Diário do Alentejo

Produção sustentável de bovinos em Alvito e Cuba

02 de setembro 2022 - 17:00
Monte do Pasto lança projeto Ethical Meat e é finalista de prémio de empreendedorismo e inovação
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O grupo Monte do Pasto, empresa agropecuária instalada em Cuba e Alvito, é finalista do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2022 com o projeto Ethical Meat – Sistema Integrado de Produção Sustentável de Carne.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Monte do Pasto é uma marca com 35 anos, mas quando, em 2019, mudou de mãos, mudou também de conceito, passando a apostar na produção de bovinos de forma financeira, social e ambientalmente sustentável.

 

O grupo CELS Asia, que tem a liderar este segmento de negócio, em Portugal, Clara Moura Guedes, produz cerca de 40 mil cabeças de gado por ano em 11 herdades que totalizam 4200 hectares e obteve um volume de negócios de 28 milhões de euros no último exercício, resultantes em 90 por cento da exportação.

 

Agrega, assim, uma das maiores áreas agropecuárias contínuas do país, beneficiando do seu grande potencial para a atividade integrada de criação de vitelos, recria de novilhos e produção de alimentação animal em grande escala e de forma competitiva.

 

O Ethical Meat – Sistema Integrado de Produção Sustentável de Carne – que é finalista do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2022 – é liderado pelo grupo em parceria com as universidades de Évora e do Minho e é cofinanciado pelo Compete 2020 com um investimento de mais de 700 mil euros, e tem o foco “no desenvolvimento e aplicação de metodologias e processos inovadores em todas as fases da cadeia de produção de carne”.

 

A concretização do projeto tem por base “novos métodos de criação de gado bovino, assentes na gestão otimizada do bem-estar animal” e levou à construção do primeiro parque de bem-estar animal da Europa, equipado com tecnologia digital e “uma inovadora solução de sombreamento utilizando painéis solares (agroPV) que assegura uma dupla utilização dos solos, reforçando práticas de agropecuária sustentável”.

 

Os promotores acreditam que “através de uma redução eficaz do stress térmico e do stress no maneio”, é possível “obter um acréscimo de eficiência produtiva superior a 20 por cento” e aumentar significativamente a qualidade do produto.

 

O Ethical Meat refere ainda que as novas tecnologias de conservação e embalagem aumentam em mais de 25 por cento o prazo de validade da marca de carne True Born, o que permite reduzir, “drasticamente”, o desperdício alimentar promovendo, ainda, a utilização de “materiais ambientalmente responsáveis”.

 

Clara Moura Guedes, CEO do grupo Monte do Pasto, diz que na atualidade “o consumo de carne de bovino reflete as visões polarizadas entre a excelência do seu valor nutricional e os malefícios do excesso de consumo; entre o seu papel inequívoco na proteção dos ecossistemas naturais e o impacto ambiental; entre a tradição secular da criação e o bem-estar animal e a nova ética animal urbana que exclui os animais do sistema alimentar”.

 

Assim, o desafio a que o Monte de Pasto se propõe é o de “reposicionar a carne como alimento positivo num sistema alimentar sustentável”, argumentando que a produção de carne bovina “contribui para a segurança alimentar nacional, bem como para a gestão sustentável das pastagens, o bem-estar socioeconómico das comunidades rurais”, sendo “uma dieta rica em nutrientes essenciais à saúde e ao desenvolvimento humano e o prazer gastronómico das populações”.

 

“É possível produzir carne de bovino em Portugal com extrema qualidade, de forma sustentável”, e “mitigar o impacto ambiental da produção e distribuição e lançar produtos diferenciados, éticos e sustentáveis”, garante Clara Moura Guedes acrescentando que, de facto, está “comprovado que alguns sistemas de produção contribuem para um aumento dos gases com efeito de estufa”, mas que também se sabe “que a criação ao ar livre, semi-intensiva, praticada na região do Alentejo é um dos sistemas mais eficientes e menos poluentes do mundo”.

 

Por isso considera “imperativo” mudar o paradigma do modelo de negócio agropecuário, introduzindo a “tecnologia ao nível dos processos de criação, da alteração das práticas de gestão e conservação de solos, da promoção da economia circular ou, ainda, da adoção de soluções ambientalmente eficientes, como o AgroPV (Agrofotovoltaico)” de forma a atingir os objetivos do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050.

 

Diz o grupo Monte do Pasto num comunicado enviado à imprensa que “a inovação tecnológica, focada numa maior eficiência dos recursos produtivos e na maximização dos impactos positivos, é, uma abordagem cada vez mais valorizada pelo consumidor, o qual, mais do que produtos, procura, hoje em dia, conceitos e experiências memoráveis numa ótica individual: prazer, conveniência, saúde, mas também coletiva: origem, ética, sustentabilidade e responsabilidade social”.

 

Teresa Moreira, diretora de comunicação do grupo, em declarações ao “Diário do Alentejo” considera “possível minimizar os impactos ambientais”, mas chama a atenção para os impactos positivos: “A presença dos animais nos campos assegura a biodiversidade, e através do calcamento e revolvimento dos solos contribui para absorção e retenção da água. Um Alentejo sem animais transformar-se-ia, rapidamente, num deserto”, concluiu.

 

 

ALGUNS NÚMEROS

Em 2020, EUA, Brasil e China foram responsáveis pela produção de 68 milhões de toneladas de carne, o que corresponde a 42 por cento da produção mundial. Portugal detinha 0,14 por cento. No que diz respeito a cabeças de gado a China (14%), EUA (11%) e Brasil (10%), eram os principais produtores, com 35 por cento.

 

Portugal foi responsável por 0,13 por cento do abate de bovinos em 2020. 84 por cento de animais vivos que o nosso país importou, em 2021, foram provenientes da Espanha, país para o qual exportámos 54 por cento da produção nacional.

 

Segundo a revista especializada Millennium Agro News, o saldo da balança comercial do setor da bovinicultura e da produção de carne de bovinos, na última década, tem-se mantido, de uma forma geral, na mesma ordem de grandeza, apesar de algumas oscilações positivas, em 2012, 2016 e 2020, e negativas, em 2014, 2018 e 2019.

 

Em 2010, existia um saldo negativo da balança comercial de 353 milhões de euros e, em 2021, passou a ser de -364 milhões de euros. Em 2012, o saldo foi de -298 milhões de euros, enquanto em 2019 foi de -440 milhões de euros.

 

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