Diário do Alentejo

IPBeja ainda não conseguiu substituir direções demissionárias

29 de janeiro 2023 - 10:00
Presidência promete solução para breve recorrendo à prata da casa
Foto | José Serrano/ArquivoFoto | José Serrano/Arquivo

Na sequência da demissão dos diretores e subdiretores das escolas superiores que integram o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), realizou-se na passada segunda-feira uma reunião do conselho geral que teve este tema como ponto único da ordem de trabalhos.

 

O IPBeja emitiu um curto comunicado sobre o encontro em que promete “restabelecer a tranquilidade institucional num curto espaço de tempo”. Um novo encontro deste órgão foi marcado para dia 6 de fevereiro.

 

Entretanto, o “Diário do Alentejo” teve acesso ao documento, datado de 3 de janeiro, em que os demissionários apresentam as razões da sua decisão e a um texto de 16 em que, reagindo à mensagem de Natal da presidente da instituição, repudiam “veementemente os indisfarçáveis ataques” de que se sentem alvo.

 

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Da reunião do conselho geral do IPBeja, que teve lugar na passada segunda-feira, não saiu, para já, uma solução para a substituição das direções das escolas superiores Agrária, de Educação, de Saúde e de Tecnologia e Gestão.

 

O comunicado de dois parágrafos, enviado ao “Diário do Alentejo”, na passada quarta-feira, pelo Gabinete de Imagem e Comunicação, informa que “na sequência das notícias veiculadas nas últimas semanas sobre os órgãos directivos do Instituto Politécnico de Beja, (ver edições recentes do “Diário do Alentejo”) “estão a ser desenvolvidos os procedimentos conducentes à exoneração dos/das diretores/as e subdiretores das escolas, atentas as razões elencadas pelos próprios, e à nomeação das novas direções das escolas, de entre os professores ou investigadores de carreira do Instituto”.

 

A presidência mostra-se ainda confiante de que com “os procedimentos estatutários agora em curso, irão permitir restabelecer a tranquilidade institucional num curto espaço de tempo”, e diz que tem contado “com o profissionalismo, dedicação e sentido de missão de todos os envolvidos, a bem de um Instituto Politécnico de Beja coeso no cumprimento do seu papel ao serviço do bem comum”.

 

Sem mais esclarecimentos, o comunicado remeteu para “breve” um “ponto da situação”.

 

DEMISSIONÁRIOS EXPLICAM-SE

Entretanto, o “Diário do Alentejo” teve acesso a dois documentos em que os diretores e subdiretores das escolas superiores do IPBeja explicitam as razões para as suas demissões e reagem à mensagem de Natal escolar de Maria de Fátima Carvalho, presidente da instituição, dirigida à comunidade escolar e em que repudiam “veementemente os indisfarçáveis ataques” a si dirigidos.

 

Consideram que as acusações de prosseguirem “projectos de poder, interesses pessoais, despeitos egoístas e solidariedades por compromisso”, são “graves” e “a todos os títulos ofensivas” da sua honra e bom nome, desafiando a presidente do IPBeja a explicitar-se, “sob pena de, não o fazendo com verdade”, considerarem ter sido “vítimas de pura difamação”.

 

Manuel Patanita e Patrícia Palma (ES Agrária); Maria João Ramos e Pedro Bento (ES Educação); Maria Antonieta Medeiros e Ana Clara Nunes (ES Saúde); e José Pires dos Reis e Marta Amaral (ES Tecnologia e Gestão) garantem que a 3 de dezembro explicaram as “principais razões que motivaram os pedidos de demissão”, através do documento enviado à presidência, ao conselho geral, ao conselho técnico-científico e ao conselho pedagógico do instituto.

 

No mesmo texto, os demissionários reafirmam o seu propósito “de não continuar a desempenhar as funções de direção e subdireção das escolas” e congratulam-se “com o anúncio de que ‘está em curso e terminará em breve (...) o processo de renovação (…)’, já que pela nossa parte estamos ansiosos por ver este lamentável e penoso processo chegar o mais rapidamente possível ao seu termo”.

 

No entanto, mostram-se disponíveis “para passar toda a informação e prestar a colaboração necessária aos novos diretores e subdirectores”, a quem desejam “o maior sucesso no exercício das funções”.

 

ALGUMAS DAS RAZÕES

Num documento, datado de 3 de janeiro, a clarificar “as razões que motivaram a demissão das direções das escolas do lPBeja”, os autores garantem “nunca ter [tido] o objetivo [de] prejudicar a imagem da presidência, criticar abertamente e/ou na praça pública a sua gestão ou pôr em causa a sua manutenção ou legitimidade, mas tão só [desvincularem-se] da mesma”, devido às divergências manifestadas nos pedidos de demissão apresentados a 5 de dezembro, motivados pela “gestão e ao estilo de governança exercidos pela senhora presidente”.

 

No mesmo documento, acusam a presidente, ao contrário do que escreveu a 9 de dezembro, de não ter ouvido as direções das escolas, nem as ter chamado “a participar na elaboração dos documentos estruturantes para a estratégia e funcionamento da instituição nos próximos anos”, o que contraria “o disposto no artigo 4 dos estatutos e no artigo 12 dos estatutos das escolas”.

 

Os demissionários dizem que apenas tomaram conhecimento do Plano Estratégico 2025 e da sua aprovação pelo conselho geral a 9 de maio de 2022, através de um email enviado, cerca de duas semanas depois, pelo Gabinete de Imagem e Comunicação “a todos os colaboradores do IPBeja”.

 

As direções das escolas “tomaram conhecimento do Plano de Atividades para 2022 através de um email de 12 de julho” assinado pelo vice-presidente José Bilau, no qual eram informados de que o “documento [tinha] como enquadramento o Plano Estratégico 2022-25”, em que solicitava o “empenho” das direções “na concretização das diversas ações previstas”.

 

“Este é um exemplo paradigmático da forma como a presidência se relacionou com as direções das escolas – não as envolvendo nem sequer lhes dando conhecimento das suas opções estratégicas para a gestão e condução da instituição, mas incumbindo-as de as cumprir ou fazer cumprir, corresponsabilizando-as, contudo, pelas mesmas”, acusam os diretores demissionários.

 

Falta de diálogo e de trabalho em equipa, tomada de decisões “relativas à oferta formativa (que constitui a missão central do IPBeja e das escolas que o compõem)”, sem a participação e concordância das respetivas direções e “com consequências de relevo para a manutenção das formações, para o funcionamento e acreditação dos cursos, para a qualidade do ensino ministrado, para o ambiente de ensino-aprendizagem e para a estabilidade laboral”, apontam ainda.

 

Por estas (e muitas mais) razões, concluem os diretores e subdiretores “não estarem reunidas as condições mínimas necessárias para a continuidade do exercício dos cargos dirigentes que ocupam, cargos estes para os quais foram nomeados pela senhora presidente do IPBeja, pelo que implicam uma relação – que já não existe – de confiança, de serenidade e de conciliação com as opções estratégicas e de gestão da instituição nos seus aspectos estruturantes, mormente no que respeita à oferta formativa e ao funcionamento das formações”.

 

O “Diário do Alentejo” tentou, até ao fecho da presente edição, obter mais reações por parte da presidência do IPBeja e das direções demissionárias, o que não foi possível.

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