Diário do Alentejo

Censos: Freguesia de Alfundão ganhou população

15 de setembro 2021 - 16:05

Na União de Freguesias de Alfundão e Peroguarda houve um crescimento populacional. O facto ficará a dever-se ao número de portugueses e estrangeiros que, trabalhando em algumas empresas ali sediadas, passaram a residir nas duas localidades da freguesia. Com um projeto de fixação de pessoas em curso, a herdade do Vale da Rosa poderá contribuir para um aumento ainda mais significativo nos próximos anos.

 

Texto Júlia Serrão

 

Ainda no rescaldo dos Censos 2021, há histórias que ficaram por contar. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que revelaram uma perda clara de população residente em todo o distrito de Beja, Odemira não é a única exceção com um crescimento populacional na última década. Na União de Freguesias de Alfundão e Peroguarda, no concelho de Ferreira do Alentejo, há também mais habitantes do que no último Censos, em 2011: na altura eram 1227 moradores; atualmente são 1284. Um crescimento de 4,6 por cento num concelho que, à semelhança de todos os outros do interior alentejano, perdeu população no mesmo período. No caso, são menos sete por cento de habitantes.

 

O presidente da junta diz tratar-se de um “saldo positivo, independentemente” do que se traduz “em número”. A presença da maior empresa empregadora da região em Alfundão e Peroguarda, a herdade do Vale da Rosa, explica grande parte do seu crescimento demográfico, segundo Carlos Raposo. “Isto porque o comendador António Silvestre Ferreira trouxe para o concelho muitos migrantes da Venezuela, que se instalaram aqui e com trabalho garantido”. Não fosse o problema da habitação, que diz ser transversal a todo o Baixo Alentejo, provavelmente haveria mais gente a querer fixar-se, “e a margem [de crescimento] seria superior”. Diz que a freguesia tem praticamente “todos os serviços essenciais”. O problema é que “hoje é mais rentável alugar uma casa a dez pessoas do que a uma família”, conclui.

 

Dando conta de tratara-se de uma freguesia com grandes empresas sediadas, o presidente da junta fala ainda da presença de alguns empresários migrantes e “jovens naturais que estavam a viver fora” e que, por causa da pandemia voltaram para ficar, “visto trabalharem a partir de casa”.

 

Sublinhando que é na União de Freguesias de Alfundão e Peroguarda que se localizam algumas das principais empresas agrícolas do concelho, como a Herdade Vale da Rosa, a Herdade do Pinheiro ou a Velenciagro, o vereador da Câmara de Ferreira do Alentejo, José Guerra diz que “muitos trabalhadores destas empresas, portugueses e estrangeiros”, passaram a residir nas duas localidades da freguesia.

 

FIXAR PESSOAS E DESENVOLVER A REGIÃO

Para fazer frente à falta de mão-de-obra, António Silvestre Ferreira começou a trazer cidadãos luso-venezuelanos para o Vale da Rosa, a herdade da uva sem grainha, de que é proprietário. “Começámos há cerca de seis anos, já trouxemos mais de 100 pessoas. Neste momento, 15 por cento pertencem aos quadros dirigentes do Vale da Rosa. Isto é muito importante para nós, pois podemos contar com pessoas de muito bom nível, melhorando muito a nossa equipa”, diz o comendador. Agora a Fundação Vale da Rosa, constituída na primavera de 2019, quer não só trazer mais pessoas para o Baixo Alentejo, como fixá-las, promovendo o desenvolvimento da região.

 

Na altura das colheitas, os campos enchem-se de gente: são cerca de mil trabalhadores de muitos lados do mundo. No ano passo representavam 22 nacionalidades. António Silvestre Ferreira diz que alguns “se distinguem”, pelo que a empresa “tem todo o interesse” em conservá-los. “O tesouro das organizações são as pessoas. Se tivermos o privilégio de ter connosco as competentes, naturalmente, teremos mais sucesso. Mas para que elas queiram ficar connosco temos de as tratar com dignidade, respeito e proteção, de forma que se sintam felizes”, comenta, explicando que o lema número um do Vale da Rosa é “tratar os outros como nós gostamos de ser tratados”.

 

Para isso, através da Fundação Vale da Rosa, estão a ser construídas “instalações de muito bom nível” para os trabalhadores. Neste momento estão a inaugurar mais um alojamento para 80 pessoas, que vai juntar-se a outro já existente no Vale da Rosa, na freguesia de Alfundão e Peroguarda, havendo ainda um “anteprojeto, já executado, para outras 1500 pessoas”. Revela António Silvestre Ferreira que “a ideia, o sonho é continuar a trazer muitas pessoas” para a região.

 

Mas como o Vale da Rosa só tem trabalho de maio a novembro, foi com a Câmara Municipal procurar empresas no concelho que tivessem necessidade de colaboradores para o resto do ano, nas campanhas da laranja e da azeitona, por exemplo. Ainda com o município, foi assinado um acordo com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para dar formação profissional aos trabalhadores agrícolas “que em determinados períodos não terão uma ocupação”. Como “a ideia e o desejo” é que essas pessoas tragam as famílias e se fixem, à semelhança do que tem acontecido com os luso-venezuelanos, a Fundação vai fazer um bairro residencial para estes agregados, num dos seus terrenos em Ferreira do Alentejo.

 

“Desta forma, conseguiremos trazer para o nosso concelho mão-de-obra muito qualificada que ficará a residir na região”. António Silveira Ferreira acredita que com esta atividade permitirá construir um concelho cada vez mais importante dentro do perímetro de rega Alqueva. Se tudo correr como o previsto, assegura, o próximo Censos “poderá vir a constatar um crescimento demográfico exponencial” no conjunto destas duas localidades.

 

“CAPITAL DOS TRANSPORTES E DOS SERVIÇOS AGRÍCOLAS”

A União de Freguesias de Alfundão e Peroguarda foi constituída em 2013, no quadro de uma reforma administrativa, pela junção das antigas freguesias de Alfundão e Peroguarda, tendo sede em Alfundão. No último Censos, de 2011, Alfundão tinha 863 residentes e Peroguarda 364. Agora são 1284 habitantes. Situada a 11 quilómetros da sede de concelho, Ferreira do Alentejo, a união de freguesias tem uma área de 88,33 quilómetros quadrados. Reúne um número significativo de empresas agrícolas e de transportes, o que já lhe valeu o reconhecimento como “capital dos transportes e dos serviços agrícolas” da região.

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