Diário do Alentejo

Câmaras do distrito de Beja reduzem horário das iluminações de Natal

03 de dezembro 2022 - 10:00
Autarquias adotam medidas de poupança energética recomendadas pelo Governo
Foto | José Serrano/ArquivoFoto | José Serrano/Arquivo

Tendo em conta as recomendações do Plano de Poupança de Energia 2022-2023, publicado em setembro numa resolução do Conselho de Ministros, a maior parte das câmaras do distrito de Beja vai reduzir os horários das iluminações de Natal. Em alguns casos registam-se, ainda, reduções nos montantes gastos com a iluminação relativamente a anos anteriores. 

 

Texto Nélia Pedrosa

 

A Câmara de Aljustrel vai investir 13 500 euros nas iluminações de Natal, “um valor significativamente” inferior aos montantes gastos em 2020 e 2021, representando, assim, uma poupança “na ordem dos 7500 euros”. Este valor será, no entanto, “entregue à associação Rafeiritos do Alentejo, nomeadamente, para a construção do seu novo canil/gatil”, frisa a autarquia.

 

“O município de Aljustrel decidiu seguir as recomendações do Governo [no âmbito do Plano de Poupança de Energia 2022-2023], adotando medidas para reduzir os consumos energéticos, em tempo de guerra, escalada da inflação e crise energética. Entendeu ainda atribuir, este ano, à iluminação de Natal um cariz solidário, doando a poupança verificada a uma associação sem fins lucrativos e que dá uma resposta importante e necessária ao território. Trata-se de uma ‘prenda’ de Natal que será oferecida à Rafeiritos do Alentejo em nome de toda a população do concelho”, justifica, adiantando que a luminária ficará concentrada “numa zona central da vila, local também onde acontecerão os grandes eventos alusivos à época organizados pela autarquia e onde se situa a maioria do comércio tradicional”.

 

O município irá ainda reduzir o horário das iluminações, ajustando os períodos de utilização para o horário entre as 18:00 e as 24:00 horas, o que irá contribuir “para uma maior poupança no que diz respeito aos consumos energéticos”. Decidiu, também, optar por iluminação LED, “apostando na alta eficiência, na proteção do ambiente e no baixo consumo energético”.

 

A Câmara de Vidigueira irá, igualmente, reduzir significantemente a despesa com a iluminação natalícia, prevendo para este ano um investimento de cerca de 7000 euros, o que se traduz numa poupança de 6500 euros face a 2021.

 

A autarquia esclarece que o decréscimo dos valores, “para além de espelhar a resolução do Conselho de Ministros, é também reflexo da preocupação que o município tem relativamente ao atual aumento de preços dos bens de consumo básicos, pelo que a poupança poderá ser investida em sistemas de apoio às famílias que poderão encontrar graves dificuldades num futuro próximo”.

 

As iluminações serão “condensadas maioritariamente num único lugar, pelo que se reduzirá o número de pontos luminoso”, adianta, acrescentando que, de acordo com as recomendações emitidas no plano do Governo, “será tido em conta o período de consumo elétrico 18h00-00h00”. A ligação dos equipamentos “será também atrasada iniciando, neste ano, no próximo dia 9”.

 

“Há um cuidado e uma atenção redobrada face ao contexto global. Não iremos contratar mais iluminação além daquela que já dispomos e a iluminação irá funcionar em horário reduzido”, diz, por sua vez, a Câmara de Mértola, adiantando que os gastos rondarão os 5000 euros, um valor inferior a 2021 (11 mil euros) e 2020 (17 mil euros). Esta diminuição, reforça, “prende-se com o investimento realizado nos anos transatos e, claro, com o contexto socioeconómico que vivemos”. E adianta: “Esperamos manter as ruas atrativas para os munícipes e para quem nos visita, mas com os custos controlados. É uma altura importante para o nosso setor empresarial e temos a consciência de quanto é importante haver animação nas ruas e, claro, a iluminação alusiva à época. Desta forma não poderemos ver apenas como um custo, mas também como um investimento que o município  deve e tem capacidade para suportar”.

 

REDUÇÃO DO CONSUMO ELÉTRICO É "APOSTA A LONGO PRAZO" 

Já o município de Serpa entendeu, “após dois anos de pandemia, assinalar de forma especial a quadra festiva, pelo que se encontra a promover a iniciativa ‘Viver o melhor do Natal em Serpa’, que pretende incentivar a população a usufruir dos espaços públicos, contribuindo, paralelamente, com a campanha ‘Feliz Natal com o Comércio Local’ para dinamizar o comércio, a hotelaria e a restauração”.

 

Assim, adianta, “o valor alocado em iluminação festiva é de 39 360 euros”, valor esse superior ao de 2020 (18 450 euros) e de 2021 (12 300). À semelhança de outros municípios, a iluminação irá funcionar entre as 18 e as 24 horas.

 

A autarquia sublinha, no entanto, que “a aposta na redução do consumo elétrico é, mais do que uma preocupação pontual, uma aposta a longo prazo, que tem vindo a ser desenhada e implementada nos últimos anos, pelo que o Plano de Poupança de Energia 2022-2023 não se irá traduzir em medidas avulsas”.

 

E acrescenta que, “desde 2017, tem vindo “a seguir uma estratégia de sustentabilidade do território, na qual as questões ambientais e de eficiência energética são fundamentais, tendo dado início à reconversão para tecnologia LED, ainda em curso”.

 

A câmara sublinha, ainda, que em julho deste ano teve início o processo de substituição da iluminação cénica da muralha da cidade e que, “a título ilustrativo, somente a diferença de consumos que se alcança com a conversão da iluminação cénica da muralha para sistema LED corresponde ao consumo estimado da iluminação natalícia do concelho durante 10 anos”.

 

A Câmara de Beja irá investir 60 mil euros (mais IVA), o mesmo montante despendido em 2021 e pouco mais do que em 2020 (57 mil euros, já com IVA). Contudo, seguindo as orientações do Governo, as luzes só irão estar ligadas entre as 18 horas e a meia-noite. E todas “as luzes são LED, o que permite também uma maior poupança”.

 

A câmara frisa que “o concelho de Beja vai participar na adoção de medidas de poupança de energia sem prejudicar a época natalícia” e que se pretende que as iluminações de Natal “possam incrementar uma maior movimentação de pessoas nas ruas e, consequentemente, que as pessoas comprem mais no comércio local”.

 

“A tradição natalícia vai novamente animar as ruas da cidade e a economia local”, reforça.

Em Almodôvar, o investimento com a iluminação natalícia será de 22 500 euros, mais 2500 euros do que no ano passado. O aumento é explicado com “dificuldades no mercado de fornecimento destas componentes devido à escassez no mercado mundial por ocasião da guerra na Ucrânia”.

 

Cumprindo “o emanado pela resolução do Conselho de Ministros”, e “para que não haja gastos maiores”, adianta a câmara, “todas as luzes terão um relógio para salvaguardar que cada foco de luz [que se acenderá às 18 horas] se desligue impreterivelmente até às 23 horas”.

 

A autarquia sublinha ainda que a iluminação de Natal assume uma importância relevante na economia local, “tendo em conta que o comércio local atravessa dificuldades financeiras e todas as ações que o município possa promover para capitalizar a vinda de turistas e/ou aquisição de produtos no comércio tradicional é uma mais-valia e aposta deste município nos apoios ao investimento e economia locais”.

 

A Câmara de Castro Verde irá manter sensivelmente os mesmos valores do ano passado, investindo 28 mil euros nas iluminações de Natal, mais 1000 euros do que em 2021, mas mais cerca de oito mil em relação a 2020.

 

As “variações dos últimos anos”, esclarece, “decorrem, sobretudo, do funcionamento do mercado e do posicionamento dos fornecedores (concursos desertos e falhas no fornecimento), o que tem forçado a subida dos preços base”.

 

À semelhança de outros municípios, haverá uma redução no horário, sendo que as luzes estarão ligadas entre as 18 e as 23 horas, quando “nos anos anteriores estavam entre as 18 e as 2 da madrugada”. Esta medida representará “uma poupança estimada de 37,5 por cento no consumo”. A iluminação, frisa, “é assegurada exclusivamente com lâmpadas LED desde 2020”.

 

PEQUENOS GESTOS QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA

Já a Câmara de Alvito optou por não contratar iluminação de Natal, utilizando, assim, “a iluminação usada nos anos anteriores, propriedade do município”.

 

“Existindo essas indicações [do Governo] consideramos que devemos contribuir para a poupança energética. Achamos que é com estes pequenos gestos que podemos fazer alguma diferença”, justifica a autarquia, revelando que a não contratação de nova iluminação permitirá poupar “cerca de 30 mil euros”, o valor do orçamento previsto para este ano. Para além disso, haverá também uma redução no horário das iluminações, passando a estar ligadas entre as 18 e as 24 horas, ao contrário de anos anteriores, “em que se mantinham ligadas até ao amanhecer”.

 

No caso de Cuba, a iluminação de Natal “é feita com equipamento adquirido pela autarquia há já alguns anos”, pelo que “tanto neste ano, como nos dois anos anteriores”, não se verificou qualquer investimento, diz a câmara, adiantando que neste ano “irá existir uma redução significativa quer no número de equipamentos colocados, quer no período de funcionamento dos mesmos”.

 

“Como forma de poupança energética será utilizada apenas metade dos equipamentos destinados à iluminação de Natal no concelho e o período de funcionamento da iluminação também será reduzido, com horário de funcionamento apenas das 18 às 24 horas”, reforça.

 

A iluminação também entrará em funcionamento “uma semana mais tarde do que é habitual”, a 7. Esta redução traduzir-se-á numa poupança de “mais de 60 por cento nos gastos energéticos com a iluminação natalícia”.  

 

O “Diário do Alentejo” questionou, ainda, as câmaras de Barrancos, Ferreira do Alentejo, Moura, Odemira e Ourique sobre os gastos relativos às iluminações de Natal e as recomendações do Plano de Poupança de Energia, mas não obteve resposta até ao fecho da presente edição.

 

PLANO DE POUPANÇA ABRANGE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CENTRAL E LOCAL E SETOR PRIVADO 

O Plano de Poupança de Energia 2022-2023 “surge na sequência da crise geopolítica que se faz sentir atualmente na Europa, com graves consequências para o setor da energia, sendo um dos instrumentos que responde ao repto da redução voluntária de 15 por cento do consumo energético lançado aos estados-membros da União Europeia”, refere o documento, sublinhando, no entanto, que no caso português é possível reduzir “a percentagem de redução obrigatória para sete por cento”.

 

O plano “engloba medidas, por separado, de redução para as áreas da energia, eficiência hídrica e mobilidade, e abrange os setores da administração pública, central e local, e privado (incluindo indústria, comércio e serviços, e cidadãos), sendo dado particular destaque às medidas afetas à energia”.

 

Estas medidas de redução de consumo energético, frisa o documento, não se sobrepõem, contudo, “às medidas de implementação já existentes em instrumentos de política pública em vigor, como, por exemplo, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) e a Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (Elpre), que também contribuem para a redução do consumo de energia”.

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