Diário do Alentejo

Número de óbitos no Baixo Alentejo aumenta 12,3%

21 de dezembro 2021 - 09:50

 O total de óbitos registados de janeiro a novembro deste ano no Baixo Alentejo superou os valores de 2019 e 2020. Comparativamente a igual período de 2019, antes do início da pandemia de covid-19, verificou-se um aumento de 12,3 por cento. O coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo diz que o fenómeno, que não é novo, está associado ao envelhecimento da população e à redução da natalidade, mas que a pandemia de covid-19 veio “acelerar” esse aumento.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Entre 1 de janeiro e 21 de novembro deste ano registaram-se 1884 óbitos no Baixo Alentejo, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mais 59 do que no período homólogo de 2020 (+ 3,2 por cento) e mais 207 do que em igual período de 2019, antes do início da pandemia de covid-19 (+ 12,3 por cento). Ainda de acordo com os dados do INE, no Alentejo, no mesmo período deste ano, contabilizaram-se 7234 óbitos, mais 400 do que em 2020 (+ 5,9 por cento) e mais 735 do que 2019 (+ 11,3 por cento).

 

O coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) sublinha, em declarações ao “Diário do Alentejo”, que a tendência de aumento do número de óbitos tem-se vindo a verificar nos últimos anos, associada ao envelhecimento da população, porém, a pandemia de covid-19 veio “acelerar” esse acréscimo.

 

“O número de óbitos aumenta, tal como a taxa de mortalidade, à medida que a população envelhece. Nas regiões do interior, como o Alentejo, que têm baixa densidade populacional por um lado e duplo envelhecimento [aumento da população idosa e redução da natalidade] por outro, a tendência normal é sempre haver um aumento do número de óbitos ocorridos nos residentes. Essa é a tendência natural e é um cenário que se verifica a nível nacional, porque o País, no seu global, está a envelhecer, e até mundial ”, afirma Mário Jorge Santos, acrescentando que “em regiões com menor envelhecimento, como no litoral ou nas grandes cidades, o impacto é inferior”.

 

Na ausência de pandemia de covid-19, o aumento de óbitos seria, no entanto, “menor”, frisa. O especialista lembra que a pandemia teve um impacto “muito negativo” em todos os serviços de saúde, “nomeadamente, nos cuidados primários, que fazem também medicina preventiva e acompanham os doentes com patologias que são fatores de risco, como, por exemplo, a diabetes e a hipertensão”, e que causou, ainda, “uma grande irregularidade, principalmente, durante o primeiro trimestre de 2021, na possibilidade de resposta hospitalar, o que afeta também doentes não covid, portanto, o impacto da pandemia não se refere apenas às mortes covid, embora elas sejam uma percentagem significativa desse acréscimo real”.

 

“Se não houvesse pandemia, se não houvesse interrupção dos serviços, se tudo funcionasse normalmente, mesmo assim haveria um acréscimo de óbitos. A pandemia, em alguns casos, o que fez foi antecipar a morte. Mas quando a pandemia estiver superada teremos uma configuração da mortalidade sempre crescente, mas mais estável”, reforça o coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, realçando, no entanto, que a “mortalidade prematura” é preocupante, pelo que é necessário perceber “com que idades é que as pessoas morrem”. “Mais do que o número total de mortos, temos de ver se houve ou não diminuição da esperança média de vida, e eu estou convencido de que houve devido à pandemia. Se a esperança de vida se mantiver, isso revela que os nossos serviços têm funcionado relativamente bem, que estamos perante um fenómeno perfeitamente natural. Se houve uma diminuição da esperança de vida, os serviços de saúde têm de saber reagir a isso. Infelizmente todos iremos morrer, mas a mortalidade prematura é preocupante”, sublinha o responsável.

 

O presidente do Conselho Sub-Regional de Beja da Ordem dos Médicos, por sua vez, diz que não possuem “dados concretos sobre os números” divulgados pelo INE que “permitam uma interpretação fiável dos mesmos”. Pedro Vasconcelos sublinha, no entanto, que, “atendendo ao panorama pandémico que ainda se atravessa, e às consequências que o mesmo teve na capacidade de atendimento global dos diversos problemas de saúde, não será desadequado atribuir ao mesmo os números citados, a par do envelhecimento demográfico”.

 

“CENÁRIO COVID-19” OTIMISTA

O coordenador da Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) diz-se “otimista” relativamente ao “cenário covid-19”, dado que, atualmente, “o padrão epidemiológico da região é bastante melhor do que a nível nacional”. “A dose de reforço da vacina é muito eficaz na prevenção da doença e também no caso de a pessoa adoecer, portanto, antevejo muito menos casos do que durante o período homólogo passado do pico das doenças respiratórias de inverno, que ocorre normalmente no final de janeiro e início de fevereiro. Se houver também uma boa adesão à vacinação das crianças teremos muito menos casos, porque elas não vivem sozinhas, contactam com os avós, por exemplo. Também não teremos centenas de internamentos como no ano passado, a exaustação dos profissionais de saúde e a impossibilidade de fazer consultas externas, de fazer intervenções cirúrgicas”, afirma Mário Jorge Santos.

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