Diário do Alentejo

“Acredito que a arquitetura alentejana influencia grande parte dos arquitetos contemporâneos, em Portugal.”

14 de dezembro 2025 - 08:00
Três Perguntas a Daniel Pinho, arquiteto, membro do Ateliê Arde, Odemira

A propósito da distinção do projeto da Olaria Municipal – localizada em Odemira e da autoria do arquiteto Daniel Pinho – na categoria de “Reabilitação”, no âmbito do “Prémio Arquitetura no Alentejo”, promovido pela Secção Regional do Alentejo da Ordem dos Arquitectos, o “Diário do Alentejo” conversou com o autor sobre a importância da mesma.

 

Texto José Serrano

 

 

O projeto da Olaria Municipal, localizada em Odemira, da autoria do arquiteto Daniel Pinho, foi o vencedor na categoria de “Reabilitação”, no âmbito do “Prémio Arquitetura no Alentejo”, promovido pela Secção Regional do Alentejo da Ordem dos Arquitectos. Quanto de tradição, pelo ofício ancestral que lhe está intrínseco, e de contemporaneidade, inerente à sua profissão, tem este seu trabalho?

Para mim, não há outra forma de projetar sem olhar para o que já foi feito, sem reconhecer o valor das técnicas e saberes ancestrais, ao mesmo tempo que assumo que trabalhamos no presente, com exigências e necessidades atuais. Neste projeto, esse equilíbrio entre tradição e contemporaneidade torna-se particularmente evidente. O programa do edifício está profundamente ligado ao ofício ancestral do barro, o que nos levou a optar por construir toda a parte nova, integralmente, em tijolo artesanal. Recorrermos a uma tecnologia tradicional – o tijolo estrutural com arcos a suportar a cobertura dos nichos onde se inserem os fornos – foi uma forma direta de relacionar o material com o artesão que ocupará o edifício. Esta ligação material/ofício foi essencial para marcar a transição do uso anterior, de habitação, para o novo uso, dedicado à olaria. Também procurámos não apagar a história do edifício existente: preservámos as fachadas, molduras de portas e janelas, a chaminé e as gárgulas de meia telha. Esta reabilitação incorpora, portanto, elementos e materiais tradicionais que, apesar de ancestrais, são pensados e aplicados para responder a um projeto contemporâneo.

 

De que forma a arquitetura tradicional do Alentejo “molda” a sua forma de pensar os trabalhos que executa?

Acredito que a arquitetura alentejana influencia grande parte dos arquitetos contemporâneos, em Portugal. Trata-se de uma arquitetura minimalista, honesta, muito verdadeira, cuja simplicidade é extremamente inspiradora. O uso de materiais genuínos, trabalhados de forma elementar, é profundamente alentejano e orienta muitas das decisões que tomo em projeto.

 

Desenvolvendo o seu trabalho em Odemira, traz-lhe este prémio, implantado na vila, um “contentamento” adicional?

Sem dúvida, e por duas razões. A primeira tem a ver com a proximidade física, uma vez que este projeto se situa a cerca de 200 metros do nosso ateliê. A segunda razão é simbólica: é gratificante que o prémio seja atribuído a um projeto em Odemira, pois, sendo o Alentejo um território com uma arquitetura de grande qualidade, ver este reconhecimento atribuído a uma obra aqui implantada deixa-me particularmente orgulhoso (e acho que aos odemirenses também os deixa). A Olaria Municipal já tinha obtido três nomeações, “melhor projeto” da Archilovers, “edifício do ano” da ArchDaily e “melhor reabilitação” da revista “Construir”. Conquistar o prémio de “Reabilitação” no Alentejo foi uma honra.

Comentários