Diário do Alentejo

"Beja ainda não percebeu a riqueza azulejar que tem e como a pode explorar"

31 de maio 2022 - 12:10

Três perguntas a Florival Baiôa, presidente da Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja (ADPBeja)

 

Texto José Serrano

 

 

No âmbito do Dia Nacional do Azulejo, que se comemorou dia 6 de maio, a ADPBeja promoveu duas visitas guiadas, à cidade, nas quais participaram 40 alunos do Liceu Camões, de Lisboa. Qual a impressão com que os participantes ficaram do legado azulejar que Beja detém?

Estas visitas guiadas são sempre úteis para melhorar o conhecimento sobre esta arte-maior de Beja e para poder divulgá-la como um dos patrimónios artísticos mais importantes, a nível nacional. Não explorar este tesouro que a cidade possui é uma forma cega de guardar a riqueza debaixo do colchão. Aos alunos do Liceu Camões explicou-se a riqueza azulejar, as suas técnicas, a sua proveniência e os seus padrões. Afinal, Beja é a única cidade a possuir 550 anos de azulejaria. Grande parte deles ficou com a certeza que teria de voltar a passear aqui.

 

Nos últimos sete anos, a cidade “habituou-se” a exibir e a visitar a Festa do Azulejo de Beja, da responsabilidade da ADPBeja, com um programa cultural e lúdico de vários dias. Qual a razão de, este ano, o evento não se concretizar?

Nós, ADPBeja, em articulação com o Museu de Beja e outras entidades, demos à Festa do Azulejo de Beja uma dimensão internacional, muito virada para o turismo, com a mostra de exposições fundamentais, para que a cidade possua verdadeira dimensão cultural. Mas Beja ainda não percebeu a riqueza que tem e como a pode explorar, economicamente. Como as verbas de apoio à realização da Festa do Azulejo solicitadas à autarquia não nos foram concedidas, a direção da ADPBeja, não tendo meios económicos para a sua realização, não a pôde organizar. É mais uma atividade, cíclica, que a cidade deixou morrer.

 

O que considera ser necessário fazer para que o património azulejar de Beja se possa valorizar, local e nacionalmente?

Estava planificada, e gostaríamos muito que se concretizasse, a edição de um pequeno livro, em cinco línguas diferentes, do roteiro azulejar de Beja. Estavam também delineadas várias exposições de rua, com uma de dimensão internacional. Mas há gente que nunca mais entende, por desconhecimento, o valor do seu património – basta olhar para o estado lastimoso em que se encontra o centro histórico, as descobertas arqueológicas que são vistas como “empecilhos” ou o jardim suspenso da ermida de São Sebastião. E não me venham falar de falta de dinheiro.

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