O responsável da Direção da Organização Regional de Beja do PCP considera que o distrito apresenta “uma assustadora falta de estratégia e de planeamento”, advertindo ser necessário construir políticas para que se consiga inverter a “desastrosa tendência” de perda de população no território. João Pauzinho acusa os responsáveis pelos municípios socialistas, na região, de atuarem de forma demagógica, sendo incapazes de reivindicar, junto do Governo, os “interesses reais das populações e da região”.
Texto José Serrano
Que retrato, atual, faz do distrito de Beja?
É um distrito que tem das maiores potencialidades para responder ao défice alimentar do País, entre outras vertentes, mas que está a tornar-se, de forma excessiva e sem preocupações visíveis a todos os níveis de responsabilidade, num beco sem saída futura, quer no plano da economia, quer nos efeitos na saúde e na alteração radical da imagem. O distrito tem, porque assim se tem deixado levar, uma assustadora falta de estratégia e de planeamento, com a quebra de expectativas para investidores, e uma passividade inqualificável na falta de resposta em investimento público.
Como classifica, de forma global, a mudança operada no distrito de Beja, nos últimos quatro anos, consequente do exercício dos mandatos eleitorais autárquicos, iniciados em 2017?
Os mandatos eleitorais não são separáveis das maiorias e das suas opções e responsabilidades. Contrariamente ao que verificamos onde existem maiorias CDU, os municípios atualmente de maioria PS, no que respeita à defesa dos seus territórios, dos interesses reais das populações e da região, atuam confortados nas suas maiorias, obtidas há quatro anos, sem políticas definidas e auditadas pelas populações, sendo em geral dominante muita demagogia, preconceito e abuso do poder, não representando, efetivamente, uma capacidade de reivindicação junto do Governo e da Administração Pública, como tantas vezes apregoam. Portanto, é duvidosa a afirmação colocada de que terá existido, globalmente, uma mudança operada no distrito.
Os dados preliminares dos Censos 2021, recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam que o Alentejo é a região do País que regista o decréscimo de população mais expressivo (6,9 por cento), com a capital do Baixo Alentejo, Beja, a registar um decréscimo percentual idêntico (- 6,8 por cento). O que representam, politicamente, estes indicadores?
Os indicadores são, na verdade, transversais a todo o interior e, naturalmente, ao distrito, existindo um País completamente desordenado e desequilibrado, com prejuízo para todo o território nacional e para as suas populações. As pessoas precisam de soluções, emprego e qualidade de vida para se manterem ou regressarem às suas terras. Alguém, de bom senso e responsável, vislumbra políticas que alterem tal situação? Nós, infelizmente, não vemos! Efetivamente, os principais indicadores destes Censos 2021 deveriam envergonhar políticos, a nível nacional e com responsabilidades governativas nos últimos anos, no que se refere a um País a muitas velocidades.
Que medidas são necessárias tomar, no seu entender, para que no próximo Censos, em 2031, os números demográficos, no distrito de Beja, sejam, efetivamente, mais animadores?
Precisamos de um efetivo plano estratégico de desenvolvimento sustentável. Precisamos da diversificação da produção. Precisamos de um esforço generalizado nas respostas aos serviços públicos. Precisamos que a região seja promovida, no País e no estrangeiro, com base na sua geografia, paisagem, cultura, no seu património e nas potencialidades de investimento, com desenvolvimento para todos. Acreditamos que o Alentejo tem futuro e trabalhamos, sempre, com propostas para que seja possível inverter esta desastrosa tendência demográfica.
Considera que as várias forças partidárias do distrito deveriam assumir, ainda que divergentes nas suas visões políticas, uma estratégia concertada, de valorização e desenvolvimento do território, ou encara esse entendimento inviável?
Ao longo de décadas foi possível reunir alguns consensos que integraram a generalidade das nossas instituições e populações, sobre investimentos no plano rodoviário, ferroviário, do aeroporto, preocupações ambientais e da necessidade de investimento público e privado, em áreas diversas. Ainda assim, lamentavelmente, tal parece não ter sido suficiente, pois os Governos até hoje (PS, PSD/CDS), porque talvez a região deixasse de ser uma prioridade, não atenderam ao fundamental de tais preocupações. Nós nunca colocámos barreiras na defesa dos interesses da região e das suas populações.
De que forma classifica a “preocupação” com que o poder central, através dos seus vários Governos, tem olhado para o distrito de Beja?
O problema é esse mesmo: não existe essa preocupação. Julgamos que o nosso vasto território não é, nem integra, uma prioridade nacional para os Governos, até agora. Não deixa de ser hipócrita que, agora e em outros atos eleitorais, ministros e muitos outros responsáveis afirmem o que afirmam quando por cá passam, naturalmente com uma agenda própria e partidarizada, com vista às eleições. É que quando dizem que vão de cá com o “peito cheio”, como que deslumbrados pelo que viram, é caso para perguntar: viram eles o que nós cá não vemos?
Quais as principais questões que deverão merecer a atenção dos presidentes de câmara, que serão eleitos a 26 de setembro, em prol dos seus concelhos e do distrito de Beja?
Cada concelho tem os seus problemas e o distrito, transversalmente, tem problemas cuja não solução afeta a generalidade dos concelhos. Existem responsabilidades locais e nacionais e os eleitos locais devem procurar, prioritariamente, cumprir com as suas responsabilidade e competências. Os municípios e as freguesias não podem aceitar tudo aquilo a que os Governos e a administração pública central não têm conseguido dar resposta, passando o ónus da culpa para as autarquias. O exemplo das chamadas transferências de competências é isso mesmo. Valeria a pena verificar como é que os concelhos que as aceitaram responderam.
“TEMOS O OBJETIVO DE RECUPERAR AUTARQUIAS”
O que considera ser, para o seu partido, um bom resultado eleitoral autárquico, no distrito de Beja?
Um reforço geral de votos, mandatos e posições, recuperando uma maior influência política, para entregar às populações, como retorno, uma capacidade de realização maior, com trabalho honestidade e competência. Claro que existem objetivos de recuperar autarquias, onde já tivemos maiorias da CDU, há quatro e há mais anos.