Três ‘trishaws’ chegados a Castro Verde prometem proporcionar passeios aos idosos ou a pessoas com mobilidade reduzida, ajudando a quebrar o isolamento a que muitos estão restringidos.
Texto Júlia Serrão
A proposta, que visa contribuir para o “bem-estar geral, autoestima e confiança” desta população, insere-se no espaço de um Contrato Local de Desenvolvimento Social de 4.ª geração (CLDS 4G): o CLDS 4G “Castro+Vivo”, que reúne várias valências e se apresenta como “instrumento de combate à exclusão social”. Por sua vez, a aquisição das bicicletas acontece no âmbito do Orçamento Participativo 2021.
O programa está a recrutar voluntários residentes no concelho para conduzir os três ‘trishaws’, adquiridos para promover passeios à população idosa ou a pessoas com motricidade reduzida, enquanto nos “bastidores” do projeto seguem os testes ao equipamento e se decidem os percursos. A seguir virá a formação dos condutores.
A aquisição destas bicicletas insere-se no âmbito do projeto vencedor do Orçamento Participativo 2021, intitulado “Pelo Direito ao Vento nos Cabelos – Pedalar sem Idade”, apresentado por Cidália Guerreiro, coordenadora do CLDS 4 G “Castro+Vivo”, representando neste último o Lar Jacinto Faleiro, a entidade convidada pela Câmara de Castro Verde a dinamizar e coordenar este Contrato Local de Desenvolvimento Social com duração de três anos.
O projeto define-se como um “instrumento de combate à exclusão social marcado por uma intervenção de proximidade, realizada em parceria”, com vista à promoção da “inclusão social” de grupos da população mais frágeis socialmente, “mobilizando para e articulando com os recursos e agentes localmente já disponíveis”. Cidália Guerreiro explica que a iniciativa assenta em vários eixos de intervenção. Um tem que ver com “o emprego, formação e qualificação”. Trabalham essencialmente com pessoas desempregados, mas também com quem deseja mudar de emprego, colocando-se muitas vezes a necessidade de otimizar “competências para promover” a empregabilidade.
“Ajudamos a desenvolver atitudes de procura ativa de emprego, a fazer currículos e a preparar [os candidatos] para as entrevistas”. Adianta que por causa da pandemia de covid-19, muitos processos passaram a ser ‘online’, nomeadamente no que respeita à procura/candidatura de emprego, e que as pessoas não estavam preparadas para esta mudança.
Simultaneamente, o CLDS 4 G “Castro+Vivo” trabalha com as empresas, associações, e entidades empregadoras locais “sensibilizando-as para uma concretização de medidas ativas de emprego e em processos de inserção profissional e social”. Esclarece: “Se estas crescerem e melhorarem a estabilidade financeira, isso pode ser significativo de promoção de emprego, que é o nosso principal objetivo. Trabalhamos no sentido de divulgar medidas de financiamento e de melhorias junto” destas instituições.
ENVELHECIMENTO ATIVO
Segue-se o trabalho com os alunos do secundário. O qual, “através de ‘workshops’ e atividades lúdicas” pretende “levar cada um a refletir sobre o seu percurso de vida”, que pode passar pelo ensino universitário, “o que normalmente é a escolha”. Seja como for, é importante saber que existem outras alternativas, refere. Em tempo de valorização do empreendedorismo, a psicopedagoga conta que procuram sensibilizar e estimular “a procura do autoemprego ou a concretização de projetos de vida em novas ideias, tentando conciliá-las mais perto do mundo empresarial”.
A promoção do envelhecimento ativo e o apoio à população idosa é mais um eixo relevante de intervenção do Projeto “Castro+Vivo”. Traduz-se em ações socioculturais que o desenvolvam e na autonomia deste grupo, e que combatam a “solidão e o isolamento”, promovendo o desenvolvimento de projetos de voluntariado “vocacionado” para o trabalho com esta população. “Trabalhamos no sentido de minimizar o isolamento e prevenir algum processo demencial que possa ocorrer, principalmente agora que, por causa da covid-19, este grupo ficou ainda mais só”, exemplifica.
Cidália Guerreiro diz que quando candidatou o Projeto “Pelo Direito ao Vento nos Cabelos – Pedalar sem Idade” ao Orçamento Participativo 2021, antes da pandemia, foi a pensar nesta luta pelo envelhecimento ativo. A ideia era criar grupos de voluntários na comunidade que “fossem companhias de afetos” junto da população mais idosa: “Ir a casa das pessoas ler jornais, por exemplo, ou acompanhar às compras ou ao cabeleireiro as que tivessem dificuldades em andar”. A pandemia não o permitiu.
Neste momento estão a promover voluntários para o “pedalar sem idade”, em que o principal objetivo é “tirar os idosos de casa”. Mas também pode ser para “estarem sentados”, lado a lado, apenas. “Esta população mais velha tem muita necessidade de falar, de contar histórias, e de ser ouvida”, dá conta a coordenadora, sublinhando que, neste sentido, também é possível fomentar a relação entre gerações.
RETOMAR OS PROJETOS QUE A PANDEMIA DEIXOU SUSPENSOS
O CLDS 4G “Castro+Vivo” arrancou em julho de 2020. Mas por causa da pandemia, que deu lugar a sucessivos confinamentos, não pode materializar-se em pleno. Adaptou algumas ações, outras ficaram em modo de espera. Setembro pode ser tempo de reatar e sair para o terreno. Na área do emprego, prevê-se uma maior proximidade com a população: “As pessoas já vêm ter connosco. Mas o nosso objetivo é ir às zonas rurais fazer atendimentos e fomentar algumas competências a nível da empregabilidade”, diz a coordenadora do projeto. Outra atividade suspensa foi o trabalho com os alunos do ensino secundário, já que a escola esteve fechada e “tudo estava desenhado para [decorrer de forma] presencial”.
Cidália Guerreiro diz que, neste momento, está a ser redesenhado todo o projeto, adaptando-o ao ‘online’. Os passeios de ‘trishaws’ marcam o regresso à atividade com a população sénior, que é vasta. A coordenadora dá conta de 144 idosos inscritos para participar nos ateliers, em conjunto com o Castro 21 da Câmara Municipal. As atividades de estimulação cognitiva e dança sénior irão voltar, quinzenalmente, às aldeias do concelho.