Diário do Alentejo

Beja. As eleições autárquicas vistas pelos mandatários

01 de setembro 2021 - 08:00

Casimiro Heitor (PS), João Dias (CDU), Filipe Pombeiro (coligação liderada pelo PSD) e Gina Mateus (Bloco de Esquerda), mandatários das candidaturas à Câmara de Beja, analisam as próximas autárquicas em Beja

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Francisco Santos (PCP/PEV), eleito em 2005 não conseguiu ser reeleito em 2009, ano em que venceu Jorge Pulido Valente (PS). Quatro anos depois, a coligação liderada pelos comunistas reconquistou a Câmara Municipal de Beja com uma lista encabeçada por João Rocha. No entanto, ainda não foi dessa vez que o presidente em exercício conseguiria a reeleição: Paulo Arsénio e o PS saíram vencedores em 2019.

 

Numa altura em que os bejenses se preparam para avaliar as candidaturas através do voto, os mandatários das listas concorrentes fizeram para o “Diário do Alentejo” o balanço do último mandato e perspetivaram o futuro. E numa coisa estão todos de acordo: estas eleições são fundamentais para o futuro da cidade e da região.

 

Casimiro Heitor, mandatário da candidatura do PS “Sentir Beja” diz que “as novas competências atribuídas às autarquias no âmbito da saúde de proximidade, da educação, da área social e do desenvolvimento económico e social” tornam esta eleição “crucial”, pois, “ao invés de recusar e criticar tal descentralização”, os autarcas devem assumir essas responsabilidades. Tanto mais que a “bazuca” vai permitir “investimentos estratégicos” como, por exemplo, “a melhoria da ligação rodoviária de Beja a Sines e a Lisboa e a eletrificação da ligação ferroviária”, que “terão um efeito multiplicador na economia”.

 

O mandatário socialista considera ainda que as novas atribuições das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional exigem “uma mudança de paradigma para a qual os autarcas têm que estar preparados”, para que o futuro da região seja feito “mais em articulação e menos em confronto”.

 

João Dias, mandatário da CDU, considera que a proximidade dos autarcas em relação às populações é o que evita “estarmos hoje bem piores, na medida em que - considerando o absoluto esquecimento dos últimos Governos relativamente à região e ao concelho de Beja - são quem mais tem lutado pelas condições para o desenvolvimento a que temos direito”.

 

Assim, considera o também deputado do PCP eleito por Beja, “estas eleições são um momento de afirmação do Poder Local que precisa ver recuperados os cortes no financiamento que, desde 2007”, desde a ‘troika’ até hoje, “ainda não foram repostos”. E critica a intenção de “despejar novos encargos, insatisfações e incapacidades de responder às justas aspirações e direitos da população, asfixiando económica e financeiramente as autarquias sem contudo lhes dar todos os meios e condições para poder exercer o seu papel com autonomia”.

 

Pela candidatura encabeçada por Nuno Palma Ferro e apoiada pelo PSD, CDS, PPM, Aliança e Iniciativa Liberal, responde Filipe Pombeiro: “Estas eleições são da maior importância para a Beja e para o Baixo Alentejo. Pelas mais diversas razões, para além de constituírem um dever cívico, sobretudo porque estamos a começar um novo quadro comunitário em que o aproveitamento que for dado a esses fundos, por parte dos municípios, condicionará o futuro da nossa cidade e região e porque precisamos mesmo de inverter a desertificação populacional que temos sofrido nas últimas décadas”.

 

Já o Bloco de Esquerda (BE), pela voz de Gina Mateus – mandatária e cabeça da lista à Assembleia Municipal – diz que “o impacto que as alterações climáticas estão a ter no ambiente nesta região (questão da água, da biodiversidade e da paisagem)” necessita “de respostas globais”, mas “as ações locais são fundamentais”.

 

A bloquista considera ainda que é urgente “que a nível local se dê continuidade à reflexão sobre as condições em que se estão a desenvolver as novas práticas agrícolas sempre que as mesmas se mostrem lesivas das populações”. Os resultados do último Censos “confirmaram a situação de profunda desigualdade em que se encontram muitas das regiões do nosso País, situação que as políticas desenvolvidas, apesar dos discursos, não reverteram e, pelo contrário, agravaram”, com ênfase na “falta de incentivo à permanência dos mais jovens, profundas desigualdades sociais e pobreza”.

BALANÇO DE MANDATO

O mandatário da lista encabeçada pelo atual presidente, Paulo Arsénio, diz que o balanço que faz é aquele “que faz qualquer pessoa que reside no concelho de Beja”. Para ele, “há que diferenciar o que foi feito nos últimos quatro anos e o que não foi feito durante décadas de poder autárquico da CDU. O concelho de Beja é hoje claramente diferente, para melhor”. E dá três exemplos “paradigmáticos”: “a Praia dos 5 Reis é reconhecida, por residentes e por quem a visita, como um local perfeito para os dias quentes de verão; o complexo de piscinas municipais e o mercado municipal estão a ser alvo de importantes obras de restauro e requalificação que há décadas eram urgentes mas nunca realizadas e que tornarão estes equipamentos mais adequados e consentâneos com a modernidade”. Casimiro Heitor diz ainda ser “preciso destacar que, num município onde as receitas são escassas, nos últimos dois anos foi necessário canalizar verbas consideráveis para o combate à pandemia”.

 

Para João Dias, “os últimos quatro anos vieram provar que a gestão da autarquia de Beja pela CDU, mais do que necessária, é urgente”. Considera “incrível o que se perdeu em apenas quatro anos de PS na Câmara Municipal de Beja”, concluindo que “o concelho, na verdade, parou”. E critica a atual vereação por ter “as portas fechadas para a população, quando esta pede para ser ouvida”, e onde, segundo o mandatário da candidatura de Vítor Picado, “as queixas aumentaram 1000 por cento face ao mandato anterior”.

 

Mas as críticas não se ficam por aí. E incluem o silêncio face “ao avanço desenfreado das culturas superintensivas”; a “escolha” de um hospital privado “ao invés de lutar pela construção do novo edifício do Hospital de Beja”; o desrespeito pelos comerciantes “de que é exemplo os cabazes de natal que foram adquiridos fora do concelho quando poderiam ter sido comprados no comércio local”; ou a falta de “empenho na luta pelos projetos estruturantes, como o aeroporto de Beja, a ferrovia ou o IP8”, numa atitude que considera “subserviente ao Governo de António Costa”.

 

Filipe Pombeiro diz que o balanço será feito na campanha pelo candidato à presidência da câmara. “Estou muito mais interessado no futuro, onde nos devemos preocupar sobretudo com a questão populacional. A primeira preocupação do próximo presidente da Câmara de Beja deve ser a captação de investimento como forma de acelerar a nossa economia, gerar maior atividade económica, como forma de criar mais e melhores postos de trabalhos. Será este o fator decisivo, para inverter, a situação que vivemos há décadas, em que, não temos sido capazes de fixar os nossos jovens, nem atrair outros de outras regiões”, afirma o também presidente do Nerbe.

 

A mandatária do BE, Gina Mateus, considera como “positivo o esforço que foi feito para melhorar as acessibilidades dentro da cidade de Beja (os chamados percursos acessíveis)”, considerando, no entanto, que muito falta ainda fazer no que se refere às acessibilidades, “não apenas na cidade”, mas na promoção de “uma autêntica rede de transportes públicos no concelho”.

 

Com a mesma nota de aprovação refere a decisão da Assembleia Municipal para atribuir “a tarifa social automática da água e resíduos”, lamentando, no entanto,” que esta medida, tão importante do ponto de vista social, não tenha ainda sido concretizada pelo atual executivo municipal”.

 

Como pior, refere as acessibilidades ao concelho (rodoviárias e ferroviárias), bem como o aeroporto. “A situação ambiental e social decorrente da proliferação das culturas intensivas também apresentou aspetos muito negativos não apenas no que se refere à biodiversidade e ao uso da água e dos solos, mas também nos aspetos sociais”, nomeadamente, o tratamento dos trabalhadores imigrantes, abusos na localização de fileiras de culturas muito próximo das populações e, igualmente, na “preservação do património natural e cultural”.

 

No entanto, considera que o pior foi a política cultural, ou, “melhor dizendo, a ausência de uma política cultural, que se traduziu, por exemplo, no esvaziamento das atividades da Casa da Cultura, no desaparecimento de iniciativas como as Palavras Andarilhas ou na falta de apoio aos criadores culturais do Concelho”.

 

VOTAR COMO E PORQUÊ?

O advogado Casimiro Heitor, acusa a CDU, que “presidiu aos destinos da câmara municipal, só interrompido entre 2009 e 2013 e no último mandato de Paulo Arsénio, entre 2017 e 2021”, de ser responsável por Beja “ser hoje das cidades menos desenvolvidas e mais carenciadas do País”.

 

O mandatário do PS diz que o município, “durante décadas, não soube aproveitar” os fundos comunitários. E concretiza: “Enquanto, aqui bem perto, se construíram piscinas cobertas de qualidade, em Beja construiu-se uma piscina coberta ao nível de uma aldeia, sem desprimor para as aldeias; “enquanto, aqui bem perto, se construíram pavilhões gimnodesportivos de qualidade, em Beja nenhum equipamento semelhante foi construído”.

 

Para o mandatário da lista socialista, admitindo que “qualquer candidatura” defende o mesmo, é “fundamental a fixação de jovens no concelho” e por duas razões de fundo: a falta de “condições para a fixação de empresas”, situação pela qual responsabiliza a CDU “porque diaboliza as empresas e os empresários” e porque “sem empresas não há emprego” e “sem emprego não é possível fixar população”.

 

“A outra razão que leva à fuga dos jovens tem a ver com o preço exorbitante das habitações” e, também aqui, acusa “os autarcas da CDU” por “durante décadas” terem aí encontrado “uma fonte de financiamento para a autarquia”, lançando no mercado “poucos lotes de terreno em exclusividade, para moradias unifamiliares ou para construção de blocos de apartamentos”, inflacionando assim os preços devido à carência de oferta, o mesmo se passando nos “lotes do parque industrial”.

 

Mas também o PSD é alvo de críticas do mandatário do PS. “O PSD, por mera estratégia partidária, porque não queria alinhar com o PS, abstinha-se e, desta forma, permitia que a estratégia da CDU vingasse. A posição do PSD ficou conhecida como a aliança vodka/laranja”.

Por estas razões, defende Casimiro Heitor, “a escolha só pode recair” na lista de Paulo Arsénio, uma candidatura que “permitirá aproveitar as potencialidades do Aeroporto de Beja” na manutenção de aeronaves; na criação de um ‘hub’ de carga; e, por último, o “facto de Beja se situar na ponta sul da Europa o que coloca o aeroporto de Beja no centro do mundo, porta de ligação a vários continentes – América, Ásia e África”, potenciando a sua “articulação com projetos âncora como o Alqueva ou o complexo portuário, industrial e logístico de Sines”.

 

“Só a candidatura Sentir Beja aproveitará todas as oportunidades, porque os seus autarcas já provaram, durante o último mandato, que são capazes de construir o presente, perspetivando o futuro”, sublinha.

 

Por seu lado, João Dias, mandatário da candidatura de Vítor Picado, considera que “a CDU é comprovadamente um amplo espaço de participação unitária, gente que independentemente da sua formação, conhecem como a palma da sua mão os territórios onde vivem, as preocupações da população e que defende e privilegia o diálogo e participação das populações, do movimento associativo e de outras forças sociais”.

 

No entanto, diz que “muito do que faz falta em Beja e no distrito é da responsabilidade do Governo” e, por isso, considera “importante” que a capital do distrito “volte a ser uma voz ativa na exigência e que não se cale” perante o poder central, nomeadamente, em relação às “acessibilidades rodoviárias e ferroviárias e à eletrificação e modernização de toda a Linha do Alentejo, entre Casa Branca, Beja e Ourique para transporte de passageiros e mercadorias e à conclusão das obras do IP8 indicadas em 2009 e paradas desde 2012”.

 

O mandatário da lista da CDU diz que o voto no candidato da coligação permitirá a Beja “não continuar a ser o parente pobre das políticas de governos que não querem saber de quem cá vive”; “porque Beja pode e deve ser um grande centro de produção, transformação e distribuição agroindustrial do País”.

 

Filipe Pombeiro defende o voto em Nuno Palma Ferro porque acredita “nas qualidades humanas e pessoais” do candidato da lista liderada pelo PSD e porque lhe reconhece “as competências necessárias para ser um excelente presidente de câmara”. Acresce que “se constituiu uma equipa forte, com competências específicas em várias áreas, desde a economia e desenvolvimento regional, ao ordenamento do território, à saúde, à cultura, à educação, que me dá todas as garantias para um projeto a longo prazo”.

 

O mandatário da lista teve a oportunidade “de participar nas propostas, que atempadamente serão apresentadas” e diz rever-se “em todas elas”, para além de ser “uma candidatura com muitos jovens e preocupada com o futuro” e apresentam “uma ideia nova para a cidade, de desenvolvimento, de prosperidade, moderna, atrativa e próxima dos cidadãos” e que preparará a cidade “para as exigências dos próximos 50 anos”.

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