Diário do Alentejo

Vinha resiste, olival perde produção

12 de agosto 2022 - 13:15
Espera-se menos uva, mas com mais qualidade. Quantidade de azeitona pode ter quebra de 50 por cento
Foto | José SerranoFoto | José Serrano

Este ano dificilmente se atingirão os máximos históricos do ano passado, quer na vinha, quer no olival. Na campanha de 2020/21 a produção de azeite registou um aumento de 119,5 por cento, para 215 260 toneladas; e no vinho o crescimento foi de 14,7 por cento, alcançando os 6,4 milhões de hectolitros. As alterações climáticas, a seca e os golpes de calor trouxeram alguma incerteza, mas, mesmo assim, as expectativas não são completamente pessimistas. 

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Na Vidigueira a vindima deve começar por estes dias. José Miguel Almeida, presidente da Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, disse ao “Diário do Alentejo” estar “prestes a arrancar”. “Há menos uva que no ano anterior – sofremos o golpe de calor, mas agora o tempo tem estado mais favorável”. No entanto, “como há vinhas novas a entrar em produção, até esperamos um ligeiro aumento” na quantidade de uva. Já quanto à qualidade vai ter de se esperar mais uns dias para se avaliar. Também Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) partilha da mesma opinião: “As condições não foram as melhores”, devido à seca, temperaturas elevadas e à pouca água no solo”, esperando, por isso, não ter “cachos cheios”, o que pode até ser positivo e gerar “uvas mais concentradas”, resultando num ano vitivinícola de boa qualidade.

 

Segundo o presidente da CVRA, este ano comunicaram ao Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) uma estimativa de produção “entre menos cinco e mais cinco por cento” em relação a 2021, previsão feita de acordo com um estudo efetuado pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

 

“Essa previsão apontava para um número bom de cachos, só que nós tivemos menos água”, ou seja, até junho, choveu “menos 50 por cento do que era normal”, pelo que “o peso de cada cacho vai ser menor, afirmou Francisco

 

Mateus em declarações à Lusa. Sendo uma previsão e estando no início da vindima, ainda não é possível “estimar um aumento, ou uma diminuição da produção”, sublinhou. Nesse sentido, Francisco Mateus destacou que só “quando as uvas forem esmagadas” se saberá “o rendimento de transformação”.

 

Entretanto, o IVV previu esta semana que a produção de vinho deverá baixar em Portugal cerca de 9 por cento face à campanha anterior, que foi anormalmente elevada. Em comunicado, o IVV explica que a estimativa de volume é na ordem dos 6,7 milhões de hectolitros, o que corresponderá a um aumento de 2 por cento em relação à média das cinco últimas campanhas. Quanto aos “escaldões” sentidos no Alentejo, o responsável da CVRA considera que, “à partida, não são nada de preocupante”, acrescentando que alguns produtores da região já deram início à vindima no final de julho e outros irão fazê-lo nos próximos dois meses.

 

“Normalmente, a vindima no Alentejo começa de sul para norte e de este para oeste”, apontou. No ano passado, foram produzidos no Alentejo “126 milhões de litros” de vinho, sendo esta “a produção mais alta dos últimos 30 anos”.

 

QUEBRA NA AZEITONA

A seguir a um ano excecional, todos concordam que se irá seguir um ano menos bom na produção de azeitona. Hélder Transmontano, diretor-geral da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos diz que ainda não é possível avançar com números certos. No entanto, estima que a quebra possa atingir os 50 por cento, podendo ser maior no olival tradicional devido ao ano de contrassafra. A consequência mais visível desta situação será “o aumento do preço do azeite, não só pela diminuição da quantidade, mas também pelo aumento dos preços de todos os fatores de produção e do embalamento”, avisa.

 

Também João Grilo Varela, responsável técnico por vários olivais na região, acredita que a quebra será “grande”, no entanto a sua expectativa não é tão pessimista, apontando para uma redução na ordem dos 30 a 40 por cento em relação a 2021. “Os golpes de calor de maio foram os piores, pois apanharam a árvores em plena floração”, o que impediu o nascimento dos frutos, mas “nos olivais novos superintensivos acabou por se fazer uma seleção natural”, o que não é mau de todo, explica.

 

João Grilo Varela diz que, dadas as circunstâncias, “Portugal até não está mal quando comparado com Espanha”, onde se esperam quebras de 50 a 60 por cento da produção.

 

APICULTURA: O PARENTE POBRE

A produção de mel na Europa está a ser muito prejudicada pela seca e pelas alterações climáticas em geral. E Portugal não foge à regra. Pedro Faria Bravo é apicultor há décadas na zona de Mértola. Chegou a trabalhar exclusivamente na atividade, mas agora pratica-a de forma “complementar”. Em declarações ao “Diário do Alentejo” diz que este ano foi “péssimo”, acrescentando que na última década “tem variado entre o muito mau e o péssimo”. A baixa da produção deve-se ao facto de haver cada vez “menos área de mato com floração espontânea”, área, essa, ocupada, em muitos casos, pela pecuária.

 

“As alterações de uso do solo e as mudanças climáticas” também têm a sua quota-parte neste retrocesso. Pedro Bravo recorda que “dentro da agricultura, a apicultura é a atividade mais exposta às alterações climáticas” e explica que trabalham “com a flora espontânea que depende unicamente da chuva e, como não existem apoios ao rendimento, na apicultura é possível um profissional ficar sem rendimentos e sem qualquer tipo de apoio por parte do Estado”. Para este apicultor – agora em parttime – seria diferente se estes empresários tivessem “ajudas ao rendimento como nos demais setores da agricultura que, produzindo muito, pouco ou nada, têm uma base mínima de subsistência”, reivindica.

 

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