Diário do Alentejo

O sonho de flutuar tornado realidade

24 de setembro 2022 - 10:00
O primeiro voo parabólico em Portugal teve partida e chegada na Base Aérea de Beja
Fotos | José Serrano/NOVESPACEFotos | José Serrano/NOVESPACE

Eleitos, entre 460 jovens concorrentes à iniciativa “Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia”, 31 alunos do País tiveram a oportunidade de flutuar a bordo de um avião, com partida e chegada na Base Aérea de Beja. A iniciativa, promovida pela Por tugal Space, pretende incentivar os mais novos para a área do espaço, e foi relatada pelos participantes como “uma espécie de magia”, difícil de descrever.

 

Texto José Serrano*

 

Acabados de sair do avião, que minutos antes pousara na Base Aérea n.º 11, em Beja, todos os seus jovens ocupantes exibem um sorriso vincado no rosto, que dizem perdurar desde o início da manhã, originado pela inusitada experiência de “voar”.

 

Uma fantástica capacidade que apenas uma ínfima parte de nós, terráqueos, poderá dela, um dia usufruir, por muito que a desejemos e por mais longa que a vida seja. No âmbito da iniciativa “Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia”, a experiência, relatada como “uma espécie de magia”, e “muito difícil de descrever”, foi vivida, na passada sexta-feira, por 31 estudantes, com idades entre os 14 e os 18 anos, que, selecionados após provas eliminatórias, foram passageiros de um voo parabólico, o primeiro em Portugal, que simulou a ausência de gravidade existente no espaço, a partir de manobras de ascensão e queda-livre (parábolas) executadas pela aeronave, que lhes permitiu flutuar, no seu interior, em ciclos de 20 a 25 segundos.

 

Promovido pela Portugal Space, que pretende incentivar os mais novos para a área do espaço, o voo, com partida e regresso na Base Aérea de Beja, foi operado pela empresa francesa Novespace, que realiza voos parabólicos com fins científicos, para as agências espaciais europeia, francesa, alemã e japonesa, e para o público em geral – a título particular, cada voo pode custar 6900 euros – tendo já lotação esgotada para fevereiro de 2023.

 

Para este voo parabólico, que sobrevoou a costa portuguesa, – no qual participaram o ex-astronauta Jean- François Clervoy e Matthias Maurer, astronauta da Agência Espacial Europeia, que regressouà Terra a 6 de maio, depois de uma estadia de seis meses na Estação Espacial Internacional (EEI), onde executou vários trabalhos científicos –, foram reservadas três horas, ao longo das quais foram executadas 15 parábolas, de um minuto cada, que simularam um total de cinco a seis minutos de gravidade zero, a mesma que os astronautas estão sujeitos quando trabalham e vivem na EEI.

 

Os voos parabólicos, a par dos treinos debaixo de água, são praticamente o único meio, na Terra, capaz de reproduzir o efeito da ausência de gravidade ou microgravidade com pessoas.

 

O que permite gerar no ar este efeito são, precisamente, as parábolas que o avião descreve, efetuando, numa primeira fase, uma subida vertiginosa, de aproximadamente 7600 metros de altitude, gerando durante 20 segundos uma aceleração 1,8 vezes à da gravidade no solo – nesta altura, os passageiros vão sentir-se mais pesados, como se tivessem quase o dobro do seu peso.

 

A segunda fase consiste na redução do impulso do motor da aeronave, praticamente a zero, fazendo com que a mesma descreva uma parábola, continuando o avião a subir até atingir o ponto de inflexão da parábola, a 8500 metros de altitude, começando, aí, a descer. A descida demora cerca de 20 segundos, durante os quais os passageirosflutuam, devido à ausência de peso criada pela queda-livre do avião, que executa 15 vezes estas manobras.

 

A bordo seguem três pilotos: um controla o ângulo de subida e descida do “nariz” da aeronave, outro domina o movimento de rotação, para manter as asas horizontais, e um terceiro, sentado atrás dos dois primeiros, controla a velocidade do motor, avisos, temperaturas e pressão. Além da diversão que proporcionam, os voos parabólicos “são cruciais na preparação de experiências, equipamento e astronautas e permitem que as experiências dos cientistas sejam testadas antes de seguirem numa missão espacial”, assinalou, em declarações à Lusa, Pedro da Silva Costa, militar da Força Aérea que trabalha na Portugal Space para a área da Defesa. Mimetizando, à microescala, o processo de recrutamento de astronautas, a seleção dos eleitos, entre 460 concorrentes, teve várias fases, incluindo exposição das motivações, provas de perceção e interpretação do espaço, de aptidão física e entrevista.

 

Depois de selecionados, os “eleitos” ainda tiveram de se submeter a exames clínicos para obterem o certificado de aptidão médica exigido para o voo. Ao promover a “Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia”, a Agência Espacial Portuguesa espera que os 31 jovens sejam este ano letivo “embaixadores” da iniciativa nas escolas, que relatem e divulguem a experiência que tiveram junto de colegas e professores, “contribuindo para cultivar e estimular o interesse pelo espaço”.

 

*Lusa

 

 

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 Matthias Maurer, 52 anos, astronautaFoi um voo maravilhoso. Asensação de gravidade zero é idêntica à sentida no espaço. A únicadiferença é que esta experiência dura segundos [em cada parábola],e na Estação Internacional Europeia pode durar metade de um ano”.

 

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Tiago Camelo, 16 anos, SesimbraFoi espetacular, não consigoencontrar palavras para descrever a sensação por que passámos.Voámos, flutuámos, experienciámos três gravidades diferentes – a daLua, a de Marte e a gravidade zero… parece magia, foi fantástico”.

 

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Constança Quaresma, 16 anos, SesimbraÉ difícil explicar o queaconteceu dentro do avião. Temos o corpo com duas vezes o nosso pesoreal e de repente estamos a flutuar, sem sabermos para onde vamos esem sabermos como agir… é como se estivéssemos a nadar no ar”.

 

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Pedro Costa, 15 anos, PortoÉ impossível imaginar como é estar emgravidade zero, porque não existe no nosso quotidiano. Na verdade,não há sensações físicas, porque simplesmente perdemos o nossopeso, é como se fossemos um algodão… a ficha ainda não caiu”.

  

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Sara Pereira, 16 anos, Lisboa “Se fecharmos os olhos parece queestamos só a existir, sem corpo. É uma paz extrema, um conforto quenunca tinha sentido. É mesmo magia, porque tu podes voar. Em criança,todos sonhamos em podermos voar e isso tornou-se realidade.

 

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Ricardo Martins, 15 anos, Vila Verde, Braga "Foi muito melhor doque eu estava à espera e eu já estava com as expetativas altas, édifícil descrever por palavras… foi sempre muito bom, em toda aexperiência, e o tempo passou muito depressa. É extraordinário.

   

 

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