Apenas uma das quatro fábricas alentejanas de transformação de bagaço de azeitona parou de receber este produto dos seus fornecedores habituais por incapacidade de armazenamento, originando a paragem de quase 50 lagares, na atual campanha olivícola.
No passado dia 09 deste mês, a Fenazeites - Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Olivicultores alertou que o setor olivícola do Alentejo estava paralisado, desde a apanha da azeitona à produção de azeite, devido à falta de capacidade das fábricas da região para armazenar bagaço proveniente dos lagares.
Das quatro fábricas apenas uma delas, a da UCASUL - União de Cooperativas Agrícolas do Sul, no concelho de Alvito, confirmou ter parado de receber bagaço por falta de capacidade para armazenar o produto, resultante da produção do azeite e formado por fragmentos de pele, polpa e caroço de azeitona.
O presidente da direção da UCASUL, António Brito, confirma que a fábrica já parou por duas vezes de receber bagaço de fornecedores habituais não associados, entre lagares de cooperativas e privados, a primeira entre 21 de novembro e 02 de dezembro e a segunda entre 04 de dezembro e esta terça-feira (14/12/).
Segundo António Brito, naqueles dois períodos, a fábrica só recebeu bagaço dos lagares das suas sete cooperativas associadas e recomeçou, na quarta-feira (15/12), a receber de outros fornecedores habituais, “mas de uma forma muito controlada”.
“Cerca de 50 lagares tiveram de parar a produção ou procurar novas soluções” por não poderem entregar bagaço na fábrica da UCASUL, que transforma bagaço de azeitona em óleo e biomassa, acrescenta.
A fábrica UCASUL tem uma capacidade estática para armazenar 150.000 toneladas de bagaço e, por dia, pode transformar 600 toneladas, mas “já chegou a receber 6.000 toneladas, ou seja, 10 vezes mais”, continua. Na atual campanha, devido ao aumento da produção de azeitona e à falta de chuva, o que é favorável à apanha rápida, tem chegado azeitona em maiores quantidades e mais rápido aos lagares e “um volume muito maior” de bagaço para ser transformado nas fábricas.
A união de cooperativas quer ampliar as instalações da sua unidade ou criar uma nova fábrica, mas tem tido “muita dificuldade na atribuição de licenças”, confessa o presidente.
“Toda a fileira olivícola tem vindo a crescer, mas não houve da parte do Governo vontade política para ampliar as unidades de transformação de bagaço de azeitona ou criar novas”, critica.
As outras três fábricas alentejanas indicaram que ainda não pararam de receber bagaço de fornecedores por qualquer incapacidade de armazenamento.
A administração da AZPO- Azeites de Portugal, no concelho de Ferreira do Alentejo, e da Oleoalegre, no concelho de Monforte, ambas do grupo espanhol Migasa, afirmam que “estão a receber bagaço dos fornecedores habituais e de alguns novos”, o qual transformam em óleo e azeite.
A administração não precisa as capacidades de armazenamento e de transformação de bagaço que as duas unidades produzem, mas diz que “podem e estão disponíveis para realizar os investimentos necessários” para as aumentar, “caso seja necessário”.
Também o diretor industrial da fábrica Casa Alta, no concelho de Ferreira do Alentejo, João Diogo, refere que a empresa está “a cumprir escrupulosamente os contratos com os fornecedores”. Reafirmando que a Casa Alta “ainda não parou de receber bagaço” e vai “receber um bocado mais do que estava a pensar no início da campanha, mas todos os lagares com quem tem contrato estão a operar de forma normal”.
Segundo João Diogo, na atual campanha, como já tinha acontecido na de 2019/2020, a Casa Alta, que tem uma capacidade estática para armazenar 300.000 toneladas de bagaço, recebeu este produto de lagares de cooperativas, que não são fornecedores habituais. “E ainda tem espaço e capacidade para receber e transformar mais bagaço de outros fornecedores”, frisa, referindo que a Casa Alta “tem poucos, mas grandes fornecedores de bagaço e que são os grandes operadores da área do azeite no Alentejo”.