Portugal produz cerca de 20 por cento dos cereais que consome, mas a ministra da Agricultura e Mar quer duplicar esse número. Entretanto, a governante garantiu, recentemente, que não irá haver ruturas no fornecimento, mas é de temer um aumento dos preços.
Maria do Céu Nunes disse recentemente que o País tem uma estratégia para duplicar a produção nacional de cereais, dos atuais 18 por cento, para 38 por cento. No entanto, segundo a ministra da Agricultura e do Mar, “Portugal não tem condições naturais, de solo e de clima, para poder ser competitivo com outras geografias, nomeadamente ao nível da Europa”.
Segundo a governante, o objetivo é “aumentar a autonomia estratégica”, que acredita ser possível “através de um conjunto de investimentos” que irão “estimular os agricultores a fazer, seja do ponto de vista da inovação, do desenvolvimento tecnológico, da melhoria da qualidade dos solos - que são pobres - seja através da disponibilização de água”, para haver “cereais regados”. O Governo irá ainda disponibilizar um apoio financeiro “para que os produtores possam fazer esta opção quando tiverem que fazer as suas sementeiras”.
Quanto à importação de cereais, Maria do Céu Antunes revelou que foram encontrados mercados alternativos à Ucrânia, nomeadamente, América do Norte, América do Sul e África do Sul: “neste momento, estão garantidas as condições para não haver falhas nos nossos ‘stocks’ e no abastecimento de cereais em Portugal”.
A ministra explicou que a aposta no setor primário é o “grande desígnio” e referiu que Portugal tem vindo a “equilibrar um desequilíbrio que é estrutural da balança comercial”. “Mesmo durante a pandemia, as exportações portuguesas continuaram a aumentar a um ritmo de cinco por cento ao ano”, algo que vinha a acontecer “nos últimos dez anos, e já no primeiro trimestre deste ano, as exportações do complexo agroalimentar subiram mais de 13 por cento, sem deixar de alimentar os portugueses, pese embora as importações também cresçam, mas a um ritmo menor, o que tende a equilibrar esta balança comercial”, sublinhou.
A ministra anunciou que a partir de janeiro de 2023, haverá um “novo pacote financeiro com regras novas para estimular precisamente a agricultura e a transformação em Portugal”. “O que queremos é promover o rejuvenescimento do setor”, e ajudar os agricultores “a fazerem uma transição agroambiental”, utilizando a tecnologia e o conhecimento para produzir mais, “usando menos recursos e ganhando competitividade”.
“É POSSÍVEL AUMENTAR O AUTO-APROVISIONAMENTO DE TRIGO DE 5 PARA 20 POR CENTO”
José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) diz que a “desregulação dos mercados” dos cereais “é má para toda a gente”. Numa entrevista publicada pelo “Público”, o dirigente associativo diz acreditar ser possível, no prazo de três anos, aumentar o auto-aprovisionamento de trigo de 5 para 20 por cento, de forma a aumentar a soberania alimentar do País. José Palha recordou que este problema há muito que está identificado, mas que se tem vindo a agravar “ano após ano” e considera que a reforma da Política Agrícola Comum, em 2005, foi “a machadada final”, explicando que, na altura, “as ajudas, que estavam ligadas à produção, foram desligadas” e “em Portugal, na maior parte dos casos, deixou de ser uma cultura interessante”. Entretanto, diz o presidente da ANPOC, “Portugal entregou, no final de 2021, à Comissão Europeia, o plano estratégico da PAC (PEPAC), a ser implementado em janeiro de 2023, em que a ajuda ligada já está prevista”, acreditando que isso irá acontecer.