VISÃO DE UMA PAISAGEM LUNAR
Um “pequenino” alojamento local transformou-se num projeto ambicioso: o Reserva Alecrim Eco Suites & Glamping Boutique Resort é o primeiro “glamping boutique resort” da costa alentejana. Tiago Ferreira e Mário Barbosa adquiriram o espaço em 2018, e logo começaram a desenvolvê-lo no sentido de criar uma marca de excelência, “com um conceito muito ligado à natureza, que pretendia ser uma alternativa” a tudo o que havia. “Queríamos uma marca diferenciadora, por isso fomos em busca de conceitos diferenciadores”, explica Tiago Ferreira. Começaram com seis casas de madeira e, depois, lançaram-se no conceito inovador de ‘glamping’. Em 2019, equiparam a propriedade com alguns ‘domes’.
O coproprietário conta que os primeiros tempos não foram fáceis a nível de mercado interno, porque os portugueses estavam muito virados para o turismo tradicional, de massas. O conceito de campismo com ‘glamour’ praticamente não era conhecido e havia pouquíssima oferta em todo o País. “Para além de criarmos a nossa marca e espaço, tentámos impulsionar o conceito”, observa.
Até 2020, o ‘glamping’ da Reserva Alecrim pode contar quase exclusivamente com o mercado francês, espanhol e holandês. Mas a pandemia de covid-19 veio redesenhar o panorama, sendo necessário inventar novas estratégias. “Com as fronteiras fechadas,” a marca teve que “reinventar a forma de comunicar, nomeadamente para chegar aos portugueses”. Explica Tiago Ferreira: “O Alentejo cresceu imenso só por si, e nós beneficiámos desse crescimento e dessa procura por áreas mais rurais. O nosso espaço, por coincidência, estava adequado às regras de combate à pandemia, que ainda hoje se mantém, tais como o distanciamento físico e ter espaço abertos”.
Tendo deixado a área financeira, com empresa própria montada, para se dedicar ao turismo, o empresário explica que os pequenos-almoços, preparados com produtos locais, são fornecidos em cestas tradicionais individuais em cada “casa”. A reserva também não tem corredores, e as piscinas têm pontões individuais, não se prevendo a partilha de cadeiras e espreguiçadeiras. “O nosso conceito de restauração também é de comida ligeira, muito ao ar livre”, acrescenta. Passa-se tudo no exterior, nos jardins e junto às lagoas.
Visto de cima, a zona dos ‘domes’ lembra uma paisagem lunar (ver foto de capa) pois estão suspensos em plataformas, algumas a cinco metros do chão. São os primeiros da Costa Alentejana, havendo também pouquíssimos no território nacional.
O Glamping Boutique Resort de Santiago do Cacém tem 11 ‘domes’, de diferentes estilos: uns mais íntimos, “perfeitos” para o romance; outros direcionados para famílias de quatro pessoas ou grupos de amigos. Têm cozinha equipada, casa de banho, lareira, e alguns têm pátio com cadeirões e mesa. Vai mudando o espaço e os pormenores. Os ‘panoramic’, por exemplo, têm uma janela panorâmica, verdadeira bênção em noites estreladas e de lua cheia.
De acordo com Tiago Ferreira, este tipo de campismo é “tendencialmente” procurado por um público jovem. “São sobretudo casais, provavelmente porque a experiência tem o seu ar romântico. Mas também há cada vez mais casais com filhos, que desejam proporcionar aos miúdos algo diferente e inusitado”. Os primeiros preferem a estação baixa; os segundos, o verão. Em ambos os casos são estadias por períodos muito curtos, um fim de semana, no máximo três dias. “Mais tempo seria naturalmente cansativo. O ‘glamping’ é experimental, não é para uma rotina”, defende.
Os caminhos dentro da propriedade são rurais, “fugindo à alvenaria e ao cimento”, mantendo-se o mais ecológico possível. Dentro deste conceito, há uma piscina biológica – uma das primeiras do País. “São verdadeiros ecossistemas”, refere Tiago Ferreira, explicando que a manutenção da água é feita de forma natural, “regenerada pelas plantas e pelos animais”.
Por aqui, a lista das atividades propostas aos clientes é enorme. Algumas visam dar a conhecer os negócios locais: restauração, atividades, artistas. “Privilegiamos muito o Alentejo”, diz Tiago Ferreira, dando conta de um projeto de produção de pequenos vídeos para mostrar o que se faz em redor – a série chama-se “Os Vizinhos da Reserva”. A que se somam sugestões de passeios a pé e a cavalo, observação das estrelas e de aves e passeios de barco, prática de ‘surf’ ou visitas ao castelo de Santiago do Cacém.
SOSSEGO ENTRE SOBREIROS E OLIVEIRAS
Mais a sul, a Figueirinha Ecoturismo, em Vila Nova de Milfontes, é também um lugar de referência neste tipo de campismo, para uma experiência, garantem, “mais próxima da natureza”. A procura da sustentabilidade é um trabalho em curso, neste local: tem piscina biológica (dois terços estão dedicados às plantas), na horta as culturas para consumo da casa são feitas sem recurso a produtos químicos e a compostagem e o uso da e energia solar são “práticas comuns de respeito pela terra e de defesa do ambiente”.
A propriedade está encaixada num vale de sobreiros e de oliveiras, onde o canto dos pássaros se eleva e os aromas da vegetação acariciam os sentidos. As propostas são quatro tipos de tendas: “Kanimambo” é o nome da ‘safari’, da África do Sul, com cama de casal, cozinha e casa de banho, que se destaca pelos materiais naturais utilizados na mobília e na decoração: a cama de paletes com cabeceira decorada com ramos secos, o cocho de cortiça transformado em lavatório; “Há-Wena”, uma tenda oriunda dos Estados Unidos da América com janelas no topo para observação das estrelas – a sombra de um sobreiro refresca naturalmente o alojamento durante o dia; “Maningue nice”, cujo chuveiro é um assador de castanhas. E “Hambanine, uma tenda também oriunda da África do Sul, montada numa plataforma de madeira no meio de uma colina com vista sobre o vale. E nas sugestões de atividades, há um convite claro a sentir o vibrar da terra: rotas pedestres pela Rota Vicentina, passeios a cavalo ou de bicicleta, observação de aves e exploração de caminhos na serra ou na planície.
PROMOVER A ECONOMIA LOCAL
De acordo com a Glamping Hub, a plataforma líder de reservas ‘online’ para alojamentos em tendas ‘tipis’, ‘yurts’, ‘safaris’, entre outros, existem 33 locais para experienciar este tipo de acomodação no distrito de Beja. Não é possível apurar o número em toda a costa alentejana, mas, seguramente, será superior. Hoje o ‘glamping’ é uma moda que, quando bem estruturado, ajuda a promover políticas de sustentabilidade dos locais que o promovem, bem como a economia local. No Baixo Alentejo, Cuba vai ser o próximo concelho a ter um ‘glamping’, projeto de 500 mil euros que, segundo o presidente da Câmara, João Português, representa “um investimento extremamente interessante para dinamizar a economia” do concelho.