Foi promulgado, no passado dia 21 de abril, o diploma do Governo que reduz a obrigatoriedade do uso de máscaras no âmbito da pandemia de covid-19, nomeadamente, nas escolas. Apesar do alívio de medidas, os estabelecimentos de ensino mantêm-se cautelosos. O coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo diz que as medidas e seus impactos devem ser analisados “com prudência”, mas a expetativa “é de uma diminuição substancial do número de casos quando o tempo melhorar”.
Texto Nélia Pedrosa
O uso de máscaras deixou de ser obrigatório nas escolas, assim como na maior parte dos espaços fechados, depois de ter sido aprovado no passado dia 21 de abril, em “Diário da República”, o decreto-lei que altera e simplifica as medidas no âmbito da pandemia de covid-19. Aquando da apresentação do diploma, a ministra da Saúde afirmou que, mais de dois anos depois, estavam reunidas as condições para o uso da máscara deixar de ser obrigatório, à exceção dos locais frequentados por “pessoas especialmente vulneráveis” ou dos transportes públicos (ver caixa). uso de máscaras deixou de ser obrigatório nas escolas, assim como na maior parte dos espaços fechados, depois de ter sido aprovado no passado dia 21 de abril, em “Diário da República”, o decreto-lei que altera e simplifica as medidas no âmbito da pandemia de covid-19.
Para o diretor do Agrupamento de Escolas de Odemira, um dos principais aspetos positivos da medida que entrou em vigor no dia 22 de abril é facilitar a comunicação. “Conseguimos ver as reações dos alunos, dos professores e dos funcionários, para além de os professores, sobretudo, passarem a identificar muito melhor os alunos”. De resto, “decorre tudo dentro da normalidade”, adianta José Seno Luís ao “Diário do Alentejo” sublinhando, no entanto, que alguns funcionários, alunos e professores, “por opção, ainda utilizam máscara”, mas “a maior parte não”.
No Agrupamento de Escolas de Moura, “a generalidade” dos alunos e dos funcionários também “já optou por não usar máscara”, diz o diretor. No caso dos professores, “mais de metade também já não usa”.“Percentualmente, o número de professores que usa máscara é superior ao número de alunos”, reforça Rui Oliveira, acrescentando que está confiante em que “aos poucos as coisas vão retomando a normalidade”.
Com o fim da obrigatoriedade de uso de máscara, prossegue, a grande mudança prende-se com o facto “de agora conseguirmos ver o sorriso dos alunos, a sua expressão facial, uma vez que a nível de comportamento e postura nas aulas não houve grandes alterações, porque os alunos já tinham o uso da máscara como um dado adquirido”.
Já o vice-diretor do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Beja diz-se admirado com a forma como a decisão do fim da obrigatoriedade do uso de máscara foi tomada, “com a autorização e aceitação do Ministério da Saúde”: “Toma-se a decisão a uma quinta-feira e na sexta-feira toda a gente aparece sem máscara. Foi uma coisa repentina. Devia ter sido dado mais tempo para que as pessoas se mentalizassem. Dá a sensação que aquele diploma fez extinguir o vírus, mas o vírus mantém-se ativo. É óbvio que alguns professores continuam a usar máscara, assim como alunos e funcionários, embora seja uma minoria”, refere José Manuel Ferro.
O responsável sublinha que “nos últimos tempos” têm aparecido “alguns casos de covid no agrupamento, apesar de não serem significativos”, no entanto, não tem dados que lhe permitam afirmar que tal se deve ao fim do uso da máscara.
Em relação às restantes medidas, nada se alterou nos três agrupamentos referidos, mantendo-se, nomeadamente, o cumprimento do distanciamento físico, o arejamento e a higienização dos espaços.
“Todo o cuidado é pouco porque o vírus não desapareceu, embora tenhamos uma grande camada da população vacinada”, reforça o vice-diretor do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Beja, frisando que são notórios alguns problemas decorrentes do encerramento das escolas durante os confinamentos e consequente ensino à distância, designadamente, “ao nível da aprendizagem e da socialização dos miúdos, do próprio ambiente de relacionamento uns com os outros, especialmente nas camadas mais jovens”.
“Esperamos que tudo volte à normalidade, que voltemos a desempenhar as nossas funções da melhor forma possível, esquecendo estes dois anos de pandemia que acabaram por nos prejudicar bastante, sobretudo, no processo ensino aprendizagem. As aulas à distância não foram muito benéficas quer para alunos, quer para professores”, conclui, por sua vez, o diretor do Agrupamento de Escolas de Odemira.
CACOS TÊM VINDO A AUMENTAR, MAS SEM GRAVIDADE ASSOCIADA
Segundo o coordenador da Unidade de Saúde Pública da Ulsba, à semelhança do que se verifica a nível nacional, o número de casos de covid-19 tem vindo a aumentar na região, “o que já era expetável”. “Tivemos agora um evento de massas, a Ovibeja, que, devido à grande concentração de pessoas, aumenta o número de casos durante um período transitório. Já está a estabilizar, mas com números elevados, o que era expectável, uma vez que desde fevereiro temos uma nova variante da Ómicron, a BA.2, altamente transmissível, e a maioria das medidas têm vindo a ser abandonadas. Basta não haver isolamentos, por exemplo, de contactos para haver uma maior transmissão”. Este aumento, frisa Mário Jorge Santos, “não se acompanha”, contudo, “por um acréscimo da gravidade”, devido “às altas taxas de vacinação que temos e também às muitas infeções que já tivemos e que produzem imunidade”.
“Cada vez mais estamos perante uma situação estável de tipo endémico que, provavelmente, irá ter, no futuro, contornos semelhantes à gripe. Este vírus é particularmente sensível ao clima, portanto, temos tido condições ótimas para a sua transmissão – humidade, chuva, frio e pouco sol. Nos períodos em que há sol diminui a transmissão, uma vez que quer os raios ultravioletas, quer os infravermelhos matam o vírus. Esperamos que diminua o número de casos assim que vier a primavera a sério, com tendência para haver um agravamento depois a partir de outubro”, esclarece o especialista.
Em relação ao fim da obrigatoriedade de uso de máscara em espaços fechados, o coordenador da Unidade de Saúde Pública considera que é uma medida “adequada e que veio no momento certo”. “Temos de normalizar a nossa vida social e nas escolas também”, justifica Mário Jorge Santos, defendendo, no entanto, “que as pessoas devem comportar-se de maneira responsável, e as crianças devem ser educadas a comportarem-se da mesma maneira”, sendo que “em eventos de massas, principalmente, ou em pequenos eventos, onde haja muita gente num espaço muito reduzido, deve-se usar máscara, mas fica na consciência de cada cidadão proteger-se a si e aos outros”.
Para além disso, “deve manter-se o distanciamento social sempre que necessário e não comparecer no local de trabalho caso esteja doente”, acrescenta o especialista, concluindo que cada medida e seu impacto devem ser analisados “com prudência”, mas a expetativa “é de uma diminuição substancial do número de casos quando o tempo melhorar”.
EXCEÇÕES
Segundo o decreto-lei, a máscara continuará obrigatória nos estabelecimentos e serviços de saúde, nas estruturas residenciais ou de acolhimento ou serviços de apoio domiciliário para populações vulneráveis ou pessoas idosas, nas unidades de cuidados continuados integrados da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e, ainda, nos transportes coletivos de passageiros, incluindo o transporte aéreo, o transporte de passageiros em táxi ou TVDE (transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados).