização das estirpes mais frequentes”.

 

Perspetiva-se, também, “que venha a ser desenvolvida uma vacinação conjugada que permita, no mesmo ato, vacinar para a covid e para a gripe, o que seria mais prático para os serviços de saúde e mais efetivo também para a vacinação”, considera.

 

A finalizar, o coordenador da Unidade de Saúde Pública reforça que “não se está no fim da pandemia”. “Estamos é numa situação, na Europa, em Portugal e no Alentejo, com características endémicas, mas em pleno período pandémico”, diz, sublinhando que é necessário ter “também atenção a outros vírus”, porque “há muitos vírus respiratórios que não têm vacina”.

 

Numa audição recente na Comissão de Saúde a pedido do grupo parlamentar do Chega, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, adiantou que a indústria farmacêutica já está a trabalhar numa vacina bivalente que tenha os antigénicos para o vírus que provocam a covid-19 e a gripe.

 

CERCA DE 54 MIL CASOS DE INFEÇÃO E 378 ÓBITOS

Segundo dados disponibilizados pelo conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo ao “Diário do Alentejo”, desde o início da pandemia de covid-19, e até ao dia 31 de dezembro de 2022, foram confirmados na área de influência da referida unidade 54 364 casos de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, 52 700 recuperados e 378 óbitos.

 

Relativamente à ocupação hospitalar, o Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, registou, desde o início da pandemia, 1346 internamentos, sendo o maior número de doentes oriundos dos concelhos de Beja (389), Serpa (169), Moura (141) e Aljustrel (95).

 

No que se refere ao processo de vacinação, “na última campanha realizada (campanha sazonal de outono) de agosto de 2022 e até ao primeiro dia de março de 2023”, foram efetuadas 36 892 inoculações nos centros de saúde da área de influência da Ulsba (ver quadro), “sendo o grupo etário com maior número de inoculações, em todos os centros de saúde, o dos 45 aos 64 anos, exceto em Almodôvar, onde o maior número de inoculações se registou no grupo etário dos 65 aos 74 anos”.

 

Em todos os concelhos, “o grupo etário com menor número de inoculações foi o dos menores de 18 anos, seguido do grupo etário dos 19 aos 44 anos”.

 

O conselho de administração sublinha, ainda, que “o processo de vacinação contra a covid-19 decorreu muito bem, de um modo geral, em todos os centros de saúde” da Ulsba e que na primeira semana de novembro de 2022 concluíram “a vacinação em 100 por cento das ERPI [Estrutura Residencial para Pessoas Idosas] e estruturas similares, assim como no estabelecimento prisional e em pessoas sem-abrigo”.

 

O processo de vacinação não terminou, contudo, “após a campanha (finda a 17 de dezembro)”, frisa, adiantando que continua “a decorrer em todos os centros de saúde, “com dia e horário definido por cada local, na modalidade ‘casa aberta’, para maiores de 18 anos, podendo ser consultado no site da DGS”. Assim, “quem ainda pretenda completar o seu esquema de vacinação, ou até iniciar o mesmo, basta contactar o centro de saúde, ou dirigir-se ao mesmo, no dia e horário disponível”.

 

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LARES DE IDOSOS DA REGIÃO MANTÊM MÁSCARA E VISITAS POR MARCAÇÃO

Conceição Casa Nova, secretária  da direção da União Distrital de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Beja, diz, por sua vez, que a informação de que dispõem, neste momento, é que “continua a manter-se a máscara em todos os lares” de idosos da região – “os funcionários continuam a usar máscara diariamente, assim como as visitas, os idosos não necessitam”.

 

Em relação às visitas, frisa, é que poderá haver “procedimentos um bocadinho diferentes de lar para lar”, no entanto, “as visitas continuam a ser por marcação – embora possam ir as vezes que quiserem durante a semana –, a ter um tempo limitado e duas visitas por utente, na maior parte dos casos”.

 

A responsável adianta que “brevemente” a união distrital “irá reunir-se com a Segurança Social e com a Saúde”, com o objetivo de “uniformizar uma série de procedimentos” relativos às medidas que ainda se mantêm em vigor.

 

Conceição Casa Nova sublinha, ainda, “como muito importante”, o facto de a região registar uma taxa de vacinação “da população acima dos 80 anos de 100 por cento”, o que “dá uma segurança acrescida”.

 

 TELETRABALHO "É UMA FERRAMENTA FANTÁSTICA", DIZ PRESIDENTE DO NERBE/AEBAL

A pandemia de covid-19 provocou, também, um aumento do regime de teletrabalho, que já estava previsto na lei. Segundo dados publicados recentemente pelo jornal “Público”, no segundo trimestre de 2020, o Instituto Nacional de Estatística dava conta de um milhão de pessoas em teletrabalho (21,9 por cento da população empregada).

 

No final de 2022, eram 835,9 mil pessoas (17 por cento da população empregada), um sinal de que continua a manter-se em muitos casos e o Baixo Alentejo não é exceção. De acordo com o presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (Nerbe/Aebal), assiste-se “à manutenção do teletrabalho nos casos em que tornou as pessoas mais eficientes”, nomeadamente, “no mercado do digital”.

 

“Tivemos situações em que as empresas tiveram crescimento e que se mostrou que assim era mais eficiente, tanto em termos de dispêndio de recursos, como em termos de conforto, como em termos de produtividade da própria pessoa”, esclarece David Simão, frisando que “aquilo que antes da pandemia era uma barreira, uma adversidade por não podermos estar juntos”, passou a ser “uma oportunidade”, permitindo “uma capacidade de eficiência brutal em termos de organização e diminuição de custos”.

 

“Em muitas fileiras, as reuniões à distância minimizaram as deslocações e em alguns casos o teletrabalho tornou-se prática corrente. Em muitas fileiras não foi um obstáculo, foi um apurar da eficiência. Dou um exemplo: um informático que esteja a trabalhar a partir de casa tem muito mais eficiência, demonstra uma maior produtividade do que se estiver no escritório”, reforça o responsável, frisando que o teletrabalho “é uma ferramenta fantástica, que veio para ficar”.

 

Segundo David Simão, o Nerbe/Aebal “está a desenvolver um trabalho com a CIP (Confederação Empresarial de Portugal)” com o objetivo “de fazer o diagnóstico da situação”, mas, “só para o próximo ano” é que será possível apresentar “dados fidedignos”.

 

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Inóculações* em Centros de Saúde:

  • Aljustrel, 2842;
  • Almodôvar, 2096;
  • Alvito, 772;
  • Barrancos, 525;
  • Beja, 10 260;
  • Castro Verde, 2517;
  • Cuba, 1652;
  • Ferreira do Alentejo, 2727;
  • Mértola, 2089;
  • Moura, 3484;
  • Ourique, 1914;
  • Serpa, 4238;
  • Vidigueira, 1776;

Total, 36 892;

*Agosto de 2020 e 1 de março de 2023

 

Casos confirmados registados até 31 de dezembro de 2022:

  • Aljustrel, 3755;
  • Almodôvar, 2806;
  • Alvito, 935;
  • Barrancos, 632; 
  • Beja, 17 880;
  • Castro Verde, 3653; 
  • Cuba, 2386;
  • Ferreira do Alentejo, 3117; 
  • Mértola, 2413;
  • Moura, 6129;
  • Ourique, 2133;
  • Serpa, 6107;
  • Vidigueira, 2418;

 Total, 54 364;

 

Casos recuperados registados até 31 de dezembro de 2022:

  • Aljustrel, 3675;
  • Almodôvar, 2743;
  • Alvito, 913;
  • Barrancos, 580;
  • Beja,  17 376;
  • Castro Verde, 3595;
  • Cuba, 2288;
  • Ferreira do Alentejo, 3032;
  • Mértola, 3230;
  • Moura, 5853;
  • Ourique, 2052;
  • Serpa, 5902;
  • Vidigueira, 2365;

Total, 52 700.

 

 

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