Eleito como independente nas listas da CDU, Leonel Rodrigues, que sucedeu ao socialista João Serranito Nunes na presidência da Câmara de Barrancos, diz que a fixação de pessoas, assim como a diversificação da economia local e a promoção do emprego e crescimento são algumas das prioridades para o concelho.
Texto Nélia Pedrosa
Como é que encontrou a Câmara de Barrancos?
A situação financeira do município obedeceu a uma gestão criteriosa desde há 12 anos, permitindo desenvolver uma situação cómoda em termos de tesouraria e capacidade de endividamento. No anterior mandato fez-se uma gestão correta, corrente, no entanto, sem obras de grandes investimentos à exceção da casa mortuária que está em execução faltando, ainda, lançar o procedimento das restantes fases, já em 2022. Em termos organizacionais, deparámo-nos com faltas de materiais, nomeadamente, para a continuação de obras de administração direta. Em termos organizacionais existia falta de coordenação em alguns serviços, sem chefias, originando ineficiência na própria informação interna.
Quais foram as primeiras medidas deste novo executivo?
Desde o primeiro dia que este executivo iniciou uma ronda de reuniões com as diferentes entidades que detinham relação contratual com a câmara para conhecer a realidade efetiva da estrutura e organização. A organização de serviços, nomeação de chefias e coordenação também fizeram parte das primeiras decisões. Quanto às obras, a única grande obra em execução era a casa mortuária, e foi nesta questão que foquei as minhas primeiras decisões. É uma obra complicada, que acarreta várias fases e que ainda vinha embrulhada numa série de problemas que necessitavam urgentemente de soluções, nomeadamente, aquisição de materiais para a obra, que não estavam dentro da empreitada e para a qual não havia qualquer procedimento nem oferta desses materiais no mercado, como o xisto (apesar de em Barrancos haver xisto, não existe licença de exploração da pedreira). A somar, existia uma rotura da conduta nova, construída durante os trabalhos da obra e que ficou subterrada nos muros suportes da mesma, o que impossibilitou uma intervenção para solucionar o problema. Foi necessário repensar a passagem da conduta para outro lugar e assumiu-se assim a construção de uma nova conduta (de abastecimento à vila) sem pôr em causa futuras reparações. Foi ainda tomada a decisão de continuar com obras já aprovadas no âmbito do Alentejo2020. Tratando-se de dinheiros públicos não devemos alterar situações que possam pôr em causa o financiamento entretanto aprovado e as verbas gastas com a elaboração de projetos. Nesse sentido foi, de forma imediata, consignada a obra de recuperação da conservação e reabilitação da muralha nascente do castelo de Noudar. Encontra-se ainda em análise uma outra operação que prevê a requalificação de um edifício municipal para albergar o futuro centro de interpretação e conhecimento do Barranquenho. Iniciar os procedimentos para efetuar as alterações de regulamentos que prestam apoios sociais, entre outros, foi outra das medidas imediatas, e em curso, no sentido de os tornar mais flexíveis, eficazes e justos.
Quais são as suas prioridades?
As prioridades assentam em fixar pessoas; diversificar a economia local; promover o emprego e o crescimento; continuar a reivindicar ao Governo melhores acessibilidades e investimentos. O programa deste mandato e orçamento inicial assenta em cinco linhas estratégicas: criar valor e potenciar o turismo, o património, a cultura e a identidade; impulsionar o crescimento, o emprego e a inovação; melhorar a qualidade de vida e o ambiente; reforçar a coesão social, inclusão e colaboração institucional; e promover uma governação aberta, participada e transparente.
Que outros projetos considerados estruturantes quer implementar neste seu primeiro mandato?
De forma imediata desenvolver a regulamentação necessária para criação de vantagens e apoios específicos às empresas e outras entidades que celebrem com o IEFP contratos de apoio ao emprego e/ou estágios; regularização de situações de emprego instável apoiando as entidades que possam converter estas situações em emprego não precário. A médio prazo, desenvolver todos os esforços para concretização do projeto Centro de Ação Empresarial. No âmbito do turismo, apostar em fatores diferenciadores e determinantes, como é o caso do Barranquenho enquanto língua. Outras medidas passam pela solução definitiva do caminho do castelo de Noudar; iremos apostar na criação do Parque da Biodiversidade e da Conservação; requalificação urbana com foco na mobilidade e no turismo e embelezamento da vila; bem como a criação de apoios mais alargados de âmbito social.
Qual a importância que atribui ao Plano de Recuperação e Resiliência?
O município quer que o PRR seja um instrumento ao serviço de uma visão de um concelho mais competitivo e pujante. Por isso, foi desenhada uma estratégia que, envolvendo várias áreas dentro das competências da câmara e as linhas estratégicas de atuação já definidas, vai ao encontro da execução de fundos do PRR, numa visão transversal e direcionada para os setores que verdadeiramente criam prosperidade. Barrancos preparou uma estratégia para grande parte dos projetos futuros possa vir a ser suportada pelos fundos do PRR e PT2030.
Como antevê o futuro próximo do concelho?
A estratégia definida para este mandato foi desenhada no sentido de termos esperança no futuro, nas pessoas e nas oportunidades que esta terra pode gerar. Iremos lutar “por cada cêntimo” do PRR e do novo PT2030 para investir no concelho.
DESPOVOAMENTO “É PROBLEMA GRAVE”
Os Censos 2021 mostram que Barrancos e Baixo Alentejo continuam a perder população. Como é que se poderá travar o despovoamento?
É um problema grave que não pode ser apenas acometido pela administração local, mas também pelo Governo. A câmara deve apostar em apoios e condições que favoreçam a criação de pequenas empresas relacionadas com os produtos locais, com o turismo, uma economia mais diversificada, nas novas tecnologias, na formação, nos jovens e atrair massa critica, criar espaços de acolhimento às empresas, com uma panóplia de serviços à sua disposição que favoreça o seu desenvolvimento, crescimento e rentabilidade, melhorar os serviços de proximidade aos cidadãos, criar as condições de acesso à prestação de cuidados de saúde. Promover, identificar e capacitar o território é fundamental.