Três perguntas a Rosa Mendes, médica coordenadora da Unidade de AVC da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo
A propósito da recente distinção como "Região Angels" pela European Stroke Organization (ESO), através da Unidade de AVC da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), o "Diário do Alentejo" conversou com a coordenadora da referida unidade, Rosa Mendes, sobre a importância desta distinção e como é que ela poderá contribuir positivamente para a região, no âmbito da doença vascular cerebral, assim como o que falta implementar no território para que a resposta à emergência médica ao doente de AVC possa ser melhorada.
Texto | José Serrano
O Baixo Alentejo foi distinguido como “Região Angels” pela European Stroke Organization (ESO), cuja missão é reduzir o impacto do AVC através da formação dos profissionais de saúde e sensibilização do público em geral. O que reflete esta distinção?
Reflete a elevada qualidade dos cuidados prestados na prevenção, diagnóstico e tratamento do AVC, nos níveis pré-hospitalar, hospitalar e de reabilitação pós-AVC, bem como o sério trabalho de uma vasta equipa de profissionais de saúde. A distinção premeia, também, a criação do Grupo de Ajuda Mútua aos sobreviventes de AVC, a aposta na prevenção primária com ações de sensibilização à população em geral e a iniciativa educativa “FAST Heroes”, aplicada junto da comunidade escolar, que visa sensibilizar as crianças relativamente aos sintomas de AVC e capacitá-las de ferramentas de alerta para uma ação rápida sobre o AVC.
De que forma poderá esta honraria contribuir positivamente para a região, no âmbito da doença vascular cerebral?
A existência de um sistema preparado para responder com excelência ao AVC reforça a confiança e a segurança nos cuidados de saúde de todos na região. Este reconhecimento demonstra o compromisso da coordenação conjunta entre as diferentes entidades locais, desde os serviços de emergência médica, a Ulsba, os serviços de ação social, as escolas e os diferentes municípios da região do Baixo Alentejo, de forma a tornar mais eficiente a resposta ao AVC que, na prática, significa um trabalho de todos para a melhoria das hipóteses dos doentes de AVC de sobrevivência e de uma vida sem incapacidade.
O que diria ser essencial implementar no território para que a resposta à emergência médica ao doente de AVC possa ser melhorada?
É urgente um investimento das instituições governamentais e dos municípios na melhoria das acessibilidades e de reforços dos meios de transporte pré-hospitalar e de transferência inter-hospitalar (para tratamento endovascular), de forma a não comprometer a sobrevivência do doente com AVC. Porque no AVC “tempo é cérebro”. É necessário, igualmente, valorizar a continuidade dos cuidados de reabilitação no pós-AVC, uma vez que, em algumas zonas da região, esse apoio é insuficiente ou inexistente nas diferentes valências da reabilitação. Essencial é ainda realizar um investimento importante no aumento do número de camas na rede de cuidados continuados e nas estruturas residenciais de pessoas idosas, de forma a agilizar a alta do doente com AVC e a diminuir o número de dias de internamento hospitalar, com aumento do risco de infeções e de intercorrências hospitalares. E apostar sempre na literacia em Saúde, tanto da população, em geral, como da comunidade escolar, em particular. Esta prevenção primária dos fatores de risco cerebrovasculares deveria ter uma ação mais coesa e consistente por parte das entidades de Saúde e de outros setores da sociedade com responsabilidade local, que têm uma grande capacidade de ação positiva.