Diário do Alentejo

Só tratamento inovador pode ajudar rapaz de 4 anos

22 de julho 2021 - 11:20

Tratamentos intensivos e terapia têm estado a resultar, mas as despesas são muitas e a família apela à solidariedade para que Gonçalo Cordeiro “possa ser um pouco mais autónomo”. Nascido há quatro anos, sofre de uma doença rara ainda não diagnosticada.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Gonçalo Cordeiro nasceu a 2 de janeiro de 2018, de cesariana, no hospital de Beja, após lhe ser detetada uma frequência cardíaca preocupante. Passou os primeiros dias de vida no serviço de neonatologia, numa incubadora, e, após um episódio de convulsão, foi transferido para o hospital de Dona Estefânia, com um prognóstico de sobrevivência muito reservado. Realizou vários exames, uns despistaram patologias, outros detetaram-lhe algumas carências, mas nenhum explicou as descidas de saturação de oxigénio e de frequência cardíaca que aconteciam constantemente.

 

O caso foi noticiado pelo “DA” em agosto de 2020. Aos 31 meses, altura da reportagem, ainda não tinha um diagnóstico da doença, não se sentava, não andava, não falava e não comia pela boca. Por essa altura, os pais “desencantaram” uma janela de esperança para a melhoria do filho. “É um programa com dois métodos: o ‘pediasuit’ e o ‘padovan’, mais a terapia da fala. Este tratamento consiste em melhorar a condição física motora, a sua postura e promover que tenha a possibilidade de gatinhar e vir a andar”, explicou a mãe, Rute Caleiro, no final do primeiro dos três tratamentos intensivos.

 

Volvidos 10 meses, o diagnóstico da doença ainda continua por encontrar, mas a sua persistência e resiliência de Gonçalo Cordeiro, agora com quatro anos, aliadas às terapias, vão-lhe transformando a vida, a pouco e pouco. “Verificamos um Gonçalinho mais desenvolvido e com iniciativa para querer fazer mais, para trabalhar mais”. Um esforço que começa a dar os seus frutos.

 

“Iniciamos estes tratamentos há precisamente um ano. Há um ano, o Gonçalinho não se sentava, hoje já se senta. O Gonçalinho não mandava beijinhos e hoje já o faz. Sabe pedir o que quer através de gestos, tem uma força de vontade incrível. Se já antes tínhamos a convicção de que ia conseguir andar e conseguir ser um pouco mais autónomo, hoje temos a certeza. Embora ainda não coma pela boca, porque em termos de saúde ainda não é seguro, já tem uma abertura de boca muito melhor e tem o incentivo de levar os alimentos à boca”, acrescenta Rute Caleiro. “Agora”, prossegue, “tem de aprender a deglutir, o que será sempre um processo muito longo. O controlo da cervical está muito melhor, a cabeça já a controla e consegue ter uma postura muito mais reta. Ainda falta adquirir muita força no tronco e toda a zona posterior, porque ele ainda não tem a força e coordenação suficientes para se aguentar e suportar o peso do corpo. Temos muito trabalho ainda pela frente para que consiga adquirir o controlo total”.

 

Esse trabalho, sublinha a mãe, traduz-se em múltiplos tratamentos, quase sempre em instituições de saúde privadas e suportados pela família. “Os tratamentos intensivos são realizados de cinco em cinco meses e têm um valor de oito mil euros, cada um. Somos também seguidos através da intervenção precoce, com uma sessão semanal de terapia da fala e outra de fisioterapia. Tudo o resto é feito no privado: duas sessões de fisioterapia, duas sessões de terapia ocupacional, duas sessões terapia da fala e uma sessão de hipoterapia, tudo com uma periodicidade semanal”.

 

Segundo revela, trata-se de um “apertado” plano terapêutico, que é preciso seguir para que “não existam regressões” na evolução do estado de saúde. “Não pode parar. Por isso, todas as semanas, em Beja, tem as terapias de manutenção, que equivalem a um valor mensal de cerca de 830 euros”. Concluída uma etapa, mas com muitas outras ainda por percorrer, o foco seguinte e mais persistente passa pelo “controlo da cervical”, até que Gonçalo Cordeiro consiga “ganhar a força suficiente para suportar o peso do corpo” pois “só com esse controlo é que podemos apostar no andar e numa maior autonomia”.

 

O próximo tratamento intensivo está marcado para uma clínica privada, em Braga, nos próximos meses de novembro e dezembro. Para que possa ser uma realidade, e a exemplo do que sucedeu com os anteriores, a família continua a contar, essencialmente, com a ajuda e generosidade da população. “Temos solicitado outras ajudas, mas o maior apoio é da população que nos ajuda com as tampinhas e com algum apoio monetário, que nos tem sido bastante importante. As tampinhas de plástico e as caricas de metal, são fundamentais e podem ser deixadas nos nossos pontos de recolha, como nos bombeiros de Beja e em outros pontos espalhados pelo País”, refere a mãe, apelando à solidariedade das empresas e instituições locais: “É muito dinheiro e nós não conseguimos suportar todas essas despesas com os nossos rendimentos. Ficamos gratos com tudo o que nos chegar. O nosso menino é tudo e por ele não podemos parar”.

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